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Vale (VALE3): apesar de desafios, dividendos podem chegar a 14% em 2024

Confira quanto os analistas esperam que a empresa pague neste ano, os preços-alvo e os riscos em torno da mineradora

Vale (VALE3): apesar de desafios, dividendos podem chegar a 14% em 2024
(Imagem: Chalabala em Adobe Stock)
  • Apesar dos desafios relacionados ao preço do minério de ferro, desaceleração da China e provisionamento diante dos desastres ambientais de Mariana e Brumadinho, os analistas esperam que o caixa da Vale (VALE3) permaneça robusto em 2024;
  • Aparentemente os dividendos robustos da Vale ainda não chegaram no final do seu ciclo e, embora possam ser menores nos próximos 2 a 5 anos, ainda podem ser representativos se comparados com outras empresas da bolsa de valores;
  • Junto ao seu balanço do 4° trimestre de 2023, a Vale anunciou uma distribuição de dividendos de R$ 2,74 por ação – referentes aos resultados de 2023.

A Vale (VALE3) está aprendendo a dançar no meio de uma tempestade perfeita. Apesar dos desafios relacionados ao preço do minério de ferro, desaceleração da China e provisionamento diante dos desastres ambientais de Mariana-MG e Brumadinho-MG, os analistas esperam que o caixa da companhia permaneça robusto em 2024 e com dividendos que, no cenário mais otimista, poderiam chegar ao patamar de 14%.

A mineradora apresentou lucro líquido de US$ 2,418 bilhões no quarto trimestre de 2023. A queda anual foi de 35,1% em comparação a igual período de 2022, quando o lucro registrado foi de US$ 3,724 bilhões.  Em relação ao terceiro trimestre de 2023, o lucro saltou 14,7%.

Segundo os agentes de mercado, aparentemente os dividendos robustos da Vale ainda não chegaram no final do seu ciclo e, embora possam ser menores nos próximos dois a cinco anos, ainda podem ser representativos se comparados com outras empresas da Bolsa de Valores.

Confira a seguir os principais desafios da companhia e como eles podem ter um impacto nos proventos da mineradora:

Impactos do minério e da China nos dividendos da Vale

Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, acredita em um cenário de estabilidade para o minério de ferro em 2024, superior a US$ 100 a tonelada. Ele destaca que a commodity tem se mantido em um patamar atrativo mesmo diante das dificuldades macroeconômicas da China, o que reforça o posicionamento de que a Vale e as mineradoras australianas ainda têm um poder muito forte para controlar a oferta de minério no mercado.

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“Essa capacidade de mobilidade das empresas faz com que esses choques de demanda não afetem tanto o seu nível de rentabilidade por meio do preço do minério de ferro”, observa. Para Paletta, o cenário para o minério de ferro só poderia complicar se a desaceleração da China se prolongar por muito tempo. “Aí seria possível acreditar em uma queda da commodity”, pontua.

Marco Saravalle, analista CNPI-P,  sócio-fundador da Sara Invest e colunista do E-Investidor, defende que o minério não deve apresentar uma supervalorização nem uma forte queda em 2024. Contudo, destaca que a partir do segundo semestre, se a desaceleração do país asiático persistir, a queda no preço da commodity pode ocorrer gradualmente. “Mas a princípio não vemos a commodity despencando”, diz. O preço do minério tem um impacto direto na lucratividade da companhia e, por sua vez, na remuneração dos acionistas.

Em paralelo, não é um mistério que a situação na China não está favorável, o que pode acabar pressionando os dividendos da Vale no médio prazo. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, explica que já há algum tempo as construções de novas casas diminuem no país asiático. O investimento em imóveis, que era visto no passado como uma forma de poupança entre os chineses, está perdendo essa característica.

“Desde o segundo semestre de 2023, o preço dos imóveis novos está caindo. O investimento direto do governo também recua, porque ele vem fazendo um esforço grande para a economia chinesa passar a depender mais do terceiro setor”, afirma o analista.

O conflito disso é que embora o preço do minério de ferro ainda esteja elevado, pode se normalizar ao longo do ano se essa situação de desaceleração da economia chinesa continuar. “A China é responsável por 45% das receitas da Vale, então existe uma relação direta”, aponta. Para Arbetman, uma China inexoravelmente fraca se traduz em empresas que dependem do país asiático fracas também.

Paletta reforça que se o cenário de desaceleração na China se prolongar por muito tempo, mesmo que as mineradoras tenham uma capacidade de mobilizar a oferta, não conseguiriam conter os preços do minério no médio e no longo prazos. “Isso pode prejudicar a Vale no médio prazo, se a China piorar muito o cenário que apresenta hoje”, destaca.

Desafio do provisionamentos para desastres

A necessidade de elevar em 2024 o provisionamento em função dos desastres de Mariana e Brumadinho deve ser a principal ameaça para os dividendos da Vale, segundo os agentes de mercado. A companhia deve evitar fazer distribuições extraordinárias enquanto não tiver essa situação bem equacionada, observam os analistas.

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Em seu relatório do quarto trimestre de 2023, a Vale elevou em US$ 1,2 bilhão a provisão de recursos para a Fundação Renova, por conta das reparações relacionadas a barragem de Samarco, em Mariana. “A expectativa é que em 2024, o provisionamento possa alcançar US$ 4,5 bilhões, com os acréscimos”, avalia Paletta, da Monett.

Arbetman, da Ativa, destaca que a Vale e o governo de Minas Gerais chegaram a fazer um acordo de US$ 7,5 bilhões (R$ 37,6 bilhões) no passado em relação a Brumadinho. “Como o Rio Paraopeba possui um ecossistema mais limitado, os impactos em Brumadinho são mais calculáveis”, aponta.

O conflito, segundo Arbetman, estaria na necessidade de provisionamento para Mariana por conta do Rio Doce, que era fonte de recursos para muita gente na região. “Há uma dificuldade muito grande de mensurar os danos. Tem uma ação no Ministério Público que definiu o valor de R$ 49 bilhões, que não se sabe se pode ser ajustado pela Selic, o que tornaria o valor maior”, explica.

O analista destaca também um acordo em Londres, de R$ 230 bilhões, que poderia ser dividido entre Vale e BHP, restando um desembolso de R$ 115 bilhões para a mineradora. “O provisionamento para Mariana está em cerca de R$ 20 bilhões, então teria que ser feito um ajuste gigante. Enquanto a Vale não tiver certeza neste ponto, será mais comedida nos dividendos”, pontua Arbetman.

Para Saravalle, as provisões ainda terão uma forte pressão sobre os dividendos em 2024. “Isso acaba impactando negativamente as projeções de lucro, a geração de caixa e, consequentemente, os dividendos”, reforça.

Definição na governança na Vale

Embora a definição de um novo CEO da companhia não tenha um impacto direto nas questões de uso de caixa, os analistas observam que pode ter efeitos indiretos no médio prazo.

Além de gerar incerteza e pesar no desempenho das ações da mineradora na Bolsa, Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, observa que tudo vai depender da estratégia que o comandante implantará na empresa. “Se porventura encontrar novas oportunidades de investimento que precisem de maior capex (uso de recursos na companhia), isso pode impactar o fluxo de caixa e, em consequência, os dividendos”, avalia.

Para Arbetman, mesmo que a indicação de Guido Mantega para CEO da Vale – que representaria forte intervenção do governo na companhia – tenha perdido força, o investidor deve ter em mente que a mineradora vem focando em reduzir seus ativos nos últimos cinco anos e uma mudança de gestão poderia impactar isso. “Se vier um CEO com cabeça expansiva isso pode ser ruim para a empresa e representar um risco para os dividendos”, destaca.

O que esperar dos dividendos em 2024

Mesmo com a ciclicidade da empresa, os analistas afirmam que ainda será possível esperar dividendos interessantes da Vale nos próximos anos. Saravalle projeta que o dividendo seja de 13% para 2024, já levando em conta uma possível queda gradual nos preços do minério de ferro. Para 2025, ele calcula um dividend yield (rendimento de dividendos) de 11%.

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“A Vale vai continuar entregando ótimos resultados e gerando muito caixa. Mesmo diante da expectativa de um minério de ferro menor nos próximos anos, ainda vai continuar com uma distribuição saudável, superior a 25% de payout (porcentagem de lucro líquido distribuído aos acionistas)”, afirma. Para Saravalle, as ações próximas ao preço de R$ 67 oferecem uma boa oportunidade de compra para garantir proventos.

Eurico Rodrigues, sócio e head de Ações da Desmistificando Research, espera que a Vale continue remunerando bem seus acionistas pelo menos nos próximos cinco anos, seja com dividendos seja com recompras de papéis. “Há uma clara diferença entre preço (que o mercado paga) e valor (que é o que deveria valer). Enquanto essa distorção não for corrigida, o acionista será muito bem remunerado”, afirma.

Rodrigues espera um dividend yield de 8% em 2024 para as ações VALE3, sem considerar as recompras. “Comprar a ação até R$ 77 poderia resultar em dividendos de pelo menos 7%”, acrescenta. Já se a Vale interrompesse seu programa de recompra de ações, poderia distribuir dividendos de 11,4% em 2024, com maior caixa disponível. O preço-teto de compra sugerido pela casa também é de R$ 77 neste cenário.

Duarte, da Ticker Research, projeta um dividend yield de entre 6% e 8%. O analista discorda de que 2024 possa ser o último ano de bons proventos da Vale. Ele lembra que a companhia sempre distribuiu dividendos, com exceção aos anos das tragédias de Mariana e Brumadinho. “É natural que os dividendos sejam reduzidos em momentos em que o mercado fica mais difícil, mas a cotação da ação acompanha essa redução, abrindo oportunidades de compra para quem olha os próximos ciclos”, defende. Para Duarte, o ideal seria comprar as ações até o preço de R$ 70.

Paletta, da Monett, acredita que se a Vale mantiver seu endividamento controlado ainda haverá capacidade de remunerar bem seus acionistas com proventos de dois dígitos nos próximos quatro ou cinco anos. Para 2024, o analista projeta um dividend yield de 10% no cenário mais conservador, podendo chegar a 14% de retorno em dividendos num contexto mais otimista. “Enxergo a Vale próxima dos R$ 90, então ainda tem um espaço grande para se valorizar. O investidor poderia comprar tranquilamente com uma margem de segurança até R$ 80”, destaca.

Arbetman espera que a Vale distribua dividendos de R$ 6,30 por ação em 2024, equivalente a um dividend yield de 9,4%. “Aos preços atuais, próximos de R$ 67 o dividend yield ainda é forte. Lembrando que a Vale também tem um programa de recompra de ações que é bom para o acionista”, observa. Contudo, o analista tem recomendação neutra para os papéis diante dos desafios da empresa.

Junto ao seu balanço do quarto trimestre de 2023, a Vale anunciou uma distribuição de dividendos de R$ 2,74 por ação – referentes aos resultados de 2023. O retorno deste pagamento corresponde a 4,1% de dividend yield. Terão direito aos proventos os acionistas com posição na mineradora até o dia 11 de março. O pagamento ocorrerá no dia 19 de março.

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