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Dólar dispara após falas de Haddad. O que esperar nos próximos dias?

Moeda norte-americana acumula alta de 8% sobre o real desde janeiro

Dólar dispara após falas de Haddad. O que esperar nos próximos dias?
Dólar estadunidense é a principal divisa do comércio exterior (Foto: Envato Elements)
  • Somente neste mês, a valorização da moeda é de 5%, enquanto no acumulado de 2024, o salto da divisa norte-americana chega a mais de 8% sobre o real
  • Por trás da disparada da moeda está uma “tempestade perfeita” de aversão a risco, agravada pelas últimas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT)
  • No cenário externo, a falta de visibilidade sobre o início dos cortes de juros nos Estados Unidos vem pressionando o dólar para cima desde o início do ano. A escalada dos conflitos armados no Oriente Médio também é um segundo fator que impulsiona a disparada da moeda

Até às 12h24 desta terça-feira (16), o dólar estava em alta de 1,65%, aos R$ 5,27 – o maior valor desde março do ano passado. Somente neste mês, a valorização da moeda é de 5%, enquanto no acumulado de 2024, o salto da divisa norte-americana chega a mais de 8% sobre o real. Por trás da disparada da moeda está uma “tempestade perfeita” de aversão a risco, agravada pelas últimas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

O líder da economia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou, na última segunda-feira (15), que a meta fiscal de superávit de 0,5% estabelecida para o ano que vem, não será atingida. Em vez disso, o Brasil deve ter déficit zero, mesma meta de 2024.

“Isso demonstra que o governo está com dificuldade de arrumar receita e tem aumentado a despesa. Isso traz um medo para o investidor estrangeiro, que aproveitando a onda de juros altos lá fora acaba encorajado a retirar cada vez mais dinheiro do Brasil. E quanto mais dinheiro é retirado daqui, maior fica o preço do dólar”, afirma Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos.

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O golpe final nas já desacreditadas metas do Arcabouço Fiscal não passou incólume pelos investidores e só adicionou mais risco à balança. Isto porque, no cenário externo, a conjuntura também propicia um ambiente de dólar mais alto.

Fuga para o dólar

A falta de visibilidade sobre o início dos cortes de juros nos Estados Unidos vem pressionando o dólar para cima desde o início do ano. Os dados americanos mais recentes de inflação e de emprego, referentes ao mês de março, mostraram que a economia do país ainda está resiliente e os preços continuam avançando acima das expectativas. A conclusão é que a persistência da inflação afasta, cada vez mais, a possibilidade de diminuição das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).

“Os dados econômicos vieram acima do esperado nos EUA e trouxeram uma expectativa tardia de redução de taxas de juros americana. A previsão seria de uma primeira redução em junho ou julho, que agora já se estende para setembro ou novembro de 2024”, afirma Anilson Moretti, sócio e head de câmbio da HCI Invest, que vê o dólar rompendo o patamar de R$ 5,25 no curto prazo.

Desde julho do ano passado, o país mantém os juros entre 5,25% e 5,5% ao ano, o maior patamar em quase 24 anos. Com a renda fixa mais segura do mundo oferecendo retornos maiores, os investidores estrangeiros tendem a tirar “dólares” de mercados mais voláteis, como o Brasil e demais nações emergentes, e migrar esse capital para os títulos do tesouro americano.

Entre o início de janeiro e a última quinta-feira (11), a Bolsa de Valores brasileira perdeu R$ 24,3 bilhões de investimento estrangeiro na esteira da renda fixa mais atrativa nos EUA. “Quando há perspectiva de manutenção da alta de juros americana, é natural a saída do capital externo para a maior economia do mundo. Isso acaba pressionando a moeda e faz com que o dólar suba”, afirma Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos. “A grande pergunta que o mercado se faz hoje é quando começa o ciclo de queda nos juros por lá.”

Essa também é a visão de Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad. “A interpretação é que o início do ciclo de redução nas taxas de juros ficou indeterminado e que muito provavelmente o orçamento de cortes será menor do que imaginávamos. Com isso, exagerando o argumento, a expressão consagrada em 2023 dos ‘juros mais altos por mais tempo’ corre os riscos de virar ‘juros mais altos para sempre'”, afirma.

Tempos de guerra aceleram alta do dólar

Os conflitos geopolíticos também ajudaram a acelerar a fuga para o dólar, que é considerado um “ativo de proteção” em momentos de crise. No último sábado (13), seis meses após o grupo radical Hamas realizar um ataque surpresa a Israel, o Irã bombardeou o Estado israelense. A insegurança trazida pela guerra foi sentida nos mercados, com a queda generalizada das criptomoedas após o anúncio da ofensiva e disparada de 1,24% do dólar sobre o real nesta segunda-feira (15).

Para o futuro, a trajetória do dólar deve depender do desenrolar, principalmente, dos dados econômicos nos EUA e dos conflitos no Oriente Médio. Os analistas observarão de perto a divulgação de indicadores americanos importantes, como o relatório do emprego (Payroll) e o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês).

A partir do momento em que a economia americana começar a dar sinais de fraqueza – ou seja, de que os juros altos estão esfriando o consumo e, consequentemente, trazendo um alívio para a inflação – o mercado deve começar a precificar uma queda das taxas americanas. “Aí o dólar obviamente vai perder um pouco de força porque o estrangeiro acaba voltando para o Brasil”, diz Boragini.

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A tensão geopolítica também fica como ponto de atenção. Uma escalada da guerra em Israel pode pressionar os preços do petróleo devido a possíveis dificuldades de produção. Com combustíveis mais caros, a inflação tende a subir no mundo – o que também gera, em uma segunda instância, uma corrida para o dólar. “Esperamos muita volatilidade para as próximas semanas”, afirma Boragini. “Por ora, o mercado está aliviado aí com os esforços das principais potências mundiais para evitar uma escalada dos conflitos no Oriente Médio.”

Um possível aumento da inflação no mundo provocada por uma alta do petróleo também pode impactar o ciclo de queda da taxa básica de juros no Brasil. Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano, mas a expectativa é que chegue até o fim do ano a 9% ao ano, segundo dados do Boletim Focus do Banco Central (BC).

“Apesar de mediana das expectativas dos economistas para a taxa Selic terminal ser de 9%, o mercado de juros futuros já precifica uma Selic final na casa de 10% a 10,25% ao ano”, pontua Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos. “Se o BC encerrar o ciclo com uma taxa Selic num patamar ainda bem restritivo, isso geraria efeitos negativos sobre o mercado de crédito e a atividade doméstica.”

Por que o dólar está subindo?

Segundo Guilherme Morais, analista da VG Research, há dois movimentos que envolvem ambas as moedas: a valorização do dólar em relação a várias outras divisas e a desvalorização do real decorrente do cenário interno. “O real tem tido uma das piores performances relativas no ano, com desvalorização maior do que a de diversas outras moedas, tais como o peso mexicano e as divisas de vários países asiáticos”, aponta.

As principais variáveis do dólar atualmente envolvem a escalada da guerra Entre Israel e o grupo Hamas na região do Oriente Médio, os juros dos EUA que demoram a cair e as discussões acerca da situação fiscal brasileira.

No que tange à guerra, investidores frequentemente buscam segurança financeira e transferem seus recursos para os EUA, que é considerado um refúgio econômico seguro. “Isso naturalmente fortalece o dólar frente às outras moedas e demonstra mais um vez o poderio da economia norte americana”, afirma Jonas Carvalho, CEO da Hike Capital.

Em relação aos juros norte-americanos, existe uma pergunta inquietante: quando eles vão baixar? Um juro alto na economia dos EUA – como o atual, entre 5,25% e 5,5% ao ano, um dos maiores patamares em décadas – provoca um movimento natural de maior entrada de dinheiro no país, justamente para se beneficiar da renda fixa americana a taxas atrativas. No entanto, para realizar as operações no mercado dos EUA, os investidores que operam no Brasil precisam comprar dólares, o que aumenta a demanda pela moeda e faz pressão por alta no preço.

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E por fim, o próprio Brasil importa. As mudanças relativas à austeridade nos gastos e controle orçamentário, como confirmado nesta semana pelo governo em relação ao arcabouço fiscal, demonstra instabilidade aos investidores estrangeiros, o que causa uma fuga de capital para o exterior e, consequentemente, desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar.

3 investimentos atrelados ao dólar para você investir

Os investimentos em dólar podem potencializar os retornos e atender a diversos tipos de perfis de investidor. Para quem quiser aproveitar esse momento de alta da moeda, existem possibilidades de investimentos em renda variável e renda fixa em vários segmentos. Confira algumas opções:

Real Estate Investment Trusts (REITs)

Uma das opções em renda variável são os REITs, sigla para Real Estate Investment Trusts. Estes são ativos imobiliários, assim como os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) no Brasil. Eles se diferenciam dos fundos porque funcionam como empresas, precisando, assim ter um conselho de administração e um CEO.

Esses ativos podem se alavancar via crédito bancário e distribuem 90% de seu caixa aos investidores. Vale lembrar que, nos EUA, os dividendos são tributados. No país, o rendimento (yield) é menor e a maioria dos fundos remuneram a cada três meses. O mais comum é encontrar REITs que pagam dividendos trimestralmente, mas também é possível encontrar opções que paguem mensal e semestralmente.

Você pode ler mais sobre os REITs e as diferenças em comparação aos FIIs nesta reportagem.

Ações listadas nos EUA

Para quem quem busca exposição ao dólar, a compra de ações de empresas listadas na bolsa dos EUA pode ser uma boa opção.

Conforme afirmaram analistas da Empiricus Gestão nesta reportagem, empresas de tecnologia apresentam inovação e são boas oportunidades para lucrar. Para João Piccioni, a Amazon (AMZN) e a Meta (META) são as melhores big techs para o investidor ter em sua carteira, tanto sob a ótica do desempenho corporativo quanto sob a ótica de crescimento.

Já Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, recomenda compra das ações da Apple (AAPL), já que a empresa possui um histórico de “forte retorno financeiro” para os seus acionistas.

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Lima também cita a dona do Google, a Alphabet (GOOGL). Segundo ele, esta é uma das companhias mais influentes em tecnologia e publicidade digital, com diversificação de negócios e crescimento constante, o que torna o papel uma opção interessante.

Treasuries e bonds corporativos

No mercado dos EUA, o investidor tem a opção de investir em títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries) ou bonds corporativos (título de renda fixa negociado no exterior).

Segundo informações da B3, os Treasuries funcionam como os títulos do Tesouro Direto brasileiro, em que o investidor empresta dinheiro para o governo. Os juros que esse título remunera, também chamado de cupons, são pagos semestralmente.

Já nos bonds corporativos, existem diferentes prazos para pagamento, dependendo do título e do emissor.

* Colaborou Cecília Mayrink

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