- Para tentar prever as variações da moeda norte-americana, é importante observar alguns fatores-chave. A aceleração da vacinação no Brasil, o avanço do controle das contas públicas e a continuidade do aumento de juros da taxa básica são fatores que contribuem para segurar a alta do dólar
- Uma das formas de investimento oferecidas pela Bolsa de Valores (B3) são os investimentos com o dólar futuro, uma forma de negociação em que compradores e vendedores fecham um contrato de uma quantidade de dólares a um preço acordado no presente com o vencimento em data futura
(Aléxis Cerqueira Góis, especial para o E-Investidor) – O dólar tem influência direta na economia mundial, por isso a compreensão dos fatores que impactam a cotação da moeda ajuda investidores a tomarem decisões mais seguras em curto, médio e longo prazos. Mas nem sempre é fácil entender os motivos das altas e das baixas da variação cambial.
Leia também
O comportamento da moeda norte-americana pode estimular a inflação, contribuindo para a elevação de itens que vão de carne a passagens aéreas. Além disso, as variações do dólar podem pressionar o mercado de ações, o Ibovespa e as contas públicas.
Com o início da pandemia em 2020, a moeda saltou de R$ 4 e se aproximou de R$ 6. A valorização do dólar foi sentida por toda a economia brasileira e contribuiu para uma inflação de 14,09% em alimentos e bebidas, na maior alta registrada nas últimas duas décadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Publicidade
O real desvalorizado reverteu uma tendência de redução do superávit da balança comercial iniciada a partir de 2018. A moeda norte-americana mais cara desestimulou as importações e tornou as exportações mais atrativas para o agronegócio e para a indústria nacional. Em 2020, as vendas externas foram US$ 51 bilhões maiores que as compras no exterior.
Por que o dólar subiu tanto?
O poder de uma moeda está ligado à confiabilidade na economia de seu país. Os Estados Unidos são a maior potência econômica mundial, por isso o dólar apresenta maior estabilidade, sendo considerado padrão para a formação de reservas monetárias e nas relações comerciais em todo o mundo.
Qualquer cenário de crise, com sinal de instabilidade, faz que investidores migrem de aplicações financeiras mais arriscadas para mais seguras. Com a crise sanitária provocada pelo coronavírus, a moeda norte-americana teve maior demanda no mercado internacional, portanto se valorizou frente às demais.
No Brasil, a dificuldade no enfrentamento da pandemia gerou incertezas quanto à retomada econômica e elevou o risco-país, conceito que mede a confiança do investidor internacional. Em 2020, cerca de US$ 48 bilhões em investimentos estrangeiros deixaram o País, segundo estimativa do Institute of International Finance (IIF).
A variação cambial brasileira é flutuante, então um cenário de menor oferta e de maior procura pressiona a cotação para cima. Como a alta dólar influencia a economia nacional, o governo pode utilizar reservas internacionais para tentar segurar a elevação cambial. Mas nem isso foi o suficiente no ano passado.
Publicidade
Em abril de 2020, as reservas brasileiras registraram o menor patamar desde 2011, de acordo com o Banco Central, chegando a US$ 339 bilhões, enquanto em 2019 esse número foi de US$ 388 bilhões. Ainda assim, o real foi a moeda que teve maior desvalorização frente ao dólar no mundo.
Quando o dólar vai cair?
Apesar da grande valorização em 2020, o dólar apresentou retração no fim do ano passado, quando a cotação recuou para um patamar próximo de R$ 5. O cenário refletiu o otimismo do mercado em relação à retomada da economia mundial proporcionada pelo início da vacinação contra a covid-19.
Em 12 janeiro de 2021, a moeda norte-americana caiu 3,29%, na maior queda diária em dois anos e meio. O movimento foi impulsionado pela esperança de um novo pacote de estímulos para a economia dos EUA a ser lançado pela gestão de Joe Biden na presidência, o que pode garantir maior estabilidade global.
O aumento da taxa de juros básica do Brasil e a manutenção de uma taxa baixa nos EUA podem ajudar a valorizar o real porque os contratos de dívida pública são remunerados com base na taxa. Esse cenário estimula a retirada de investimentos da economia norte-americana para serem alocados em títulos brasileiros.
No Brasil, a taxa Selic, que estava em 2% ao ano, no menor patamar desde 1997, foi elevada para 2,75% e pode chegar a 5% em 2021, de acordo com estimativas do mercado. Enquanto isso, o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) sinalizou que a taxa básica continuará no patamar mínimo, entre 0% e 0,25%.
Publicidade
Mas isso não quer dizer que o dólar apresentará mais quedas. Para que a tendência de baixa ganhe força, é necessário que os investidores aumentem a confiança no Brasil, o que levaria a uma redução do risco-país. Entretanto, sinais de intervenção na economia e a dificuldade de conter a pandemia podem minar essa confiabilidade.
Aonde o dólar vai parar?
Para tentar prever as variações da moeda norte-americana, é importante observar alguns fatores-chave. A aceleração da vacinação no Brasil, o avanço do controle das contas públicas e a continuidade do aumento de juros da taxa básica são fatores que contribuem para segurar a alta do dólar.
Por outro lado, a expectativa de aceleração da inflação nos EUA pode levar a uma elevação dos títulos do Tesouro norte-americano, o que torna os títulos brasileiros menos atrativos para os investidores internacionais. Ao longo de 2021, a maioria dos especialistas do mercado aponta que o dólar deve flutuar entre R$ 5 e R$ 6. Um relatório do Bradesco projeta que o valor da moeda norte-americana deve ficar em torno de R$ 5,30.
O dólar futuro
Uma das formas de investimento oferecidas pela Bolsa de Valores (B3) são os investimentos com o dólar futuro, uma forma de negociação em que compradores e vendedores fecham um contrato de uma quantidade de dólares a um preço acordado no presente com o vencimento em data futura. Os compradores acreditam que o ativo irá se valorizar; já os vendedores confiam que o ativo será desvalorizado no dia do vencimento. Se no fim do contrato o dólar futuro estiver cotado acima do preço da negociação, quem compra é beneficiado; quando ocorre o inverso, o benefício passa a ser do vendedor.