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Dólar pode ir a R$ 7 se PT interferir no Banco Central, diz Stuhlberger, da Verde

Gestor comenta que o valor justo para a moeda americana em relação ao real seria entre R$ 5,20 e R$ 5,25; confira os principais pontos da entrevista

Dólar pode ir a R$ 7 se PT interferir no Banco Central, diz Stuhlberger, da Verde
Luis Stuhlberger, responsável pelo fundo multimercado Verde Asset Menagement (Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO)

A sucessão do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, é um fator que preocupa Luis Stuhlberger, da Verde Asset. Segundo ele, o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) vem acelerando os gastos públicos. Ao mesmo tempo, o BC vem mantendo os juros em um patamar elevado para fazer um contraponto e trazer o equilíbrio macroeconômico. Entretanto, o gestor comenta que, caso o próximo presidente da autarquia ceda às pressões do PT, os brasileiros sentirão saudades do dólar a R$ 5,60, pois a moeda pode caminhar para os R$ 7.

“O governo do PT quer sempre acelerar, vai até o limite. Só que isso obriga o BC a frear, e se perdermos esse equilíbrio, que é o que a ex-presidente Dilma Rousseff fez colocando o Alexandre Tombini [na presidência do BC], aí há um estrago. Se isso se repetir, garanto que a coisa de que você vai mais sentir falta é do tempo em que era possível comprar dólar a R$ 5,60, pois ele vai para R$ 7″, disse Stuhlberger em entrevista concedida ao Valor Econômico.

Embora ele acredite que uma intervenção do PT faça a moeda americana chegar a R$ 7, ele comenta que o valor justo do dólar em relação ao real deveria ser entre R$ 5,20 e R$ 5,25. Esse valor justo, nas condições atuais, implica em uma potencial queda entre 8% e 7,1% em comparação com o fechamento do dólar na última quarta-feira (24). O preço justo da moeda é considerado pelo gestor com base no prêmio de risco para investir no Brasil e na diferença entre a Selic e a taxa de juros dos Estados Unidos.

Stuhlberger diz o que vai afetar o dólar

Mesmo estimando uma queda para o dólar, o gestor detalhou algumas avaliações negativas sobre a postura fiscal do governo. Ele comenta que quando o governo enviou o Orçamento de 2025, ficou claro que o arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso no ano passado não seria cumprido. Ele disse ao Valor que o projeto apresenta previsões de arrecadação agressivas, despesas subestimadas e um Produto Interno Bruto (PIB) projetado de 2%.

Outro grande problema para Stuhlberger é o crescimento dos gastos previdenciários sociais, que ele vê como uma equação mal resolvida. Ele acredita que o número de pessoas recebendo benefícios do governo chega a 111 milhões. Ele estima que o volume total dos gastos do governo federal esteja em R$ 3,4 trilhões, cerca de 20% do PIB.

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Para o gestor da Verde, um dos grandes problemas são os R$ 500 bilhões gastos com Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Segundo Stuhlberger, o governo prometeu revisar os gastos com esses itens e cortar R$ 15 bilhões para aqueles que comentaram fraude para conseguir receber o benefício. Contudo, o corte, que ele considera pequeno, ainda não foi realizado, aumentando as preocupações e podendo impactar no câmbio.

“Quando somamos a previdência com toda a assistência social, esse número já chega a R$ 1,7 trilhão. E no próximo ano será ainda maior. Por isso, o mercado não se tranquiliza com um corte de R$ 15 bilhões, pois isso representa um aumento de R$ 200 bilhões por ano”, argumenta o gestor.

Onde Stuhlberger está investindo agora?

Na entrevista, o gestor disse se arrepender de ter acreditado que o PT seria responsável fiscalmente. Em meio a essas mudanças, ele comenta que fez alguns ajustes em seu fundo. Começou a comprar mais dólares, reduziu a exposição às ações e trocou os títulos do Tesouro brasileiro atrelados à inflação por títulos do Tesouro dos EUA, que também são indexados à inflação.

Com essas mudanças, seu fundo acumula um retorno superior ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI) em um período de dois anos e meio. No entanto, no acumulado do último ano, o fundo do gestor não conseguiu superar a meta, o CDI. “Eu diria que o Brasil é uma corrida bancária que foi controlada, mas o atuarial não. Isso foi um fator de perda para os fundos brasileiros, tanto multimercados quanto de ações”, comenta Stuhlberger após fazer suas considerações sobre o dólar.