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Fundos multimercados têm pior semestre da década, mas analistas falam em fim do “pesadelo”

Pesadelo: levantamento mostra que a fuga de investidores no 1º semestre de 2024 piora situação que já vinha negativa

Fundos multimercados têm pior semestre da década, mas analistas falam em fim do “pesadelo”
Multimercados enfrentam a pior janela da história. (Foto: Envato)
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  • Os fundos multimercados estão vivendo a pior janela da história. O movimento não começou agora, é verdade, mas o primeiro semestre de 2024 acentuou as perdas que já vinham sendo registradas nos anos anteriores
  • A classe de ativos teve um resgate líquido de R$ 82,7 bilhões nos seis primeiros meses do ano – o pior desempenho para o período registrado na última década
  • Especialistas explicam quais fatores são determinantes para que o fluxo de investidores volte a olhar para a classe de ativos

Os fundos multimercados estão vivendo a pior janela da sua história. O movimento não começou agora, é verdade, mas o primeiro semestre de 2024 acentuou as perdas que já vinham sendo registradas nos anos anteriores. A classe de ativos teve um resgate líquido de R$ 82,7 bilhões nos seis primeiros meses do ano – o desempenho mais baixo para o período registrado na última década, segundo dados da Economatica.

O momento negativo para os multimercados não começou este ano. O levantamento mostra que os resgates líquidos de 2024, somados aos primeiros semestres de 2023 e 2022, totalizam uma saída de quase R$ 196 bilhões. O desempenho praticamente zera a captação líquida positiva registrada nos três anos anteriores, de cerca de R$ 200 bilhões nos seis primeiros meses de 2019 a 2021.

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Para alguns especialistas, esta é a pior janela da história para essa classe de ativos. E isso se reflete diretamente na capacidade das gestoras de fundos multimercados de manter as operações de pé. A fuga de investidores fez 3,9 mil fundos "desaparecerem" desde 2020, como contamos nesta outra reportagem.

O que provoca a queda dos fundos multimercados

O momento negativo, iniciado lá atrás, é fruto de uma série de fatores. "Passamos por cenários adversos nos últimos quatro anos, quando a partir de 2020 passamos por uma pandemia, uma situação que com certeza não estava prevista por economistas, gestores de fundos ou nenhum modelo matemático”, diz Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital. “Tal crise ocasionou perdas consideráveis em vários fundos diante de tantas incertezas, com a desvalorização no mercado de ações, forte abertura da curva dos juros futuros, aumento dos spreads de crédito (remuneração adicional exigida pelo credor para assumir o risco de inadimplência) nos papéis privados e desvalorização do real".

Muitos dos fundos multimercados brasileiros olham com atenção para os juros e é justamente esse ponto que sofreu mudanças expressivas nos últimos tempos. Entre 2020 e 2022, a taxa Selic pulou de 2%, o menor patamar da história, para 13,75% ao ano. Em agosto de 2023, o Banco Central (BC) começou o ciclo inverso e essa era a aposta que preponderava no mercado até o início de 2024 – a Selic iniciou o ano em 12,25% e a projeção geral era que a queda continuaria até chegar ao patamar de 9% em dezembro.

Mas a combinação de incerteza fiscal com juros mais altos por mais tempo fez com que as projeções para 2024 mudassem. Agora, a expectativa geral é que a Selic permaneça estacionada em 10,50% ao ano até 2025. Isso significa que gestores que estavam posicionados para a queda de juros viram as estratégias irem mal. O que explica parte da piora dos desempenhos este ano.

Para Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, a maioria dos agentes de mercado estavam otimistas de que os juros americanos começariam a cair em 2024, impactando nas taxas do mundo todo, inclusive no Brasil.

"Geralmente nesses momentos de mercados complexos, os fundos multimercados podem ser alternativas interessantes. Isso porque, diferentemente de gestores de renda fixa ou de ações, os fundos multimercados têm mais liberdade de gestão, podendo operar contra o mercado, mas não é isso que estamos vendo em 2024, vide IHFA com prejuízo neste ano", diz, quando se refere ao Índice de Hedge Funds da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que se assemelham aos fundos multimercado de gestão ativa.

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Com ações, juros e câmbio em um turbilhão de volatilidade, as estratégias que têm conseguido arrancar uma valorização no ano são aquelas ligadas a criptomoedas e investimentos no exterior. Mas que representam um porcentual pequeno do total da indústria. “A subclasse de multimercado que está se destacando é a de investimentos específicos, o que não nos ajuda a tirar nenhuma conclusão”, ressalta Fonseca.

Na outra ponta, a abertura da curva de juros fez a renda fixa voltar a atrair a atenção dos investidores. Os ativos retornaram de vez ao posto de "queridinhos" dos portfólios de investimento e, ao contrário do que se vê nos multimercados e nos fundos de ações, vem registrando recordes de captação e procura.

Quando o cenário dos multimercados melhorar?

O segundo semestre de 2024 pode trazer o início da reversão desse movimento negativo da renda variável, que se estende aos multimercados. Os últimos dados de inflação nos Estados Unidos fizeram economias, analistas e gestores acreditarem que há espaço para que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) inicie o tão esperado ciclo de cortes de juros nos EUA; a expectativa que predomina hoje é que isso pode acontecer já em setembro.

Se confirmado, a redução dos juros americanos pode incentivar a volta do apetite a risco de investidores globais. Um possível catalisador para a volta do fluxo comprador na Bolsa e na indústria de fundos de investimento também no Brasil. "Mesmo com um cenário ainda nebuloso e bastante aversão a risco, existe uma perspectiva de melhora para essa classe de ativos. No entanto, tudo depende de como serão conduzidas as políticas fiscais e monetárias tanto no Brasil quanto nos EUA", diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

A especialista destaca que, com a recuperação da Bolsa vista nas últimas semanas em julho, já é possível ver desempenhos menos pressionados entre os fundos multimercados este mês. Um sinal de mudança no posicionamento de gestores – isso indica que podem haver boas oportunidades, agora que muitos ativos ficaram descontados. O foco, no entanto, deve ser o longo prazo.

"O investidor precisa entender se os fundos multimercados que tem na sua carteira está em linha com seu perfil, porque só assim ele conseguirá entender a volatilidade e o risco que se encontra", destaca Mendonça. "Mas para aqueles que tenham mais estômago para risco e volatilidade, pode ser que a classe consiga performar melhor, se o cenário ficar mais tranquilo, como previsto."