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Eleições nos EUA: como a apertada disputa entre Donald Trump e Kamala Harris mexe com seus investimentos

Casas de apostas chegam ao grande dia com republicano como favorito, mas rival democrata cresce na reta final; veja os impactos para o dólar, a Bolsa e os juros no Brasil

Eleições nos EUA: como a apertada disputa entre Donald Trump e Kamala Harris mexe com seus investimentos
Quem vai ganhar as eleições nos EUA? Donald Trump aparece como favorito nas casas de apostas, mas Kamala Harris faz disputa acirrada. (Imagem: francescosgura em Adobe Stock)
  • Chegou o dia oficial de uma das eleições presidenciais mais acirradas da história dos Estados Unidos, entre o ex-presidente republicano Donald Trump e a vice-presidente democrata Kamala Harris
  • Pesquisas de intenção de voto mostram um eleitorado dividido, enquanto as bolsas de apostas estão mais inclinadas a uma vitória republicana
  • Incerteza no mercado é sinônimo de volatilidade; especialistas esperam dólar e juros altos no caso de vitória de Trump, mas é cedo para dizer impacto no Brasil para além do câmbio e juros

Chegou o dia oficial de uma das eleições presidenciais mais acirradas da história dos Estados Unidos. Ainda que a votação antecipada já esteja acontecendo há dias, é nesta terça-feira (5) que as urnas que indicarão o futuro presidente americano começam a ser fechadas. E não dá para dizer quem está na frente na disputa entre o ex-presidente republicano Donald Trump e a vice-presidente democrata Kamala Harris pela Casa Branca.

Pesquisas de intenção de voto mostram um eleitorado dividido, enquanto as bolsas de apostas estão mais inclinadas a uma vitória republicana. Se incerteza é sinônimo de volatilidade, investidores podem esperar por um mercado reativo nos próximos dias, enquanto aguardam a contagem das cédulas de papel. Em 2020, a apuração das eleições nos EUA demorou quase quatro dias.

“Caso se estenda por dias, como ocorreu em 2020, a contagem de votos em si tem potencial de trazer altos níveis de volatilidade para o mercado, já que o grande fator de volatilidade das bolsas em período eleitoral é, justamente, a incerteza”, afirma Paula Zogbi, gerente de Research e head de Conteúdo da Nomad.

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A campanha de 2024 foi marcada por reviravoltas. Em julho, Trump sofreu um atentado em um comício na Pensilvânia. Uma semana mais tarde, o atual presidente Joe Biden desistiu da disputa à reeleição, em um movimento inédito na corrida à Casa Branca.

Agora, os dois partidos chegam ao dia oficial das eleições disputando voto a voto e com a pauta econômica no centro das propostas, enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ainda se esforça para diminuir o ritmo da economia e amenizar a maior inflação no país em décadas. Na quinta-feira (6), o grupo monetário se reúne para decidir se mantém o ciclo de cortes na taxa de juros americana, uma decisão que deve jogar ainda mais volatilidade no mercado ao longo da semana.

O “Trump Trade” no mercado

Ainda que as pesquisas de intenção de voto indiquem um cenário muito disputado, com chances iguais de vitória para qualquer um dos lados, o mercado vinha apostando suas fichas em um candidato. Nas últimas semanas, as bolsas de apostas mostravam o ex-presidente Trump com cerca de 65% de chances de voltar à Casa Branca; acima dos 50% indicados pelas pesquisas.

E essa perspectiva ditou o rumo do mercado: o dólar se fortaleceu mesmo ante divisas desenvolvidas, enquanto os juros dos títulos americanos, os Treasuries, tiveram um avanço forte, especialmente nas pontas longas. Na sexta-feira (1º), por exemplo, mesmo diante da divulgação de um payroll (o principal dado de emprego nos EUA) fraco, a T-Note de 10 anos bateu o maior valor desde julho.

A movimentação é chamada por especialistas de “Trump Trade“, com investidores montando posições antecipando uma possível vitória republicana. “Embora os dois candidatos tenham uma agenda mais inflacionária, o Trump acaba se destacando pela agressividade nas propostas”, destaca Gabriel Giannecchini, portfolio manager da Gauss Capital. “O mercado está especificando uma chance significativamente maior de vitória republicana do que as próprias pesquisas estão dizendo, por isso temos visto esse movimento Trump Trade, que é juros mais altos, dólar mais forte, Bolsa mais forte nos Estados Unidos.”

Um exemplo dessa alocação pró Trump, para além do câmbio e dos juros, são as ações da Trump Media & Technology Group (DJT). O papel da empresa fundada pelo republicano subiu mais de 83% nos últimos 30 dias. “Não é por causa do resultado da companhia em si, mas simplesmente porque Trump começou a ganhar muita força na disputa”, pontua Giannecchini.

Mas, às vésperas da eleição, essa tendência parece estar sofrendo um revés. A rodada de pesquisas eleitorais divulgada desde o fim da última semana, indicando vantagem democrata em alguns Estados chave, mexeu com o cenário e Harris se fortaleceu até mesmo nas bolsas de apostas. O Polymarket, um dos principais sites utilizados para acompanhar as apostas de eleições nos EUA, dá uma chance de vitória de 57,7% para Trump contra 42,3% de Harris. Ainda que o republicano permaneça à frente, trata-se de uma correção importante no cenário que preponderava há algumas sessões.

Histórico do Polymarket mostra como a vantagem de Trump aumentou e diminuiu em 30 dias. (Reprodução/Polymarket)

E isso se também refletiu no mercado: nesta segunda-feira (4), o dólar passou por uma correção ante rivais e moedas emergentes, enquanto os juros das T-notes voltaram a cair. A DJT, do Trump, caiu 2,55% no pregão; em 5 dias, a queda já é de 37,34%, segundo dados disponíveis no Yahoo Finance – veja mais detalhes nesta reportagem. “Dado que o mercado já colocou muito Trump no preço, a simetria pode estar do lado da Kamala agora”, diz o portfolio manager da Gauss.

Como as eleições nos EUA impactam o investidor no Brasil

Do ponto de vista de investimentos, o mercado americano tende a não ser tão reativo como acontece em eleições presidenciais no Brasil. “Por lá, nada de um candidato venceu e vamos ao melhor cenário, outro venceu e vamos ao pior. Em um país com o lobby regularizado, é natural que as reações sejam mais intensas nos setores”, destaca um estudo feito pela RB Investimentos, mapeando as principais propostas econômicas dos dois candidatos às vésperas da eleição.

O entendimento da casa é que ações de defesa, montadoras, petroleiras, fábricas americanas, criptomoedas e bancos devem ser favorecidos por uma eleição de Donald Trump. Na outra ponta, empresas de energia renovável, saúde e infraestrutura teriam um desempenho melhor em uma vitória de Kamala Harris.

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Mas, se tratando de Brasil, pode ser que a disputa não cause grandes impactos assim na Bolsa ao longo desta semana. Um dos principais efeitos das eleições dos EUA sentidos por investidores brasileiros acontece, na verdade, no câmbio.

Frente à incerteza, o capital internacional migra de ativos mais arriscados, como os mercados emergentes, para segurança, utilizando o dólar como proteção. A cotação já vem oscilando desde o último mês – não só pela disputa política, mas também por outros fatores do mercado interno e externo – e deve permanecer volátil durante a apuração dos votos.

Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, explica que, a priori, uma vitória de Trump tende a manter o dólar mais elevado em relação ao real. “Uma vitória de Kamala Harris, que pode adotar uma política de estímulo econômico mais forte e maior regulação, pode reduzir o apelo pelo dólar no curto prazo. Já uma vitória de Trump, com políticas pró-negócios e possível manutenção de tensões comerciais, tende a sustentar a demanda por ativos seguros, favorecendo a moeda.”

O mesmo movimento tende a acontecer com a curva de juros. Uma vitória de Trump, dada as promessas de protecionismo da economia americana, pode levar ao fortalecimento da taxa de juros do país, por exemplo.

Apesar disso, é difícil traçar de que outras formas a disputa eleitoral por lá pode movimentar os investimentos por aqui. Isso porque há muitos outros fatores no cenário, como a continuidade dos ciclos monetários pelos bancos centrais, o fiscal no Brasil, os estímulos econômicos na China, a guerra no Oriente Médio. E, mesmo na vitória de um ou de outro, não dá para dizer que as propostas discutidas em campanha serão todas aplicadas.

É o que explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. “Antes de Trump ser eleito, na primeira eleição, ele disse que queria construir um muro. Até hoje não conseguiu. Não é tão simples assim, ainda tem o arranjo no Congresso”, destaca. “O mercado cria narrativas e expectativas em relação a uma vitória de Kamala ou Trump, mas eu não vejo nenhum impacto direto no Brasil pelo governo A ou pelo governo B.”

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