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Easynvest: As pessoas podem investir sem depender de um gerente ou assessor

Fernando Miranda fala sobre rumos da bolsa e o papel de influenciadores na educação financeira

Easynvest: As pessoas podem investir sem depender de um gerente ou assessor
Em 21 anos de experiência no mercado financeiro, Fernando Miranda já foi diretor de novos negócios no Banco Santander, presidente do Citibank na Suécia e CEO da WebMotors. Foto: Divulgação
  • O gestor, que já passou pelo Santander e Citibank, confia que o capital concentrado no sistema bancário brasileiro poderá fluir para novas plataformas de investimentos
  • “Acreditamos em trazer tecnologia e conteúdo para que as pessoas façam os seus próprios investimentos", diz Miranda
  • Nesta entrevista exclusiva, o executivo discute a responsabilidade dos influenciadores digitais na educação financeira dos brasileiros

Unir tecnologia e informação é o que Fernando Miranda, CEO da Easynvest, acredita ser o caminho para o mercado de investimentos crescer no País. O gestor, que preside a companhia desde abril de 2019 e já passou pelo Santander e Citibank, confia que o capital concentrado no sistema bancário brasileiro poderá fluir para as plataformas de investimento através da disrupção, com um acesso cada vez mais facilitado, intuitivo e transparente aos serviços e produtos financeiros.

“Acreditamos em trazer tecnologia e conteúdo para que as pessoas façam os seus próprios investimentos, sem depender de um gerente ou assessor. Com isso, eu consigo atrair para a plataforma um cliente que vai investir R$ 300 mil ou R$ 500”, assegura Miranda.

A forte corrida de pessoas físicas para a Bolsa, que ganhou quase um milhão de novos CPFs só durante a pandemia, também reforçou os números da Easynvest. A companhia, que acumula 52 anos de história, aumentou seu market share na renda variável de 5,8%, em agosto de 2019, para 12%, em agosto de 2020. Se naquele mês a renda variável era a primeira escolha de produto de 19% dos clientes, em agosto deste ano esse percentual saltou para 58%.

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Apesar do bons ventos que sopram na B3, Miranda defende a diversificação das carteiras com um espaço para a renda fixa. “O brasileiro vai começar a ser cada vez mais maduro para investir. O que tem que evitar é colocar todos os ovos dentro de uma cesta só, independentemente de cenário”, recomenda o gestor.

Nesta entrevista exclusiva ao E-Investidor, Miranda também nega a existência de bolha na B3, a expectativa de crescimento das plataformas digitais e fala sobre a responsabilidade dos influenciadores digitais na educação financeira dos brasileiros.

Questionado sobre a notícia de que a Nubank estaria interessada em comprar uma fatia da Easynvest, Miranda preferiu não comentar o assunto. Conforme antecipou a coluna Broadcast, porém, a Easynvest contratou o JP Morgan para buscar um sócio que a ajude a crescer.

E-Investidor: Há uma corrida para a bolsa de valores. Você vê isso como um movimento momentâneo ou a exposição ao risco veio para ficar?

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Fernando Miranda: É um movimento que está só começando e veio para ficar. Passamos por uma mudança estrutural nunca antes vista no mercado brasileiro. Com a Selic a 2%, se não tomar um pouquinho de risco, o investidor vai perder dinheiro. Hoje tem R$ 1 trilhão na poupança, que rende menos que a inflação.

E-Investidor: Quando os juros voltarem a subir, os investidores voltarão para a renda fixa?

Fernando Miranda: Não é só isso. Tem três outros motivos. Além da Selic baixa, tem a tecnologia. Há cinco anos era muito burocrático abrir uma conta. Hoje, a barreira de entrada ficou quase que nula com todas as plataformas que têm surgido. Fica mais fácil de comparar os produtos e escolher o melhor. Fora o conteúdo e educação financeira, quase uma avalanche de informações, e a mudança comportamental do brasileiro com a crise da pandemia, que entendeu a importância de poupar. A nossa cultura é mais consumista, imediatista e agora entendeu a importância de ter uma reserva de emergência.

E-Investidor: A Bolsa teve um incremento de quase 1 milhão de novos CPF só na pandemia. Aonde esse volume de investidores no mercado de ações pode chegar?

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Fernando Miranda: Se pensar que o Brasil tem cerca de 120 milhões de pessoas economicamente ativas, o número de pessoas na Bolsa representa cerca de 2% da população. Os Estados Unidos têm por volta de 50% da população investindo em Bolsa. Se pegar Chile, México, Itália, Inglaterra, entre outros, todos estão com índices muito acima de 10%, 12%, 15%. Nos próximos anos, entre 2024 e 2025, não vai ser incomum termos 10 milhões de brasileiros investindo em Bolsa.

E-Investidor: Esse salto pode representar o fim da renda fixa?

Fernando Miranda: A renda fixa com a Selic a 2% não acabou. A beleza de uma boa carteira de investimentos é a diversificação. Vale a pena entrar em renda variável e em fundos, mas hoje há muitos produtos de renda fixa com taxas muito atrativas. Tem CDBs de bancos médios, com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), a 6%, 7% de juros. Mesmo em um eventual Brasil com a Selic a 7%, essa diversificação vai continuar porque o brasileiro vai começar a ser cada vez mais maduro para investir na renda fixa, em fundos de investimentos, fundos imobiliários e ter o seu percentual de renda variável. O que tem que evitar é colocar todos os ovos dentro de uma cesta só, independentemente de cenário.

E-Investidor: Qual setores na Bolsa o investidor deve ficar de olho?

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Fernando Miranda: As empresas que estão mais preparadas para a transformação digital são as que estão navegando melhor na crise. Companhia voltadas para o e-commerce, como Via Varejo, Magazine Luiza, vão bem não só no que tange à valorização da ação, mas principalmente ao crescimento do negócio. O dólar está valorizado com relação ao real, então empresas exportadoras estão indo muito bem neste momento. Afinal, o produto em real fica mais barato.

E-Investidor: Afinal, há uma bolha na Bolsa?

Fernando Miranda: Eu não acredito em bolha. A bolsa ainda é pequena e tem muito pouco brasileiro investindo. A hora em que as coisas melhorarem para o Brasil, vamos ver uma capacidade grande do capital estrangeiro voltando para o País. Entre setembro e outubro, o investidor vai poder comprar as famosas BDRs sem precisar mandar dinheiro para fora. Isso é mais uma alavanca da consolidação e da maturidade do mercado de investimentos no País, que ainda tem muito a ser explorado.

E-Investidor: Como justifica a disparidade entre a rápida recuperação da Bolsa e a grande chance de tombo do PIB?

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Fernando Miranda: A bolsa ainda está bem abaixo dos níveis antes da crise, perto de 120 mil pontos. Mesmo com esse crescimento, ela está 20%, 25% abaixo. O que aconteceu foi muito uma correção de pânico, reflexo dos papéis que em uma semana ou um mês caíram 70%. Esse percentual não refletia a qualidade daquele papel. A empresa que caiu 70% e pode ter subido 40% agora, por exemplo, ainda está abaixo dos níveis de antes.

E-Investidor: Estudo do Morgan Stanley diz que o mercado de plataformas deve tomar boa parcela do capital atualmente gerido por bancos. Como a Easynvest vai se colocar nessa disputa?

Fernando Miranda: O modelo da Easy é o de varejo digital. Tenho dois pilares que corroboram todas as minhas iniciativas. Primeiro é trazer tecnologia para o dia a dia, para facilitar e empoderar a investir. Isso com calculadoras, simuladores e uma série de ferramentas. Do outro lado está a educação financeira e conteúdo. Dentro da navegação da plataforma, por exemplo, há vídeos de cinco, dez segundos. Acreditamos em trazer tecnologia e conteúdo para que o investidor faça os próprios investimentos e não dependa de um gerente ou de um assessor. Com isso, eu consigo atrair para a plataforma, um cliente que vai investir R$ 300 mil ou R$ 500.

E-Investidor: Como vencer a concentração bancária, que é muito grande no Brasil, para que esse capital possa circular para outras empresas?

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Fernando Miranda: Com informação. As pessoas não sabiam que com R$ 30 elas podiam investir em bolsa, por exemplo. O segundo ponto é falta de clareza. Ninguém sabia quanto pagava para usar os homebrokers. O terceiro ponto é a usabilidade. Precisamos de processos simples.Pegamos esses três pontos para montar uma plataforma baseada na experiência de Netflix, Spotify, ou de um e-commerce. Claro que estamos surfando nesta onda de brasileiros indo para a bolsa, mas quando você traz para o investidor um produto que fala a mesma língua, ele consegue entender, é gostoso e fácil de navegar e cria-se uma relação transparente. Isso é disruptivo.

E-Investidor: Então é a partir da disrupção ou precisa de mecanismos, por exemplo, do Estado?

Fernando Miranda: O governo tem uma parte importante, o Banco Central, que é o open banking que está por vir. Não é da noite para o dia que você vai ter uma maturidade do sistema financeiro. Não estamos falando aqui só de tecnologia e os órgãos governamentais, mas o ecossistema inteiro. Na hora que o open banking for consolidado, estimando aqui entre 2024 e 2025, isso será um ecossistema super positivo para a concorrência e mais positivo ainda para o consumidor.

E-Investidor: Conteúdo financeiro ganhou holofote nas redes sociais. Como você vê a influência delas no mercado, como o Fintwit? 

Fernando Miranda: Elas são saudáveis. Acho que influenciadores, redes sociais, os sites, a imprensa e todos esses canais com contato com a população são enriquecedores para que esse tema seja cada vez mais discutido. As mídias ajudam nessa democratização. O que é importante é o brasileiro buscar informações diferentes para tomar as suas conclusões. Não existem ganhos estratosféricos onde ninguém sabia e só você sabe. Não dá para ficar milionário da noite para o dia.

E-Investidor: Mas como você vê a responsabilidade das redes sobre o controle das informações que são divulgadas?

Isso não é um movimento fácil. O Facebook e Twitter têm feito buscas constantes por fake news. Vejo algumas dessas iniciativas e bilhões de investimentos para tentar mitigar a desinformação. Temos um longo caminho a seguir. Pelo que vejo, as principais empresas estão muito atentas e isso é prioridade para elas, não só no mercado financeiro.

E-Investidor: O YouTube é outra plataforma de sucesso quando o assunto é investimentos. Como vê a influência de nomes, como Nathalia Arcuri, ganhando força nesse meio?

Eles têm uma importância grande. A Nathalia começou com a gente alguns anos atrás. Foi uma parceria super importante para os dois lados. Vejo um lado positivo porque o que eles fazem bem é falar em uma linguagem que o brasileiro entende. Mas ninguém aprende a investir da noite para o dia, apenas com um influenciador. O que eu vejo de lado positivo para o brasileiro é a combinação, ouvir o influenciador sobre o básico e entrar um pouco mais a fundo com influenciadores ou empresas que trazem análises mais detalhadas.

E-Investidor: Vê algum aspecto negativo?

O mundo de mídia social é um céu aberto. Sim, há riscos de pessoas que vendem algo que não está de acordo com a realidade ou com o perfil do investidor para prometer ganhos rápidos. Isso é ruim para o sistema. Acho difícil ter um influenciador com milhões de seguidores sendo irresponsável. Se isso acontecer, haverá uma avalanche de questões negativas e essa pessoa perderá a sua credibilidade.

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