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- Algumas operações bancárias já estão disponíveis para crianças e adolescentes, inclusive com adaptações a essa faixa etária, como mesada programada e cartão de crédito pré-pago, no aplicativo Neagle Bank, uma instituição de pagamento com “cara” de banco, que leva o nome do canal Neagle, do YouTube
- A conta digital voltada sobretudo para menores de 18 anos foi lançada oficialmente no dia 8 de agosto, ficando entre os apps de finanças mais baixados na Play Store e Apple Store no Brasil
- Ainda que a conta de menores de idade seja no nome de um responsável, a ideia é que os adolescentes possam utilizar sozinhos os serviços no aplicativo e adquirir autonomia com operações financeiras. Para especialista, a atitude é salutar, desde que haja orientação familiar
Gerar boletos, fazer transferência entre contas e sacar dinheiro em caixa eletrônico são algumas operações corriqueiras e em constante processo de modernização na vida de adultos. Mas esse tipo de serviço também já está disponível para crianças e adolescentes, inclusive com adaptações a essa faixa etária, como mesada programada e cartão de crédito pré-pago, no aplicativo Neagle Bank. A instituição de pagamento foi desenvolvida pela fintech Trampolim em parceria com os youtubers Victor Trindade (Eagle) e Gabriel Soares (Neox).
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A conta digital, voltada sobretudo para menores de 18 anos, foi lançada oficialmente no dia 8 de agosto, ficando entre os apps de finanças mais baixados na Play Store e Apple Store no Brasil, refletindo o alcance e a influência dos youtubers, cujo canal da plataforma de vídeos dá nome ao “banco”. O Neagle conta com 7,6 milhões de inscritos e 1,4 bilhão de visualizações no YouTube.
De 13 mil clientes, na fase de testes iniciada em dezembro de 2019, o Neagle Bank saltou para 85 mil correntistas, de acordo com Lucas Pérez, co-fundador e CEO da Trampolim. A fintech, ligada ao Instituto Gênesis da PUC-Rio, é especializada no desenvolvimento de interfaces móveis para contas digitais e focada na inclusão financeira de jovens, adolescentes e pessoas sem acesso a serviços bancários.
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“Banco todo mundo precisa e os fãs (dos youtubers) são pré-bancarizados, não têm banco ainda. O que a gente está fazendo é ser a primeira experiência de banking deles. Temos casos desses jovens que não sabem o que é um boleto, uma TED. Então tem um trabalho educacional envolvido”, explica Pérez.
Ainda que a conta em casos de menores de idade seja no nome de um responsável, a ideia é que os adolescentes possam utilizar sozinhos os serviços no aplicativo e adquirir autonomia com operações financeiras. Para o especialista, a atitude é salutar, desde que haja orientação familiar.
E para criar interesse e engajamento na plataforma, a conta digital tenta dialogar com esse público teen, oferecendo não só os serviços tradicionais, mas também adaptações às necessidades dos jovens, como compra de crédito para jogos e a mudança da aparência (skin) do aplicativo, que customiza a experiência dos usuários, por exemplo.
Outro ponto forte é a criação de uma área para assinantes, o NeaglePlus, com taxa mensal entre R$ 6,32 e R$ 7,90, onde é oferecido acesso a conteúdos exclusivos dos youtubers e vantagens que a conta básica não oferece, como desconto em boleto, cashback em compras dentro do app, skins grátis e opção de cartão virtual.
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O cartão de crédito, com bandeira Mastercard, é pré-pago, ou seja, os clientes precisam depositar dinheiro na conta para poder movimentá-la.
O limite de movimentação padrão, pela legislação neste tipo de conta de pagamento, é de até R$ 2,5 mil, explica Pérez. Caso haja interesse em movimentações superiores a esse valor, os responsáveis precisarão passar por uma análise de dados mais detalhada, além dos tradicionais CPF e selfie na criação da conta digital.
Por que fazer um conta de pagamento para crianças e adolescentes?
A ideia de lançar um projeto financeiro atende a duas demandas. A Trampolim, em 2018, buscava um mercado que gigantes como PicPay ou mesmo Nubank não atingiam e miraram na “geração Z”. Por isso, recorreram a uma parceria com influenciadores digitais.
“Eles já têm [quase] oito milhões de inscritos. Para eles trazerem o usuário para dentro [da plataforma] é muito mais fácil do que se eu fosse captar clientes sozinho”, explica Pérez.
Do lado dos youtubers, a motivação parte da experiência pessoal dos primos Victor e Gabriel em lidar com dinheiro desde muito cedo. A partir dos 15 anos, eles já empreendiam com um servidor do famoso jogo Minecraft, mas a gestão dos recursos ficava sob responsabilidade dos pais.
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Quando completaram 18 anos, em 2016, os dois jovens foram estudar nos Estados Unidos, mas decidiram se dedicar apenas ao canal no YouTube. A decisão significou assumirem sozinhos a gestão das finanças. Atualmente, ambos estão com 22 anos e moram em Orlando.
“Neste caminho duas coisas afetaram muito. O lado burocrático de banco e a distância [do Brasil]. Abrir conta em banco ainda envolve o lado presencial, de papelada, coisas que custavam dinheiro também. Isso sempre incomodou. Quando surgiu uma oportunidade de se juntar a um projeto, que era desenvolver um ‘banco’ digital, a gente decidiu abraçar a ideia”, relembra Victor (o Eagle).
Gabriel, o Neox, defende que as crianças precisam ser educadas financeiramente, independentemente da pouca idade. “Nessa trajetória de quatro anos e meio morando aqui, a gente sofreu muito com o mau uso do dinheiro. A gente acredita que, quanto mais cedo as crianças aprenderem a lidar com o dinheiro, melhor para o futuro delas”, pensa Gabriel.
Os jovens reforçam que, antes mesmo da independência financeira, o aplicativo pretende proporcionar a experiência com o dinheiro, por exemplo, com o que se ganha na mesada. De todo modo, eles ressaltam que o processo de autonomia precisa ser acompanhada pelos responsáveis.
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“A gente não quer a criança usando o dinheiro e os pais não sabendo para onde ele vai. Um dos principais pontos é que é um ‘banco’ para qualquer idade e tem a segurança para os pais acompanharem toda a movimentação do dinheiro do filho, coisa que quando os pais dão a mesada em dinheiro, eles não têm certeza para onde realmente vai o dinheiro”, defende Victor.
Quais cuidados precisam ser considerados?
Rodrigo Sivieri, professor da Trevisan Escola de Negócios, considera que o início da vida financeira e até bancária mesmo com pouca idade não oferece riscos, desde que haja a devida orientação e acompanhamento dos responsáveis. Para o especialista, além de controle de gastos, é necessário ter cuidado com as informações desses novos clientes.
“Hoje você consegue realizar compras se tiver os dados do cartão. Então, esses jovens não devem passar informações. A criança, por ter um cartão novo, pode querer tirar foto do cartão e mandar para alguém. Corre o risco, por exemplo, de uma outra criança pedir o cartão emprestado, e a criança pela inocência não consiga falar não”, previne Sivieri.
O economista vê com bons olhos o serviço, mas sugere que a plataforma também dê algum tipo de orientação a esses clientes inexperientes, dado o atraso da educação financeira formal no Brasil.
“Não adianta dar a ferramenta mas não dar o incentivo e o conhecimento. Pela cultura do País, de não ter uma educação financeira eficiente na base de ensino, seria interessante focar nisso, como disponibilizar algum material didático voltado para esse público mais jovem. Assim, eles vão conseguir utilizar essa conta da melhor forma possível, seja para poupar, realizar pagamento ou compra”, recomenda Sivieri.
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Segundo os youtubers de entretenimento o conteúdo na área exclusiva também vai abordar assuntos financeiros e de empreendedorismo, a partir de relatos pessoais deles.
“Nossa ideia é fazer vídeo sobre educação financeira, contar um pouco da nossa história com mais detalhes, até de valores, para as pessoas ficarem mais por dentro, além de alguns conteúdos que a gente não pode soltar no YouTube hoje por ser uma plataforma muito restrita”, diz Gabriel.