No pregão do dia 13 de junho do ano passado, as ações ordinárias (ELET3) fecharam o dia com recuo de 2,20%, a R$ 40,10, enquanto os papéis ELET6 encerraram o pregão em queda de 0,81%, a R$ 39,38.
Nos meses seguintes, analistas de mercado mantiveram suas recomendações de compra, mas as ações seguiram em queda. De lá para cá, os papéis ELET3 e ELET6 apresentam prejuízo 16,83% e 8,07%, respectivamente.
Até o fechamento desta terça-feira (4), as ações ordinárias valiam R$ 33,35, enquanto as preferenciais eram cotadas a R$ 36,20.
Diante da desvalorização, o trabalhador que investiu seu FGTS na empresa começou a questionar o que fazer no dia do primeiro aniversário da operação, quando será permitido vender as ações.
No entanto, antes de tomar essa decisão é preciso avaliar os rendimentos do dinheiro que fica “parado” no FGTS. Se o trabalhador deixasse R$ 100 no fundo, por exemplo, em um ano ele conseguiria resgatar R$ 104,83 pela cotação atual, segundo cálculos de Filipe Ferreira, diretor da plataforma Comdinheiro.
Para empatar com a inflação – o que significa apenas manter o poder de compra da quantia inicial investida – o rendimento deveria ser de pelo menos 5,6%, equivalente à última apuração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), feita em fevereiro. Para acompanhar a inflação, portanto, os R$ 100 deveriam virar R$ 105,60.
O economista e sócio fundador da consultoria Sarfin, Bruno Mori, explica que por mais que a aplicação em Eletrobras tenha se desvalorizado 17,23%, ainda há a possibilidade de ganhos com esse investimento. “Para os que não precisam do dinheiro agora, a recomendação é segurar os papéis, porque o investimento em ações deve visar o longo prazo”, afirma.
O que o investidor deve fazer?
Os analistas Ruy Hungria, da Empiricus, e Rodrigo Alves, head de produtos da RJ+ Investimentos, também recomendam manter a ação ELET6 na carteira, a não ser em casos em que o acionista precise levantar renda para alguma urgência.
O analista da Empiricus explica que os papéis da Eletrobras já estão absorvendo todos os indicativos ruins e que há espaço para crescimento pela reorganização administrativa da empresa pós-privatização. “A nossa perspectiva é que a privatização não vai ser revertida, porque isso tem um custo financeiro muito grande para o governo”, diz.
Alvez, da RJ+, destaca o potencial de crescimento da ex-estatal e a recomendação de compra. “A empresa como um todo tem um potencial gigantesco. Se a gente olhar os relatórios de casas de análise, é unânime a recomendação de compra. A companhia tem um preço-alvo lá em cima, com capacidade de geração e distribuição de energia”, afirma.
No entanto, o especialista faz uma ressalva ao investimento do FGTS na Eletrobras, no caso de endividamento ou desemprego. “Caso o o trabalhador não tenha mais saldo nenhum no fundo, só esse recurso aplicado em Eletrobras, pode ser que ele tenha que realizar um prejuízo. Mas isso não é o que a gente deseja”. Ou seja, a observação apenas reforça a importância de uma reserva de emergência.
Por que o preço das ações está caindo?
O processo de privatização da Eletrobras já foi alvo de críticas do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele já mencionou a reestatização da companhia em diversos momentos, mas intensificou os comentários no decorrer das últimas semanas.
“O que foi feito na Eletrobras foi um crime de lesa-pátria. Você privatizou uma empresa daquele porte e usou o dinheiro para quê? É como se você tivesse a sua casa e dissesse que decidiu vender a sua casa para pagar a sua dívida. Você vai ficar com o que na vida? Uma empresa como a Eletrobras é um patrimônio desse País e tem que ter muita responsabilidade”, argumentou Lula, em entrevista ao Brasil 247.
Hungria explica que os comentários de Lula são uma das razões pelas quais o preço das ações da Eletrobras estão caindo desde o segundo turno das eleições, uma vez que eles geram algum temor entre os investidores. “A cada vez que o presidente fala que ele quer reverter a privatização aumenta o ruído para o investidor, que coloca em perspectiva a possibilidade de anular esse processo (vender as ações)”, disse Hungria.
Outro ponto destacado pelos analistas é o aspecto da energia estar mais barata atualmente do que o preço verificado meses atrás. Em São Paulo, por exemplo, o Sistema Cantareira registrou um volume útil de 73,25% – maior percentual de armazenamento de água desde 5 de agosto de 2012 (73,3%).
No modelo de privatização da Eletrobras, a estimativa de preço médio da energia era de R$ 150 por kWh para os próximos anos, patamar que amparava a expectativa de boa performance da empresa e, consequentemente, das ações. O preço, que chegou a ser de R$ 250 em 2021, está atualmente em cerca de R$ 100.
Já Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, chama atenção para o fato da companhia estar com muita energia livre e sem contratos para vender o recurso. “Essa energia livre, juntamente com os preços em queda, acaba reduzindo a expectativa de resultados, o que explica a queda (das ações) no ano”, afirma.