FI-Infra oferece uma carteira de contratos de longo prazo e previsibilidade em setores como saneamento e infraestrutura.
(Imagem: hadkhanong em Adobe Stock)
Enquanto fundos imobiliários (FIIs) e os agroindustriais (Fiagros) iniciaram sua recuperação neste primeiro trimestre de 2025, impulsionados por uma perspectiva mais positiva em relação aos juros futuros e maior apetite ao risco, os fundos de investimento em infraestrutura (FI-Infra) demoraram para acompanhar o movimento. A avaliação vem do CIO da Suno Asset, Vitor Duarte, que vê nessa defasagem um sintoma mais estrutural: a menor popularidade dos FI-Infra entre os investimentos de pessoas físicas.
“FI-Infra é o menos popular dos três. O investidor lembra de FIIs, lembra de Fiagros e esquece que existe FI-Infra”, diz Duarte. Segundo ele, isso acontece mesmo com os fundos oferecendo vantagens relevantes, como isenção de Imposto de Renda (IR) sobre dividendos e ganho de capital, além de uma carteira diversificada de projetos e renda recorrente.
Para o gestor, o sucesso dos Fiagros ajuda a explicar esse contraste. “O agro foi muito inteligente ao desenhar sua regulação inspirado no fundo imobiliário, que já era popular. E ainda melhorou a parte tributária.” O resultado foi um nascimento bem estruturado, com regras claras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e comunicação eficaz com o investidor. “Já o FI-Infra veio de outro mundo. Ele vem da renda fixa. É fechado e listado, não tem informe trimestral, os relatórios não sobem no FundosNet. É uma estrutura informacional diferente, que atrapalha até a própria indústria”, analisa.
Como funcionam os FI-Infra: benefícios fiscais, previsibilidade e longo prazo
Apesar dos problemas, o executivo vê um futuro promissor para o produto, que oferece ativos reais, contratos de longo prazo e previsibilidade de receita, especialmente em setores como saneamento, telecom, rodovias e energia renovável. A carteira do SNID11, Fi_Infra da Suno, por exemplo, conta com mais de 40 debêntures, todas adimplentes e lastreadas em projetos operacionais ou com garantias robustas. “O agro tem mais volatilidade intrínseca: custo, preço, safra, clima. Na infraestrutura, a receita é contratada. Só não vê quem não quer ver”, compara.
O gestor também lembra que o agronegócio responde por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e termina por demandar infraestrutura. “Não falta projeto. Linha de transmissão, estrada, ferrovia. O problema (dos FI-Infra) não é a oferta. É a demanda”, diz, ao explicar que mesmo com uma grande quantidade de ativos disponíveis, poucos investidores ainda se voltam para esse mercado.
Risco de crédito nos fundos de infraestrutura exige olhar atento
Embora os FI-Infras sejam apresentados como investimentos de baixo risco e alta previsibilidade, essas características podem minimizar alguns riscos importantes. O principal deles é o risco de crédito, especialmente relacionados a projetos com alta complexidade de execução ou baixa maturidade operacional.
O analista do Grupo SWM, Gustavo Saula, recomenda que o investidor deve sempre avaliar o perfil dos emissores, dando prioridade a projetos consolidados, conhecidos no jargão do mercado, como high grade, e, de preferência, que já estejam em operação. Dessa forma é possível evitar, ou minimizar, o risco de execução na carteira. “O investidor deve fugir de fundos concentrados em obras em fase inicial ou com alto capex (investimento de capital) pendente.”
Os FI-Infras investem majoritariamente em debêntures incentivadas de projetos ou empresas de infraestrutura que atuam em setores regulados e essenciais como energia, transporte e saneamento. Segundo o especialista, é importante também observar a diversificação da carteira do fundo. “Os mais resilientes tendem a ter boa pulverização setorial e por emissores”, observa.
Investimento em FI-Infra com Selic alta
Por outro lado, as empresas brasileiras estão mais preparadas para enfrentar um ambiente de juros altos em relação há uma década. As companhias reduziram sua alavancagem e passaram a estruturar dívidas com prazos mais longos e maior previsibilidade. Nestes últimos dez anos, houve uma evolução do mercado de capitais, com os fundos de crédito privado ultrapassando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como principal fonte de financiamento de longo prazo. O mercado de capitais permite alongar o vencimento das dívidas, algo mais difícil para bancos tradicionais, o que reduz a pressão de curto prazo sobre os projetos e reforça a segurança desses ativos para o investidor.
Refinanciamentos ou rolagens de dívidas em cenários de juros mais altos podem afetar o desempenho de empresas alavancadas, o que impacta indiretamente no risco de crédito das debêntures em carteira do fundos de infra. É válido lembrar que renda mensal isenta via dividendosvem da distribuição de juros e amortizações recebidos dos ativos da carteira. “Se houver inadimplência de algum emissor, o fundo pode sofrer tanto na geração de caixa mensal, quanto na reprecificação da cota”, diz Saula.
Apesar dos riscos, é importante ter em mente que infraestrutura tende a ser menos impactado com a alta de Selic em relação a outros setores. Seus contratos são vinculados à inflação, e não aos juros.