O que este conteúdo fez por você?
- Em 2022, a Selic saiu de 9,25% para 13,75% ao ano, patamar visto por grande parte do mercado como o “ juro terminal”
- Isso significa que, para 2023, o próximo ajuste feito pelo BC deve ser para baixo; possibilidade que pode ser um incentivo para que investidores tomem coragem de ir além da segurança da renda fixa via títulos públicos
- Um cenário que pode beneficiar especialmente os fundos de crédito privado, destaca Ulisses Nehmi, CEO da Sparta
O ano de 2022 deu sequência ao aperto monetário iniciado pelo Banco Central em 2021. A taxa básica de juros brasileira, a Selic, saiu dos 9,25% com que iniciou o ano para encerrar o período estabilizada em 13,75% ao ano – patamar visto por grande parte do mercado como o “ juro terminal”.
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Isso significa que, para 2023, a previsão é de que o próximo ajuste feito pelo BC será para baixo; ainda que este movimento não ocorra nas primeiras reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano. A possibilidade de um corte nos juros, o primeiro desde 2020, pode ser um incentivo para que investidores tenham maior apetite por risco no mercado de investimentos e possam ir além da segurança da renda fixa via títulos públicos.
Um cenário que pode favorecer os fundos de crédito privado, diz Ulisses Nehmi, CEO da Sparta. A gestora com mais de R$ 7 bilhões sob gestão é especializada nessa estratégia, que aloca a maior parte de seus recursos em títulos de renda fixa emitidos por empresas, como debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).
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“O grande boom de crescimento do crédito privado foi entre 2017 e 2018. Ou seja, quando a queda da taxa de juros começa a sinalizar que as coisas já estão melhores, os investidores começam a migrar para outros ativos”, explica o CEO.
Por causa disso, ele acredita que 2023 e 2024 podem ser “anos muito bons” para os fundos de crédito privado. “No cenário atual e pela expectativa para o próximo ano, é o momento certo para investir nesses ativos”.
Ao E-Investidor, Nehmi explicou porque a perspectiva de redução do CDI, que em tese poderia diminuir a atratividade da renda fixa, beneficia os fundos de crédito privado, e elencou pontos para estar no radar para 2023. Confira:
E-Investidor – Recentemente vimos um estresse nos juros futuros, com parte do mercado precificando uma Selic maior do que a inicialmente prevista para 2023. O que podemos esperar da taxa no próximo ano?
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Ulisses Nehmi – Temos a expectativa de uma inflação razoavelmente controlada para o ano que vem, ainda que não dentro da meta para 2022. Naturalmente, quando isso acontece, fica mais claro que não há como ficar sustentando a economia no patamar de juro real que temos atualmente. Assim, é natural que a Selic caia se a inflação continuar controlada.
Nas últimas semanas, tivemos um estresse com a possibilidade de alta da Selic para o próximo ano, pois não há definição de como será o perfil do próximo governo. O mercado precisa de uma direção mais clara de como será, pois houve assuntos que foram ‘pulados’ na parte da campanha e das propostas.
Com essa perspectiva de possível queda na Selic em 2023, onde estão as melhores oportunidades?
Nehmi – Quando começam as notícias de que as taxas de juros irão subir, o investidor tende a correr para a renda fixa segura, títulos públicos com liquidez de área, por exemplo. Por outro lado, o que vemos é que, assim que começa um ciclo de baixa da Selic, o perfil muda um pouco.
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Não é que o dinheiro vai embora da renda fixa, mas o investidor como a pensar que já pode colocar um pé em outros ativos. E normalmente ele migra para o crédito privado, de altíssima qualidade.
Então os fundos de crédito privado podem ser uma boa aposta?
Nehmi – O grande boom de crescimento do crédito privado foi em 2017, 2018. Ou seja, quando a queda da taxa de juros começa a sinalizar que as coisas já estão melhores e os investidores começam a migrar para outros ativos. E é ai que esses fundos costumam ter esses bons desempenhos.
2023 e 2024 podem ser anos muito bons para o crédito privado de maneira geral. Uma coisa que vem junto com o bom desempenho é que, se o mercado começa a melhorar e as taxas de juros começam a cair, há também uma redução no risco de crédito. E, se isso acontece, os ativos começam a andar melhor.
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De que forma os gestores podem garantir a performance desses fundos mesmo em um cenário de redução do CDI?
Nehmi – Esse tipo de fundo normalmente tem perfil pós-fixado, então remunera o CDI e mais algum spread de crédito, que é a remuneração adicional pelo prêmio de risco de crédito. Uma vez que as quedas na Selic começarem a acontecer, as empresas passam a gastar menos dinheiro para pagar os credores, diminuindo o risco de crédito.
Fundos que já travaram posições com esse spread mais alto vão começar a se valorizar à medida que o mercado precifica spreads menores para a frente. Então vão ter um retorno maior.
Vemos essa mecânica quando começa a ter queda de taxa de juros: conforme as taxas começam a cair, esses fundos começam a ter desempenhos melhores do que tinham antes.
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O momento para se posicionar nos fundos de crédito privado seria agora, antes do início desses cortes?
Nehmi – De fato, no cenário atual e pela expectativa para o próximo ano, é o momento certo. Eu diria que o cuidado que temos que tomar é que talvez tenhamos surpresas no novo governo que podem mudar o cenário, até então estável. Porém, acreditamos que estamos em um momento bom para investir nos fundos.
Em que o investidor pessoa física, que está acostumado com a renda fixa de maior segurança, mas que quer aproveitar o movimento de estabilização da Selic e tomar um pouco mais de risco a partir de 2023, precisa estar atento?
Nehmi – Quando falamos de títulos públicos, normalmente são pós-fixados. Se o investidor começa a ir para prefixados e indexados à inflação, quanto maior o prazo, mais risco vai ter. O crédito privado também segue nessa linha, só que com os prazos de resgate.
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Os fundos com prazo de 30 dias, por exemplo, são normalmente bastante equilibrados. Conforme a pessoa vai tendo mais apetite para risco, vai arriscando aqueles com prazo de 90 dias, 180 ou mais de um ano. Aí já começa a mudar totalmente o perfil, são fundos bem mais arrojados.
Para o investidor que é conservador, mas quer buscar uma aplicação em crédito privado um pouco mais arrojada dentro da renda fixa, boas opções são esses fundos com classe de resgate em torno de 30 dias. São ativos com um degrauzinho de risco maior do que os títulos públicos, mas com nível de eficiência bastante razoável.