- Valor de títulos públicos de médio e de longo prazo influenciaram negativamente o patrimônio nas carteiras de renda fixa
- Investidores retiraram recursos de fundos de crédito privado, o que obrigou os gestores a diminuírem suas posições em títulos corporativos
Com exceção das carteiras com títulos pós-fixados, com papéis indexados na taxa Selic ou na taxa de depósito interfinanceiro (DI), que tiveram rentabilidade média bruta de 0,27% no mês, os tradicionais fundos de renda fixa não ficaram imunes à crise do coronavírus e também registraram perdas em março.
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Dados do boletim diário da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgado no fechamento de março, mostram que a rentabilidade média bruta estimada das carteiras de renda fixa (RF) com papéis de duração baixa tiveram prejuízo de 0,18%.
Já nos fundos RF com títulos de duração média, a perda estimada é de 0,36%, enquanto em carteiras RF com papéis de duração longa, o prejuízo médio é estimado em 2,78%.
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Para o mês de abril, a expectativa é de um pouco mais de volatilidade. “O grosso desse movimento já ocorreu em março, quando passaram a marcar os papéis num preço mais justo. Mas pode ter algum agravamento em abril, a depender da intensidade da crise sanitária e econômica”, afirma Marco Bismarchi, sócio da TAG Investimentos.
Por que isso acontece?
Segundo Bismarchi houve dois movimentos em março que explicam essas perdas. O primeiro está relacionado ao aumento dos juros nos títulos públicos prefixados e de inflação de médio e de longo prazo, reflexo do nervosismo do mercado com a crise de saúde e econômica causada pela pandemia de Covid-19 pelo mundo.
“Na renda fixa, as curvas de juros se abriram. Nas NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional série-B ou Tesouro IPCA+), o juro que estava em torno de 3%, subiu para 5%, e agora está em torno de 4,5%. E nos prefixados, os papéis que estavam com 6%, subiram para 7%, 8%. Isso tudo impactou no valor dos títulos, reduzindo a rentabilidade das carteiras e provocando perdas”, explica.
Quanto ao segundo movimento de perdas, Bismarchi relaciona à marcação pelo mercado dos títulos privados de dívida. “Os ativos de crédito privado tiveram um movimento mais agudo. Teve uma corrida de resgate até em papéis triplo A (AAA, de melhor nota de risco de crédito), e os gestores tiveram que vender no mercado para honrar os pagamentos em D+30. Essa marcação a mercado diminuiu o valor dos papéis e das carteiras”, diz.
Em outras palavras, fundos de investimentos de renda fixa concentrados em títulos de crédito privado apresentaram perdas maiores porque os investidores resolveram se desfazer de parte de suas posições diante de temores de problemas de dívida corporativa nesse momento em que há quarentena em grandes centros urbanos e restrição de circulação de consumidores, o que reduz drasticamente as receitas de muitas empresas com títulos no mercado.
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“Essa é uma classe de ativos que tínhamos uma posição pequena. Nós sofremos mais com a bolsa de valores, em ações. Na nossa visão, não há tanta justificativa para resgate desses fundos de crédito privado. Até estamos olhando oportunidades em empresas muito boas, cujos papéis estão negociando em taxas, que não ficar assim por muito tempo”, afirma.