Investimentos

Números de fundos sustentáveis avançam, mas falta adesão do investidor

Os fundos 'IS' saltaram de 18 em dezembro de 2022 para 49 em agosto de 2023

Números de fundos sustentáveis avançam, mas falta adesão do investidor
(Foto: Envato Elements)
  • Durante a pandemia da covid-19, o tema ESG ficou evidente e ganhou popularidade entre os investidores, ainda que houvesse o questionamento sobre abrir mão de rentabilidade em prol do portfólio “limpo”
  • Gestoras com fundos sustentáveis ainda observam espaço para mais conversas e aderência por parte dos investidores
  • Ao se observar a captação líquida dos fundos IS e com ESG integrado neste ano, os números negativos predominam, mas há um consenso entre as gestoras ouvidas de que se trata de um reflexo do momento de mercado

O número de fundos sustentáveis cresceu neste ano, conforme têm saído as aprovações para a nova classificação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No entanto, gestoras com fundos sustentáveis ainda observam espaço para mais conversas e aderência por parte dos investidores, embora já estejam otimistas com a disseminação do tema no setor.

Os fundos com sufixo “IS” (Investimento Sustentável) no nome saltaram de 18 em dezembro de 2022 para 49 no fechamento de agosto de 2023. Além disso, ano passado, eram cinco veículos com a integração ESG (sigla em inglês para as práticas ambiental, social e de governança) reconhecida em seus processos de gestão, enquanto que agora são 21.

Na época da divulgação das regras da Anbima e conforme os primeiros fundos foram recebendo o sufixo “IS”, houve críticas no mercado em relação à intenção das gestoras em desenvolver produtos verdadeiramente sustentáveis, além de possuir esse objetivo em todos os processos da própria empresa. O temor a respeito do chamado “greenwashing” – ou seja, uma divulgação apenas publicitária sobre sustentabilidade – foi levantado.

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Por outro lado, gestoras que já tinham uma agenda ESG antes das regras da Anbima afirmam reforçar o compromisso “dentro de casa”, assim como apresentá-lo ao investidor. É o caso da BB Asset, que já registrou os fundos sustentáveis de seu portfólio e deve lançar novas estratégias de fundos IS, segundo o responsável por ESG na BB Asset, Daphne Breyer.

“Acreditamos que a integração vai além dos produtos de fato. Tentamos trazer a integração para todos os processos da casa com metodologias para títulos soberanos, ações, crédito privado e produtos estruturados, e due diligence (investigação aprofundada) nas gestoras parceiras em que os fundos de fundos investem”, diz Breyer. “Quando a casa realmente incorpora o ESG, o fundo nem precisaria ser registrado como IS, pois já faria isso naturalmente.”

Entre as primeiras gestoras a ter fundos com o sufixo IS, a BNP Paribas Asset Management já trabalhava para incorporar a sustentabilidade à gestão do negócio há 20 anos. “Para nós, foi muito fácil demonstrar [os processos] para a Anbima porque já éramos ESG de fato”, afirma Aquiles Mosca, responsável por vendas, marketing e digital. Segundo o executivo, a gestora não atua com uma lista de exclusão de setores investíveis, mas com engajamento com as empresas.

Institucionais mais interessados que o varejo durante a pandemia da covbid-19, o tema ESG ficou evidente e ganhou popularidade entre os investidores, ainda que houvesse o questionamento sobre abrir mão de rentabilidade em prol do portfólio “limpo” – pensamento que não foi totalmente superado. Há casos de demanda dos investidores, mas a maioria é de institucionais, faltando agora aderência do varejo.

Marcelo Mello, presidente executivo (CEO) de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica, afirma perceber o interesse dos investidores institucionais em investimentos sustentáveis “como consequência de provocações de reguladores, como ocorre nos casos de fundos de pensão e alguns investidores multinacionais”, assim como uma “provocação vinda das matrizes, principalmente as europeias”.

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A avaliação é a mesma de Mosca, da BNP Paribas Asset. O executivo afirma que o Brasil está “engatinhando” em mostrar aos investidores que a gestão ESG deve ser priorizada. “Tem duas posturas, a do ‘ignorante’, que não sabe o que é, e a do cético, que acha que é ‘abraçar árvore’”, diz. “Temos uma tarefa importante nos próximos anos de educar sobre não ser abrir mão de performance com ESG”.

“Principalmente as fundações têm pedido fundos exclusivos IS, mas acreditamos que esses produtos são para todos”, destaca Breyer, da BB Asset. Assim, a gestora tem apostado em treinamentos com os gerentes do Banco do Brasil para explicar “como é pensar o investimento de forma ESG”. “Temos feito o trabalho de mostrar que o fundo ESG é para ter retorno e agrega o benefício da sustentabilidade”, acrescenta a
executiva.

Fundos de ações fracos, mas de crédito com fôlego

Ao se observar a captação líquida dos fundos IS e com ESG integrado neste ano, os números negativos predominam, mas há um consenso entre as gestoras ouvidas de que se trata de um reflexo do momento de mercado, especialmente na renda variável.

Já no segmento de crédito privado, houve comemoração. “Nossa família de fundos ESG captou cerca de R$ 630 milhões desde junho de 2022, mesmo em um momento de resgates importantes na indústria de crédito. Nosso maior crescimento veio do nosso fundo de previdência, um recurso que entendemos estar bem alinhado com a visão de investimento de longo prazo trazida pelas abordagens ESG”, afirma Mello, da SulAmérica.

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