- Até outubro de 2022, foram registradas aproximadamente 1.860 transações, apontou a plataforma de tecnologia financeira Transactional Track Record (TTR)
- Números levantados por Alexandre Pierantoni apontaram que a expectativa de fusões e aquisições pode aumentar em ao menos 15% no próximo ano
- Tradicionalmente, há uma valorização na cotação das empresas compradas porque ocorre um ágio oferecido pelo comprador, o que naturalmente movimenta o mercado para um preço do papel próximo ao ofertado
Os movimentos de fusões e aquisições (M&A na sigla em inglês) são de praxe operações que as empresas fazem, principalmente as companhias negociadas na bolsa de valores. E em 2023, segundo avaliação de especialistas, o mercado deve ficar mais aquecido do que o segundo semestre de 2022.
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Com a pressão inflacionária causada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o mercado brasileiro ficou tensionado nos últimos meses do ano. João Rafael Araújo Filho, sócio da Grant Thornton, afirma que toda vez que a inflação está mais alta, os juros aumentam, e a empresa compradora fica mais meticulosa quanto a realizar essas operações.
Os juros são uma linha determinante no momento em que um comprador vai adquirir uma empresa. A escolha é sempre entre deixar o dinheiro render ou realizar um M&A para ter um retorno melhor. “Quando a taxa Selic está alta, se torna mais vantajoso deixar na renda fixa do que correr o risco de uma fusão ou aquisição, já que pode existir a possibilidade do negócio não vingar”, explicou o especialista.
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Mas essa dificuldade do setor parece ser algo momentâneo. Um levantamento realizado por Alexandre Pierantoni, chefe da área de finanças corporativas e M&A da consultoria multinacional Kroll, apontaram que a expectativa de fusões e aquisições pode aumentar em ao menos 15% no próximo ano.
Até outubro de 2022, foram registradas aproximadamente 1.860 transações, segundo a plataforma de tecnologia financeira Transactional Track Record (TTR) – o número é 14% menor que o mesmo período de 2021.
Pierantoni afirma que a retomada deve acontecer por duas razões: uma expectativa de redução dos juros quanto ao patamar atual – boletim Focus aponta para uma queda de 2 pontos percentuais em 2023 -; e a instabilidade fiscal no Brasil deve acabar no dia 1º de janeiro.
“Lula (PT) definirá suas políticas econômicas, pensando no déficit fiscal e na responsabilidade de gastos, além de anunciar quem irá compor a equipe econômica”, destacou o chefe da Kroll. Com essas informações, o mercado ter maior previsibilidade e fica mais favorável a correr riscos e a realizar fusões e aquisições.
Saiba como aproveitar o mercado
Tradicionalmente, há uma valorização na cotação das empresas compradas porque ocorre um ágio oferecido pelo comprador, o que movimenta o mercado para um preço do papel próximo ao ofertado.
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E, no caso da companhia que comprou, os ativos caem porque os investidores ficaram receosos para saber quando a empresa adquirida gerará retorno para a compradora. O sócio da Grant Thornton afirmou também que outros motivos podem ser responsáveis pelas quedas desses papéis: a percepção do mercado que o valor pago foi muito elevado; uma visão de perda de foco do negócio da empresa; e a análise de um reposicionamento estratégico equivocado por parte da compradora.
Lana Santos, especialista de Renda Variável e sócia da Acqua Vero Investimentos, acredita que o investidor pode encontrar boas oportunidades nos M&As, contanto que compreenda os termos da operação. “Uma fusão envolve questões complexas para adaptar as operações e alavancar as sinergias existentes entre os negócios, processo que pode levar algum tempo para refletir os bons resultados”.
Como as operações são normalmente sigilosas, o investidor pode se informar via fato relevantes, que podem ser acessados pelo site de relação com os investidores das empresas. “Ou acompanhar periodicamente os meios de comunicação [para entender como o mercado repercutiu determinada negociação]”, declarou Santos.
O sócio da Grant Thornton também acredita que a boa oportunidade para os investidores está em acompanhar como será a movimentação e a repercussão do mercado, além de entender quais setores podem estar sujeitos a um movimento de consolidação e quais empresas podem estar melhores posicionadas com a negociação.
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Já Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, indica que investidores procurem companhias que emitiram follow-ons (oferta de ações subsequentes) recentes, pois é um sinal de que adquiriram capital e podem usá-lo para fazer aquisições. Ele cita o caso da Ambipar, que comprou 16 companhias neste ano e 29 em 2021.
Ainda de acordo com Cima, outro fator importante que pode ajudar os acionistas é entender o cenário macroeconômico brasileiro. Por exemplo, na pandemia, o setor de saúde estava aquecido, tanto que a Hapvida e a Intermédica tiveram um programa agressivo de compras.
Para 2023, o operador da Manchester acredita que, com os juros a dois dígitos, alguns setores devem ser impactados, ocasionando algumas fusões e aquisições já no primeiro semestre do próximo ano. Entre eles, destaque para o setor de tecnologia, que fica mais enfraquecido e propício a essas operações quando a Selic está alta (hoje, está a 13,75%).