O que este conteúdo fez por você?
- Os sócios de uma empresa de fundo de hedge recebem a maior parte dos seus ganhos em dividendos, que são livres de impostos no Brasil
- O setor de gestão de ativos do País, equivalente a US$ 1,1 trilhão, é o maior na América Latina e sempre foi controlado por grandes bancos
- Quase todos os bancos retardam os bônus por três a quatro anos, mas em um fundo de hedge você é pago imediatamente
(Cristiane Lucchesi, Felipe Marques e Vinícius Andrade/WP Bloomberg) – Enquanto os fundos de hedge em todo o mundo vêm encolhendo por causa dos retornos baixos e das altas taxas cobradas, um país vem derrubando essa tendência: o Brasil, onde um grande número de operadores deixa seus empregos em bancos para tentar a sorte numa área que pode render muitos milhões de dólares.
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“As novas empresas de gestão de ativos estão ganhando muito dinheiro e contabilizando lucros rápidos, de maneira que podem gastar muito com a remuneração dos traders”, afirma Leon Goldberg, sócio da XP Inc., a maior corretora de valores do Brasil. “Muitas estão roubando talentos de competidores”.
Executivos no Brasil vêm abandonando suas longas carreiras em bancos importantes, como JPMorgan, Credit Suisse e Itaú Unibanco (ITUB4), para criar fundos de hedge e fundos de ações próprios, atraídos pela chance de ter mais independência e remunerações maiores. Várias empresas procuram furtivamente roubar funcionários da concorrência, à medida que a luta por talentos se intensifica.
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Um operador de primeira linha pode ganhar mais de US$ 4,8 milhões ou R$ 25 milhões por ano no Brasil, com várias grandes estrelas no campo de gestão de ativos recebendo até R$ 100 milhões, de acordo com pessoas ligadas ao setor. Executivos de bancos que supervisionam unidades de gestão de ativos ou mesas de proprietary trading raramente conseguem mais de US$ 15 milhões de reais.
Os fundos de hedge também têm outras vantagens. “Quando você é um sócio do fundo, não existe um limite de bonificações como no caso de um banco”, diz Ricardo Amatto, sócio da empresa de recrutamento de executivos Heidrick & Struggles no Brasil. “Além disso, quase todos os bancos retardam os bônus e outros pagamentos ligados a desempenho por três a quatro anos, ao passo que, no fundo de hedge, você é pago imediatamente”.
Os sócios de uma empresa de fundo de hedge recebem a maior parte dos seus ganhos em dividendos e esses pagamentos são livres de impostos no Brasil. Em um banco, a remuneração está sujeita a um imposto de 27,5%. “Dá para entender porque tantos executivos sênior deixam os bancos para se tornarem empreendedores nesses fundos”, diz Amatto.
Em meio às saídas importantes das grandes instituições financeiras, está Sylvio Castro, ex-chefe de investimento da unidade de operações bancárias privadas do Credit Suisse no Brasil, que criou seu próprio fundo de hedge. Jorge Oliveira, ex-executivo do JPMorgan, foi para o fundo de hedge criado por Giovani Silva, um veterano do JPMorgan, substituindo um outro executivo que saiu para criar sua própria corretora.
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O setor de gestão de ativos do Brasil, equivalente a US$ 1,1 trilhão, é o maior na América Latina e historicamente controlado por grandes bancos que investiram fundos dos clientes em produtos chamados plain-vanilla. Trata-se de instrumentos financeiros mais simples e genéricos, que há quatro anos eram operações com taxa de retorno por volta de 14%. Agora que a taxa básica de juros do País despencou para 2%, abaixo da inflação, os investidores estão mais dispostos a pagar uma taxa de administração de 2,5%, mais 20% de taxa de performance, a fim de obter retornos mais altos em um fundo de hedge.
“Os juros baixos estão alimentando os sonhos de crescimento dos gestores de ativos”, disse Patrick O’Grady, diretor executivo da Vitreo, companhia de investimento e corretora que administra um portfólio de R$ 7 bilhões.
E isto vem se verificando mesmo durante a pandemia, com o banco central mantendo a liquidez, injetando mais de R$ 1,1 trilhão no sistema financeiro. Os fundos de hedge registraram ingressos de R$ 88,8 bilhões este ano até outubro no Brasil, em comparação com os R$ 77,3 bilhões no ano passado, segundo a associação de mercado de capitais Anbima.
“Ainda há R$ 7 trilhões investidos em produtos de renda fixa no Brasil com retornos reais negativos, de modo que a migração para ativos mais arriscados, como as ações, deve continuar”, afirmou Sara Delfim, que ajudou a fundar a Dahlia Capital em 2018, depois de nove anos no Bank of America. “A previsão para o setor local de fundos continua positiva”.
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Tudo isto contrasta fortemente com o que vem ocorrendo ao redor do mundo. Em termos globais, os fundos de hedge registraram US$ 55 bilhões em retiradas até outubro deste ano, depois de perdas de US$ 102 bilhões em 2019, segundo dados compilados pela eVestment. Os investidores se desfizeram dos produtos em busca de opções mais baratas, depois de anos se deparando com retornos bem inferiores aos registrados pelos índices de referência.
No Brasil, empresas como a Genoa Capital Gestora de Recursos estão colhendo as recompensas. Lançado em junho, o fundo de hedge da companhia acumulou quase R$ 7 bilhões em dois meses de operação. Fundado por Andre Raduan, Mariano Steinert e Emerson Codogno, operadores veteranos da unidade de gestão de ativos do Itaú, o fundo cobra de 1,9% a 2,5% de taxa de administração e 20% de taxa de performance.
Pioneiros no setor também estão abocanhando uma fatia desse mercado. A JGP Asset Management, de André Jakurski, que administra mais de R$ 27,5 bilhões, contabilizou ingressos nos últimos anos, caso também da Verde Asset Management, de Luis Stuhlberger, com mais de R$ 46 milhões em ativos.
Mas, no caso de novas firmas que vêm sendo abertas a todo o vapor, sua lucratividade e sobrevivência não estão garantidas. “A gestão de ativos é uma operação de escala”, disse Amatto, recrutador de executivos. “Você precisa crescer para ter lucro e performance. Vejo muitas pessoas que começam com custos muito altos, subestimando os riscos e a concorrência”.
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Foram criados 90 novos fundos só este ano, segundo a Anbima, mas 28 fecharam no mesmo período. Para sobreviverem e ganharem força, algumas empresas terão de partir para fusões.
“Sempre há espaço para gestores de ativos que propiciam retornos sobre o investimento”, disse José Tovar, um veterano no setor e CEO da Truxt Investimentos, responsável por uma carteira de R$ 18 bilhões. “O problema é gerar esses retornos – e rápido”.
(Tradução de Terezinha Martino)