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Gestora faz aposta ousada com Braskem (BRKM5) e lucra 12% em 50 dias; veja a estratégia

A Grifo Asset conseguiu lucrar ao investir na debênture da petroquímica em meio crise ambiental

Gestora faz aposta ousada com Braskem (BRKM5) e lucra 12% em 50 dias; veja a estratégia
A Braskem é líder na produção de resinas termoplásticas nas Américas e 6ª maior petroquímica do mundo (Foto: HELCIO NAGAMINE / ESTADÃO)
  • A janela de oportunidade surgiu em momento que o mercado repercutia a crise ambiental em Maceió, no estado de Alagoas
  • Os gestores investiram na debênture da Braskem com vencimento para novembro de 2029 em janeiro deste ano e venderam em março
  • A operação rendeu um retorno de 11,87%, equivalente a uma rentabilidade de um CDI+124,76% anualizado

As incertezas sobre a Braskem (BRKM5) ainda predominam na Bolsa de Valores brasileira e sem perspectivas de recuperação no curto prazo. Os papéis da companhia acumulam uma desvalorização de 17,5% em 2024 e iniciaram o primeiro pregão de junho com uma queda de 1,43% diante da possibilidade do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega integrar o conselho de administração da petroquímica que  foi descartada pela empresa na última sexta-feira (7). A repercussão dos crimes ambientais em Maceió, no estado de Alagoas, também ajudou a tornar o futuro da companhia incerto.

No entanto, o período de crise que a Braskem atravessa desde 2023 abriu janelas de oportunidades com a depreciação da empresa durante o primeiro trimestre deste ano. A Grifo Asset encontrou uma dessas brechas ao investir na debênture da companhia – título de dívidas emitido para uso dos recursos em projetos específicos – com vencimento para novembro de 2029. A gestora de investimentos, com R$ 150 milhões sob gestão e quase três anos de atuação no mercado, conseguiu em apenas 52 dias um retorno nominal de 11,87% com o investimento. A rentabilidade é equivalente a um CDI+124,76% anualizado.

A estratégia se baseou nos possíveis cenários que a Braskem poderia enfrentar com a crise ambiental na capital alagoana. Segundo Victor Ary, gestor de fundos e sócio da Grifo Asset, a ideia era entender a capacidade de pagamento da petroquímica em diversas projeções sobre os impactos financeiros com as indenizações e se os riscos estavam precificados no papel. Quando a análise foi realizada, em janeiro deste ano, o spread da debênture era de CDI+6%.

“Decidimos ‘estressar’ o papel. Elevamos a necessidade de provisionamento [reservas] da companhia para as indenizações. Como eles não têm efeito de caixa, simulamos que a Braskem seria obrigada a pagar essas indenizações em 2024 ou em 2025 e vimos que ela teria condições de arcar com a despesa”, afirma Ary ao explicar o viés da análise. Mas a gestão não se contentou apenas a essas projeções. Para ter certeza de que o spread da debênture era atrativo, os especialistas foram além.

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Eles decidiram piorar o cenário macroeconômico para saber se a companhia iria conseguir enfrentar o ciclo de baixa em meio a uma crise ambiental. Os resultados mostraram que a Braskem teria capacidade de arcar com os pagamentos das indenizações. “Concluímos que esse CDI+6% está barato e decidimos entrar no dia 16 de janeiro deste ano”, informou o gestor da Grifo.

A mesma análise foi realizada em julho de 2023, quando a debênture da Braskem estava negociada a CDI+2,8%. Na época, não havia detalhes sobre os desdobramentos do impacto ambiental da mina de Maceió, embora a companhia já tivesse provisionado R$ 16 bilhões desde 2019, quando as atividades de mineração foram suspensas no local. Ou seja, a taxa de remuneração não compensava o risco.

“Investimos em debêntures até o vencimento ou até a tese de investimento mudar. Nesse caso, a ideia era capturar essa recuperação porque em algum momento esse retorno ficaria próximo de CDI+3%”, comenta Ary. A gestora manteve a debênture da Braskem no portfólio do fundo Grifo Credit até o dia 14 de março, quando o retorno caiu de CDI+6% para CDI+3,6%.

“Vimos que o papel estava no seu preço funcional – ou seja, com o risco precificado”, ressaltou o especialista. O movimento ajudou o fundo de crédito privado da Grifo a encerrar o primeiro trimestre com uma performance de 4,14%, retorno equivalente a 158% do CDI. Já no intervalo de 12 meses, tendo como base de referência março, a rentabilidade chegou a 16,72% ou 133% do CDI.

A realidade para o investidor comum

Identificar essas janelas de oportunidade não é uma tarefa fácil. Exige uma análise detalhada sobre a situação financeira da companhia e conhecimento sobre o cenário em que o emissor do papel se encontra. O desafio se torna ainda maior em períodos de incertezas macroeconômicas tanto no ambiente interno quanto externo. Ou seja, replicar estratégias de investimento semelhantes ao da Grifo ou de outras gestoras que conseguiram prêmios interessantes no mercado pode ser arriscado para o investidor comum.

Maria Luisa Nepomuceno, analista de renda fixa da Nord Research, explica que, ao vender uma debênture no mercado secundário antes do vencimento, o investidor precisa estar ciente que estará suscetível ao risco de liquidez. “Quando fazemos uma venda antecipada, a depender de como está a demanda para aquela taxa específica, o investidor vai precisar reduzir o preço para conseguir realizar o negócio”, ressalta Nepomuceno. Há casos também em que as corretoras cobram um spread pela transação, o que reduz a rentabilidade.

Por isso, a orientação básica aos investidores na hora de investir em debêntures é, antes de tentar acertar a janela de tempo de compra e venda do título, conhecer a capacidade de pagamento do emissor da dívida. Nesse caso, a analista de renda fixa da Nord sugere uma análise dos últimos três resultados anuais da empresa para avaliar o seu fluxo de caixa, rentabilidade e o nível de endividamento. “É preciso entender se a empresa tem bons números operacionais que mostrem a sua capacidade de honrar essa dívida”, comenta Nepomuceno.

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Vale lembrar que, ao contrário dos CDBs, as debêntures não possuem proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). A ausência dessa cobertura obriga o investidor a observar com mais detalhes as garantias da dívida para possíveis casos de default (ou calote). “As melhores garantias são as reais – imóveis entre outros ativos físicos – porque o investidor tem uma garantia palpável caso tenha uma piora no cenário”, afirma Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

Outro ponto importante é a diversificação do portfólio. Assim como acontece com a carteira de ações, o investidor não pode concentrar o seu patrimônio em apenas um ativo. “É como ter uma frota de navios navegando em rotas distintas, diminuindo o impacto de um possível naufrágio”, exemplifica Roberta Cuenca Ferreira, planejadora financeira CFP pela Planejar.

Mas a divisão do capital em vários investimentos exige de uma orientação prossional para que o investidor consiga estar posicionamento em ativos adequados ao seu perfil de risco e aos seus objetivos financeiros. “É como ter um navegador experiente te orientando”, reforça Ferreira.

O que está acontecendo com a Braskem?

As incertezas em torno da Braskem ganharam notoriedade no fim de 2023, quando o mercado acompanhou mais de perto os desdobramentos da crise envolvendo o impacto ambiente na cidade de Maceió, em Alagoas. Os prejuízos para a população mobilizaram o Senado para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os possíveis crimes ambientais cometidos pela Braskem neste caso.

O relatório final da CPI, aprovado no dia 21 de maio, pediu o indiciamento da mineradora por crimes ambientais e por crime contra ordem econômica. Outras duas empresas e 11 pessoas, sendo oito ligadas à Braskem, também foram incluídas no pedido. No fim de 2023, a companhia informou o provisionamento de quase R$ 5 bilhões para o evento ambiental em Alagoas. No entanto, esse valor pode aumentar. Isso porque o relatório da CPI pede a revisão dos acordos de reparação firmado entre a Braskem e a população atingida pelo afundamento do solo. A priori, essa possibilidade está fora do radar dos analistas.

A Braskem lida ainda com os prejuízos causados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul (RS). Os danos causados pelo temporal no estado e a paralisação do polo petroquímico de Triunfo ainda devem ser levantados. No entanto, há risco de ser relevante visto que Triunfo representa cerca de 30% da capacidade da Braskem para produtos químicos de primeira geração, como etileno, segundo estimativas da XP.

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As notícias negativas envolvendo o nome da companhia não se resumiram apenas a esses fatos. Em maio, a Braskem reportou um prejuízo líquido de R$ 1,39 bilhão no primeiro trimestre de 2024, revertendo o lucro de R$ 184 milhões durante o mesmo período do ano passado. Quando o balanço foi divulgado, as ações caíram 2,18%, cotados a R$ 19,28, no pregão do dia 9 de maio.

Para completar, a Adnoc, companhia nacional de petróleo de Abu Dhabi, desistiu de comprar o controle acionário da Braskem. A desistência foi comunicada pela petroquímica brasileira em 6 de maio. Com a saída da estatal árabe, o processo de venda da participação acionária da Novonor (ex-Odebrecht) retomou ao seu estágio inicial.

A decisão da Justiça de São Paulo que obriga a Novonor a pagar US$ 1 bilhão à Braskem foi a única notícia responsável por trazer ânimos aos investidores. Quando a informação se tornou pública, as ações subiram 3,23% e 1,77% nos pregões dos dias 20 e 21 de maio. Já nesta segunda-feira (10), as ações da petroquímica fecharam em alta de 2,21%, cotadas a R$ 18.

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