- O Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS) recomendou o retorno do horário de verão e prevê uma economia de R$ 400 milhões entre os meses de outubro e fevereiro
- Estudo publicado na America Economic Review destaca que investidores sentem efeitos negativos com a perda de 1 hora de sono no final de semana
- JPMorgan ressalta que medida tende a favorecer setores do consumo discricionário, turismo e varejos; analista da Suno frisa que efeitos às companhias do setor elétrico vai depender do ramo de atuação
A volta do horário de verão no Brasil pode acontecer a partir do próximo mês de novembro, como antecipado pelo Estadão. Adotado em diversos países a fim de aproveitar mais a luz natural durante o dia, e reduzir o consumo da energia elétrica, a medida influencia no comportamento dos consumidores. E isso pode incluir até as escolhas de investidores — seja em função dos reflexos nas empresas listadas ou pelos efeitos da readaptação da rotina.
O estudo “Losing Sleep at the Market: The Daylight Saving Anomaly” (ou Perdendo o sono no mercado: a anomalia do horário de verão, em tradução livre), publicado na American Economic Review, aponta que o horário de verão pode ter efeitos negativos nas decisões dos investidores. “A interrupção no padrão de sono [devido ao adiantamento dos relógios] aumenta a ansiedade e reduz a tolerância ao risco”, escrevem Mark J. Kamstra, Lisa A. Kramer e Maurice D. Levi, autores da pesquisa.
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Na segunda-feira imediatamente depois do acréscimo de uma hora no final de semana no EUA, os pesquisadores notaram um aumento na volatilidade dos ativos, resultando em retornos financeiros inferiores para muitas ações. “A perda média nos mercados pode ser significativa, chegando a US$ 31 bilhões”, afirmam. Vale dizer que o estudo foi publicado no ano 2000 e, de alguns anos para cá, foi contestado e também defendido por outros pesquisadores.
Embora não haja consenso entre a associação da mudança de horário com a aversão a risco dos investidores, a própria eficácia econômica da energia elétrica, promovida pelo horário de verão, também tem sido contestada por novas pesquisas e dissertações. Mesmo assim, o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS) apresentou um estudo destacando que o retorno da medida poderá reduzir a demanda máxima noturna, tanto em dias úteis quanto nos finais de semana.
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“O horário de verão alivia o efeito da rampa da carga entre 18h e 19h, além de adiar o horário de ponta em até duas horas”, diz a pesquisa. Além disso, também foi constatado que a medida pode promover uma diminuição até 2,9% da demanda máxima de energia elétrica e a economia de cerca de R$ 400 milhões entre os meses de outubro e fevereiro.
Horário de verão, consumo, varejo e turismo
Mas se de um lado a perda de uma hora de sono no final de semana dos investidores pode torná-los mais avessos a risco, por outro as pessoas tendem a aproveitar o ganho da luz natural para consumirem mais. Pelo menos foi isso o que apontou o estudo “Shedding light on daylight saving time” (ou Lançando luz sobre o horário de verão, na tradução livre), do JPMorgan Chase.
A lógica é simples: com mais horas de luz entre o entardecer e à noite, os consumidores são incentivados a sair de casa. Com isso, eles frequentam mais lojas, restaurantes e eventos de entretenimento. “Traduzindo-se em um aumento nas vendas, beneficiando as empresas de setores como varejo, turismo e consumo discricionário”, escrevem Diana Farrell, Vijay Narasiman e Marvin Ward Jr, que assinam o estudo.
Levando em considerando essa lógica, entre as empresas listadas na B3 (B3SA3), as seguintes ações seriam beneficiadas pelo retorno do horário de verão:
Como as companhias do setor elétrico podem ser afetadas pelo horário de verão?
Além dos impactos no consumo, as empresas do setor elétrico também sentem os efeitos do horário de verão. O analista Bernardo Viero, da Suno Research, explica que os estudos do ONS indicam que o retorno do horário de verão deve resultar em uma menor necessidade de energia gerada por termelétricas.
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“As geradoras com alta exposição a esse segmento devem ser as mais prejudicadas, com as demais absorvendo um impacto neutro”, afirma. Já as distribuidoras de energia poderão enfrentar uma redução no consumo durante os horários de pico, uma vez que as pessoas podem aproveitar mais a luz do dia para realizar atividades fora de casa. “Isso pode bater nos volumes e ser algo negativo, mas dificilmente representativo no que tange os resultados.”
Sobre as transmissoras de energia, que possuem sua Receita Anual Permitida (RAP) vinculada somente à disponibilidade dos ativos, ele não prevê impactos significativos caso o horário de verão retorne. “Não serão afetadas”, ressalta.