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Incerteza fiscal afeta fluxo para o Brasil e apetite estrangeiro, diz economista

Especialista diz que há uma discrepância entre as projeções do governo e as expectativas do mercado em relação ao déficit primário

Incerteza fiscal afeta fluxo para o Brasil e apetite estrangeiro, diz economista
Foto: Adobe Stock
  • Governo projeta zerar déficit primário até 2025; mercado acredita que isso só ocorrerá após 2027
  • Crescimento é impulsionado por exportações e consumo, mas indústria enfrenta desafios
  • Em julho, investidores estrangeiros retiraram R$ 219,6 milhões, acumulando saldo negativo de R$ 40,34 bilhões no ano

A incerteza fiscal está impactando o fluxo financeiro para o Brasil e a confiança dos investidores estrangeiros. “Existe no mercado uma dúvida muito grande com relação à capacidade do governo de alcançar as metas fiscais que foram propostas”, afirmou a economista-chefe do Ourobank, Cristiane Quartaroli, em coletiva de imprensa promovida pela instituição na tarde desta terça-feira (20). Isso envolve aspectos como déficit primário, déficit nominal, arrecadação, despesas, dívida pública, taxas de juros, sustentabilidade da dívida e reformas fiscais.

No Brasil, o déficit primário – que não inclui o pagamento de juros da dívida – chegou a R$ 280,2 bilhões nos últimos 12 meses, o maior desde julho de 2021. O Banco Central divulgou em 28 de junho que o déficit primário consolidado, que abrange União, Estados, municípios e estatais, totalizou R$ 1,062 trilhão no período, o maior desde o início da série histórica em 2002.

Mesmo com uma arrecadação recorde de R$ 203 bilhões em maio, o rombo aumentou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O déficit nominal representa 9,57% do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação com R$ 1,043 trilhão registrado em abril. O pagamento de juros da dívida somou R$ 781,6 bilhões nos últimos 12 meses, o maior valor da série histórica.

Segundo Quartaroli, há uma discrepância entre as projeções do governo e as expectativas do mercado em relação ao déficit primário. Isso é atribuído ao perfil fiscal do atual governo, que, diz ela, tende a ser mais expansionista, com um aumento nas receitas e despesas.

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“O governo estima que a gente deveria zerar o nosso déficit primário em 2025. Já o mercado não acredita nisso, porque para os economistas esse déficit só vai zerar depois de 2027, ou seja, é um cenário que acaba afastando a possibilidade de investimento estrangeiro aqui no nosso país, porque isso gera uma instabilidade institucional e acaba contribuindo para uma piora de imagem do nosso país”, explica.

Além disso, outros fatores internos e externos afastam os investidores do país. É o caso do câmbio que, para ela, depende de uma combinação complexa de fatores, incluindo decisões políticas e eventos inesperados, o que pode contribuir com a volatilidade.

Já no cenário internacional, a economia dos Estados Unidos está desacelerando gradualmente, o que poderia apoiar uma possível redução nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). No entanto, a possibilidade de uma recessão ainda não foi totalmente descartada, o que também tem gerado volatilidade no dólar.

No Brasil, apesar da taxa básica de juros, a Selic, estar em níveis mais baixos em comparação com anos anteriores e a inflação ter aumentado recentemente, Quartaroli observa que a taxa de câmbio tem mostrado um comportamento mais estável. Isso pode ter um impacto positivo na economia, mas não consegue anular a incerteza fiscal como um fator crítico que afeta o ambiente de investimento.

O crescimento do PIB no primeiro trimestre do ano, lembra ela, foi impulsionado por exportações e consumo das famílias. No entanto, setores como a indústria continuam a enfrentar problemas estruturais. A projeção de câmbio para o próximo período é de R$ 5,30, um nível que ainda representa um cenário desafiador para o câmbio. A previsão de inflação está acima da meta, o que pode levar o Banco Central a manter a Selic em 10,5% ou até aumentá-la.

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Recentemente, o mercado revisou para cima a projeção da Selic para 2025, passando de 9,75% para 10%. Essa revisão é mais um atestado de desconforto com a situação fiscal e sua influência na política monetária, conforme a economista. Mas ela pontua que, apesar disso, o crescimento econômico brasileiro mostra sinais de potência, com o mercado revisando a projeção de PIB para 2024 para cima, mantendo a expectativa de crescimento próximo a 1,90% para 2025. Variáveis como a queda de juros nos Estados Unidos e a recuperação da economia chinesa também devem beneficiar a economia brasileira.

“Quando a gente tem um Carry Trade favorável para a gente, que vai ser se o Banco Central aqui no Brasil subir juros de fato, a chance de a gente ter ingresso de fluxo para cá é maior. Ainda mais num cenário em que o banco central americano vai baixar juros. Se for esse o cenário, Banco Central americano baixando juros e Copom subindo juros aqui, talvez a gente veja um ingresso maior ainda de fluxo. Isso contribui de forma positiva para o nosso câmbio,” explicou Quartaroli.

Estrangeiros retiraram R$ 219,6 milhões na Bolsa

Na primeira semana de julho, os investidores estrangeiros retiraram R$ 219,6 milhões do segmento secundário da B3, onde são negociadas ações já listadas, em um dia que o Ibovespa subiu 0,65%. Com essa movimentação, o saldo negativo acumulado no ano alcançou R$ 40,34 bilhões.

Os investidores institucionais, por sua vez, aportaram R$ 51,4 milhões no mesmo dia, elevando o superávit anual da categoria para R$ 1,66 bilhão.

Os investidores individuais também fizeram aportes, no valor de R$ 39,6 milhões, aumentando o superávit acumulado em 2024 para R$ 22,85 bilhões. As informações foram divulgadas pela B3.

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