- Investir em ativos no exterior é uma estratégia de diversificação que pode reduzir o risco do investidor. Isso porque esses ativos, ao não estarem correlacionados com o Brasil, não sofrem os efeitos de crises causadas por fatores domésticos
- Para o investidor qualificado, há vários fundos que contêm na carteira ativos no exterior, sejam ações de empresas estrangeiras ou cotas de fundos internacionais
- Quem não se enquadra nesse perfil pode procurar fundos multimercado com até 20% da carteira no exterior, investir em BDRs ou formar uma reserva financeira em dólar, por meio de fundos cambiais ou compra de moeda
Com o fim dos ganhos fáceis na renda fixa, o investidor já começou a entender que a chave para obter rendimentos melhores está na diversificação, que pode ser feita em vários níveis. Um deles é o geográfico: alocando parte da carteira em ativos no exterior.
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Esse caminho sempre foi explorado pelas grandes fortunas, e aos poucos vem despertando o interesse de outros tipos de clientes, ainda que as melhores opções não sejam exatamente democráticas. O momento é bastante oportuno para olhar para fora.
“O mundo está barato agora, pois está todo mundo com medo”, diz André Fernandes, superintendente de produtos da Ágora Investimentos. “A visão de que uma exposição ao exterior traz mais risco para a carteira é antiquada. O mercado financeiro dos Estados Unidos é mais sólido que o brasileiro.”
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E aqui não estamos falando apenas do mercado norte-americano, mas do mercado global. É um vasto horizonte de oportunidades a ser explorado.
“O PIB brasileiro é 3% do PIB mundial. Se você considera apenas esses 3% para alocar seus investimentos, está ignorando os outros 97% por falta de conhecimento ou de produto”, alerta Daniel Martins, CEO e diretor de investimentos da GeoCapital. “Boa parte das nossas despesas é global. Mas o investidor brasileiro em geral não tem acesso a essas empresas, que são listadas lá fora.”
Ao fugir da correlação com o Brasil, investidor se protege das crises domésticas
Essa abertura maior para o investimento fora do País dependerá de uma mudança cultural do nosso investidor. Enquanto menos de 1% do dinheiro dos brasileiros está no exterior, esse percentual é de 20% na Colômbia, 25% no México 25% e 40% no Chile.
“O brasileiro médio deveria ter entre 15% e 20% no exterior. com essa alocação ele já teria proteção diante de uma desvalorização do real de 40%. Se a Bolsa brasileira cai e a moeda perde valor, e uma parte da sua carteira está lá fora, você se blinda usando o câmbio como proteção”, diz Roberto Teperman, head da Legg Mason no País.
Essa é a principal vantagem de investir no exterior. Alguns fatores que provocam volatilidade no nosso mercado financeiro são globais, como a pandemia do coronavírus; já outros são locais, porque derivam de questões internas, como a instabilidade política do governo Bolsonaro. Ao alocar capital no exterior, essa parte do portfólio deixa de sofrer os abalos vindos do próprio Brasil.
“Quando você tem um problema doméstico, a exposição internacional ajuda a sua carteira a ficar mais estável, porque esses ativos não são correlacionados com o Brasil”, explica a planejadora financeira Gisele Colombo de Andrade, da Planejar.
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Fernandes, da Ágora, afirma que é preciso estar sempre atento às condições macroeconômicas do mercado brasileiro e do mercado internacional, para ver onde é melhor investir em cada momento.
“O investidor tem que ver qual dos mercados de bolsa tem retorno maior no período, e se as condições lá fora estão mais benéficas que as do Brasil, que sofre ao mesmo tempo com questões domésticas e internacionais”, diz.
Fundos ativos disponíveis no Brasil dão acesso a ações e fundos no exterior
A rigor, um investidor que disponha dos recursos necessários pode fazer suas aplicações diretamente no exterior, procurando uma corretora estrangeira e comprando ações ou cotas de fundos lá fora. Mas há fundos disponíveis no Brasil que também dão acesso a esses ativos, e oferecem maior conveniência.
“Abrir uma conta lá fora é fácil: você mostra passaporte e comprovante de renda, transfere o dinheiro por aplicativo de celular em três horas, e tudo isso com o câmbio comercial e um IOF menor”, diz Teperman, da Legg Mason. “Mas um fundo vende facilidade para o cliente. Ele é um veículo. Você não precisa falar inglês ou fazer contas.”
Outra vantagem desses fundos é que um gestor brasileiro se encarrega de fazer a curadoria dos ativos estrangeiros, identificando o melhor momento de compra e venda das ações, por exemplo. O investidor recebe explicações em português sobre onde está sendo alocado o dinheiro dele.
“Em nossos fundos de ações, escolhemos 60 empresas para acompanhar, analisamos a relação risco-retorno de cada uma e investimos nas que forem mais benéficas”, diz Martins, da GeoCapital. “E a carteira vai sendo reavaliada, conforme nossa visão de longo prazo para cada companhia, os fatos relevantes, os movimentos dos competidores e tudo o que muda a percepção de valor de uma empresa”, explica.
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No cardápio da Legg Mason, investidores podem escolher entre sete fundos multimercado e de ações que trazem no portfólio bolsas e mercados globais, cada um com um foco diferente: empresas de tecnologia, infraestrutura, educação, small caps. Eles podem ser hedgeados ou não hedgeados – essa, aliás, é uma escolha importante que o investidor terá de fazer.
Ao optar por um fundo com hedge, o investidor está travando a cotação do câmbio e, com isso, eliminando esse componente de risco do cenário. A carteira sofrerá apenas a oscilação de preço dos ativos. Já quem escolhe um fundo sem hedge quer ter as duas variáveis: no valor do ativo e na cotação do dólar.
Há vantagens nas duas opções. Com o hedge, o investidor deixa de se preocupar com os efeitos da variação cambial, e a carteira fica menos volátil e complexa. Por outro lado, em um fundo sem hedge, a mesma flutuação cambial que pode prejudicá-lo também pode ser benéfica.
“Se o investidor não travou a cotação, ele pode perder de um lado (com uma desvalorização do ativo), e ganhar do outro (com uma eventual desvalorização do real, que o beneficia em dólar)”, explica Martins, da GeoCapital.
Como os riscos envolvidos não são pequenos, o investidor deve pensar no longo prazo e alocar nesses produtos um montante de que não necessitará em um espaço de três a cinco anos. Assim, ele não se preocupa tanto com as intempéries que provocam oscilações no curto prazo.
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“A nossa abordagem é dividir em duas a parcela de renda variável do cliente. Metade é investida em ações no Brasil e metade, lá fora”, diz Martins. “No Brasil, também há boas empresas. Assim, o investidor acessa boas oportunidades de retomada da economia brasileira e também empresas longevas não correlacionadas com o Brasil.”
Opções para o investidor não qualificado
Por determinação da CVM, fundos que contenham mais de 20% da carteira alocada no exterior só podem ser acessados por investidores qualificados, que são aqueles com mais de R$ 1 milhão em investimentos. Para quem não se encaixa nesse perfil de alta renda, as opções se limitam consideravelmente.
Uma alternativa são os fundos multimercado que possuam alguma exposição em dólar ou ativos no exterior – limitada, nesse caso, ao teto de 20%. Eles estão disponíveis em corretoras e também nos segmentos prime dos grandes bancos.
“Um cliente que possua um volume de R$ 100 mil no varejo seletivo tem acesso a esses produtos. Ele pode alocar R$ 10 mil ou R$ 15 mil e já conseguirá ter o benefício da exposição internacional da carteira”, diz Gisele, da Planejar.
A Rico, por exemplo, oferece alguns fundos em que 20% da carteira é composta por cotas de fundos estrangeiros, de casas como Morgan Stanley ou Credit Suisse, que são acessíveis apenas por investidores qualificados. Os outros 80% se dividem entre renda fixa pós-fixada, debêntures de inflação e fundos brasileiros multimercado e de ações.
“Com um tíquete inicial de R$ 500 e uma única alocação, o cliente tem uma carteira diversificada, com ativos no exterior que não poderia acessar de outra forma”, diz o analista Lucas Collazo, da Rico. “Além disso, quando quiser vender as cotas do fundo, ele não pagará imposto para trocar de posição, como teria de fazer ao vender os próprios ativos estrangeiros.”
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Outra possibilidade são os BDRs, certificados de ações de empresas estrangeiras, que são negociados na B3. “Eles são a bola da vez para o investidor geral”, diz André Fernandes, da Ágora. “Mas eles têm pouca liquidez e uma volatilidade tão grande quanto a da renda variável brasileira. Por isso, são para o cliente que tem perfil de risco de Bolsa”, avisa.
Para quem tem compromissos financeiros em moeda estrangeira, Gisele Andrade aponta alguns caminhos possíveis para se proteger da variação cambial. Um deles é o mercado futuro de dólar. “Quando compra o dólar futuro, o investidor tem certeza de que aquele valor está indexado à moeda e ele terá como honrar o pagamento”, afirma.
Outras opções são programar aportes mensais em um fundo cambial ou mesmo fazer compras fracionadas de moeda.
“Com isso, o investidor começa a montar uma reserva em moeda forte. O objetivo não é ganhar do CDI ou da Bolsa, mas sim construir ao longo dos anos um patrimônio em uma moeda estável”, explica.