As ações do Banco do Brasil (BBSA3) devem abrir o pregão com perdas após a divulgação de balanço negativo (Foto: Adobe Stock)
O Banco do Brasil reportou o seu balanço financeiro referente ao segundo trimestre de 2025 na noite de quinta-feira (14) com um resultado abaixo das estimativas do mercado. Entre abril a junho, o BB reportou lucro líquido de R$ 3,8 bilhões, uma queda de 60% na comparação anual. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) atingiu o menor patamar desde 2016, um recuo de 8,2% . O percentual representa uma queda de 7,5 pontos percentuais em relação trimestre anterior e 12,8 p.p na comparação anual.
O pano de fundo para a má fase do Banco do Brasil tem sido a qualidade da sua carteira de crédito que vem pressionando os resultados financeiros desde o início do ano, quando o problema ganhou visibilidade. A inadimplência do agronegócio persistiu e atingiu 3,49%, uma alta de 2,17 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2024. Nesta reportagem, mostramos os indicadores que mais preocupam os analistas.
“Apesar de não haver quebra de safra relevante nos últimos anos, a queda acentuada dos preços e alavancagem dos clientes levou a um forte aumento nos atrasos e pedidos de recuperação judicial”, diz a Genial Investimentos.
Houve ainda um aumento da inadimplência no segmento de varejo, entre os clientes pessoa física e pequenos empreendedores, o que amplia os desafios para a estatal. Esmiuçamos os problemas do Banco do Brasil nesta reportagem. Vale lembrar que, antes mesmo da divulgação, as ações da companhia já haviam perdido o posto de “queridinha” do mercado e saíram das carteiras recomendadas de corretoras e bancos de investimentos. Veja aqui como operam os papéis da estatal hoje.
As ações do Banco do Brasil iniciaram as negociações na bolsa de valores com perdas após a divulgação dos dados ruins do balanço do 2º trimestre. Às 10h46 (de Brasília), os papéis da estatal operam com perdas de 3,02%, cotados a R$ 19,25. Logo depois, às 11h11 (de Brasília), as ações inverteram o sinal e passaram a subir 1,31%.
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Analistas estão pessimistas com balanço do Banco do Brasil (BBAS3) no segundo trimestre de 2025. (Foto: Adobe Stock)
O período nebuloso da estatal, contudo, não é suficiente para deixar a ação de escanteio, como tem feito a maioria dos agentes de mercado. Alguns analistas ainda defendem a permanência do papel na carteira por avaliar que os fundamentos da estatal permanecem intactos, enquanto classificam os problemas de crédito como o risco natural do modelo de negócio.
Pedro Galdi, analista do AGF, faz parte desse grupo. Ele reconhece que a inadimplência pode pesar sobre os resultados deste trimestre e até dos próximos, mas ressalta que os problemas não devem durar por muito tempo.
A avaliação de Galdi parte do seguinte princípio: o produtor inadimplente vai precisar de novas linhas de financiamento para arcar com os custos da próxima safra. Com o nome comprometido no Banco do Brasil, dificilmente, conseguirá crédito com outras instituições financeiras.
“A safra de 2025 e 2026 começou em junho passado. Onde ele vai arrumar dinheiro? A safra tem seus períodos certos. Se perder tempo (para regularizar as suas dívidas), vai perder produtividade”, explica Galdi.
Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos, também reconhece os números ruins do Banco do Brasil (BBSA3), mas entende que a companhia é capaz de mudar essa realidade no longo prazo e voltar a estar no topo das recomendações das corretoras e bancos de investimentos. “Para o longo prazo, continua sendo um banco bicentenário que tem todas as condições de se recuperar. É positivo que esses números ruins sejam vistos agora para o mercado observar uma recuperação mais saudável nos outros trimestres”, ressalta o analista.
Como não há previsão de quando a companhia irá conseguir “arrumar a casa” e voltar a entregar bons rendimentos aos investidores, as ações não são indicadas para uem busca retornos no curto prazo. A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou que 2025 será um período de ajuste para garantir a retomada da rentabilidade e antecipou que a inadimplência do agronegócio deve pressionar os resultados do banco do terceiro trimestre.
“Ainda temos vencimentos de posições na carteira de agro e temos inadimplência em 90 dias prevista”, afirmou durante apresentação do balanço para investidores e analistas. Com esta projeção acomapanha por números ruins, os analistas acreditam que os papéis do banco sofram novas quedas relevantes na bolsa de valores na sessão dos próximos dias.
“Olhando para o curto prazo, estamos muito conservadores. Reduzimos a nossa posição em Banco do Brasil nas carteiras de ganho de capital”, afirma Marco Saravalle, fundador da MSX Invest e colunista do E-Investidor.
Já Ativa Investimentos reduziu a recomendação das ações do BBSA3 para neutra e colocou o preço-alvo do papel em revisão. A Genial, por sua vez, recomenda manter o ativo na carteira ao estabelecer um preço-alvo de R$ 22 para o papel, o que representa um potencial de valorização de 10,83% em comparação ao pregão de quinta-feira (14).
Histórico de dividendos também conta a favor de BBAS3
A recorrência da distribuição de dividendos do Banco do Brasil também sustenta a visão positiva para o papel. Apesar da queda do payout (capacidade de pagamento) de 45% para 30%, a Genial Investimentos acredita que há um retorno gradual do patamar histórico de 40%-45% à medida que os resultados se normalizem.
Marco Saravalle, sócio-fundador da BM&C, vê oportunidades nas ações do Banco do Brasil para investidores com foco no médio e no longo prazo. (Foto: Divulgação/SaraInves)
A decisão reflete a preocupação da companhia em adotar uma postura mais conservadora e preservar seu capital enquanto enfrenta um ciclo ruim que, segundo especialistas, já se repetiu outras vezes ao longo dos seus dois séculos de existência.
“São ciclos e muitos sensíveis para ao agronegócio. A recente queda pode abrir uma oportunidade para investidores com visão acima de cinco anos“, diz Saravalle.
Além disso, o banco é negociado na Bolsa de Valores com múltiplos inferiores aos seus concorrentes e abaixo da sua média histórica, o que sugere uma boa oportunidade de investimento para quem está de fora do papel ou deseja aumentar posição.
Dados da Elos Ayta obtidos pelo E-Investidor mostram que o preço sobre o lucro (P/L) da companhia permanece em 3,26. Ou seja, o investidor levaria aproximadamente 3,26 anos para recuperar o investimento inicial do papel ao considerar o lucro atual. Já Bradesco (BBDC3; BBDC4), Itaú (ITUB3; ITUB4) e Santander (SANB11) são negociados na Bolsa com P/L de 7,65, 9,35 e 6,80, respectivamente.
“O BBAS3 apresenta uma excelente oportunidade para quem visa dividendos elevados dentro de alguns anos, após arrumar a casa. O Bradesco tardou cerca de dois anos e quem se posicionou visando uma recuperação durante o período de maior estresse foi recompensando”, diz Evandro Medeiros, analista CNPI da Suno Research
Veja os múltiplos do Banco do Brasil em comparação com Bradesco, Itaú e Santander