O mercado opera nesta quinta-feira (14) apreensivo com o balanço do Banco do Brasil (BBSA3) após o fechamento do mercado. (Foto: Adobe Stock)
O Banco do Brasil apresenta os seus resultados financeiros referente ao segundo trimestre de 2025 (2T25) na noite desta quinta-feira (14). Mas antes mesmo desta divulgação de alta expectativa para quem deseja investir em BBAS, as ações da companhia perderam o posto de “queridinha” do mercado e saíram das carteiras recomendadas de corretoras e bancos de investimentos. Veja aqui como operam os papéis da estatal hoje.
O pessimismo do papel tem como pano de fundo a alta inadimplência da carteira de crédito rural da instituição financeira, que ganhou visibilidade no balanço do primeiro trimestre deste ano (1T25), reportado em maio. Na ocasião, banco estatal entregou um lucro líquido 20,7% menor em relação ao mesmo período do ano passado.
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) também cedeu 4,98 pontos percentuais na base anual. O banco decidiu ainda colocar o seu guidance(projeções) para margem financeira bruta, custos de crédito e lucro líquido para o ano “em revisão”. Esmiuçamos os problemas do Banco do Brasil nesta reportagem.
A posição da companhia sinalizou ao mercado que a inadimplência nas carteiras de crédito deve continuar nos próximos trimestres e pode impactar nos rendimentos da empresa. A mensagem foi o suficiente para derrubar o papel em mais de 30% desde a divulgação dos dados financeiros do 1T25.
Há motivos para comprar as ações do Banco do Brasil (BBSA3)?
Analistas estão pessimistas com balanço do Banco do Brasil (BBAS3) no segundo trimestre de 2025. (Foto: Adobe Stock)
O momento ruim para o Banco do Brasil, contudo, não é suficiente para deixar a ação de escanteio, como tem feito a maioria dos agentes de mercado. Alguns analistas ainda defendem a permanência do papel na carteira por avaliar que os fundamentos da estatal permanecem intactos, enquanto classificam os problemas de crédito como o risco natural do modelo de negócio.
Pedro Galdi, analista do AGF, faz parte desse grupo. Ele reconhece que a inadimplência pode pesar sobre os resultados deste trimestre e até dos próximos, mas ressalta que os problemas não devem durar por muito tempo.
A avaliação de Galdi parte do seguinte princípio: o produtor inadimplente vai precisar de novas linhas de financiamento para arcar com os custos da próxima safra. Com o nome comprometido no Banco do Brasil, dificilmente, conseguirá crédito com outras instituições financeiras.
“A safra de 2025 e 2026 começou em junho passado. Onde ele vai arrumar dinheiro? A safra tem seus períodos certos. Se perder tempo (para regularizar as suas dívidas), vai perder produtividade”, explica Galdi. “Vai ter um momento que ele vai precisar negociar essa dívida (com o Banco do Brasil)”, acrescenta.
Histórico de dividendos também conta a favor de BBAS3
A recorrência da distribuição de dividendos do Banco do Brasil também sustenta a visão positiva para o papel. Apesar das revisões baixistas para o lucro do 2T25, a Genial Investimento espera uma distribuição de R$ 2,3 bilhões em proventos, enquanto a Monte Bravo calcula pagamento na ordem de R$ 1,5 bilhão após cortar sua projeção em 30%.
Marco Saravalle, sócio-fundador da BM&C, vê oportunidades nas ações do Banco do Brasil para investidores com foco no médio e no longo prazo. (Foto: Divulgação/SaraInves)
O volume, embora seja inferior aos R$ 9,5 bilhões já distribuídos nos trimestres anteriores pelo banco estatal, reflete um ciclo ruim da companhia que já se repetiu outras vezes ao longo dos seus dois séculos de existência.
“São ciclos e muitos sensíveis para ao agronegócio. A recente queda pode abrir uma oportunidade para investidores com visão acima de cinco anos“, diz Marco Saravalle, fundador da MSX Invest e colunista do E-Investidor.
Além disso, o banco é negociado na Bolsa de Valores com múltiplos inferiores aos seus concorrentes e abaixo da sua média histórica, o que sugere uma boa oportunidade de investimento para quem está de fora do papel ou deseja aumentar posição.
Dados da Elos Ayta obtidos pelo E-Investidor mostram que o preço sobre o lucro (P/L) da companhia permanece em 3,26. Ou seja, o investidor levaria aproximadamente 3,26 anos para recuperar o investimento inicial do papel ao considerar o lucro atual. Já Bradesco (BBDC3; BBDC4), Itaú (ITUB3; ITUB4) e Santander (SANB11) são negociados na Bolsa com P/L de 7,65, 9,35 e 6,80, respectivamente.
“É uma empresa que pode ter uma recuperação significativa, como aconteceu na crise de 2016. O papel chegou a subir mais de 200% entre os anos de 2016 a 2019. O mesmo se repetiu na pandemia. De 2020 a 2023, o papel avançou mais de 100%”, diz Fábio Sobreira, sócio e analista da Rocha Opções de Investimentos.
Veja os múltiplos do Banco do Brasil em comparação com Bradesco, Itaú e Santander
Preço sobre lucro (P/L)
Bradesco (BBDC4)
Banco do Brasil (BBAS3)
Itaú (ITUB4)
Santander (SANB11)
Atual
7,65
3,26
9,35
6,8
Média de 10 anos
10,56
6,28
10,64
11,35
Mediana de 10 anos
10,31
5,24
10,22
10,81
Fonte: Elos Ayta Consultoria
Vale investir nas ações do BBSA3 com foco no curto prazo?
Os riscos das ações do Banco do Brasil para quem busca retornos no curto prazo não valem o investimento. Com o mercado à espera dos resultados do 2T25, o papel pode sofrer novas quedas diante dos números que poderão ser entregues pela estatal hoje à noite. O Safra, por exemplo, estima uma queda de 50% do lucro líquido, em comparação ao mesmo período do ano passado.
Trator faz pulverização em plantação; agronegócio sofre com queda dos preços das commodities e alta dos custos dos insumos. (Imagem: Dusan Kostic em Adobe Stock)
Além dos problemas do agronegócio, o banco pontua que a inadimplência da carteira de crédito corporativo, especialmente de pequenas e médias médias empresas, devem pesar sobre os resultados financeiros. Veja nesta reportagem as estimativas de outros bancos e corretoras para o balanço do BB que será divulgado na noite desta quinta-feira (14).
Já o Itaú BBA estima a necessidade de um acréscimo de R$ 24 bilhões no provisionamento (reserva financeira para cobrir futuros calotes) da carteira de crédito da estatal, em função do aumento da inadimplência nos dois segmentos.
“Olhando para o curto prazo, estamos sendo muito conservadores. Reduzimos a nossa posição em Banco do Brasil nas carteiras de ganho de capital”, afirma Saravale.