- Na renda fixa, o rendimento das aplicações atreladas à inflação (como Tesouro IPCA+) deve começar a cair até o fim do ano
- Na Bolsa, as empresas ligadas à construção devem se beneficiar em um cenário de respeito às contas públicas e menores perspectivas para os juros e inflação no longo prazo
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), veio com uma surpresa positiva no mês passado. O indicador, que mede o avanço da inflação, registrou uma baixa de 0,68%, a maior da série histórica do IBGE. Isso significa que houve deflação no período e os produtos ficaram mais baratos. Veja as perspectivas de inflação para o fim do ano.
Leia também
Para agosto, mais uma queda é esperada: de acordo com o Boletim Focus, o IPCA deve registrar uma deflação de 0,19%. Esse processo vem das limitações impostas pelo governo na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre os combustíveis.
A diminuição da inflação promoveu uma volta por cima do Ibovespa. Somente em agosto, o principal índice de ações da B3 está em alta de 10,32%, após ter fechado julho com valorização de 4,69%. “A atividade está aquecida, o mercado de trabalho está aquecido e temos dinheiro do imposto fiscal com o aumento do Auxílio Brasil”, diz Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.
Publicidade
Vale lembrar, porém, que essa limitação do ICMS vai apenas até o fim de 2022 – ou seja, tem data para acabar. Para o ano de 2023, as perspectivas permanecem incertas.
Enquanto as medidas do governo seguraram o avanço da inflação no curto prazo, a subida dos juros pelo Banco Central não teve o efeito esperado no controle de preços. Entre março de 2021 e agosto de 2022, a taxa básica de juros da economia saiu de 2% ao ano para os atuais 13,75% ao ano, o pico da Selic de acordo com o Boletim Focus.
A partir de 2023, a expectativa é de corte na taxa. Contudo, segundo Piter Carvalho economista-chefe da Valor Investimentos, o IPCA só foi freado com o recente corte de impostos. No ano que vem, os problemas inflacionários devem voltar com ainda maior força, o que justifica a recomendação de cautela para os investidores.
“O Banco Central levou o Brasil para um dos maiores juros reais do mundo, e isso sem controlar a inflação. Esse remédio teve pouco efeito”, afirma Carvalho. “A retirada dos impostos ajudou a diminuir muito o peso da inflação, mas por outro lado o governo aumentou o gasto fiscal. A conta vem pesada no ano que vem.”
Na renda fixa, o rendimento das aplicações atreladas à inflação (como Tesouro IPCA+) deve começar a cair até o fim do ano, enquanto os atrelados a juros (como Tesouro Selic) devem render um pouco mais. “Quem tiver um portfólio mais diversificado terá bom resultado. Quem ficou só em ativos atrelados à inflação, terá um portfólio em queda até dezembro”, afirma Carvalho. “E ano que vem a inflação volta, os impostos voltam. O efeito é elástico, vira uma bola de neve.”
Publicidade
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, vê oportunidades em títulos ligados à inflação a partir de outubro, depois das eleições, desde que o novo governo se mostre comprometido com uma pauta fiscal ‘razoável’. “É um momento em que esses títulos podem se tornar bem interessantes”, afirma Costa.
Na Bolsa, as empresas ligadas à construção devem se beneficiar em um cenário de respeito às contas públicas e menores perspectivas para os juros e inflação no longo prazo. Costa também cita setores resilientes à volatilidade para o investidor atravessar esse período. “A parte de utilities (energia, água, saneamento) geralmente é um setor que protege os investidores frente às incertezas do cenário”, afirma Costa.
Já Marcos Moreira, sócio da Nexgen Capital, indica os títulos prefixados e híbridos (atrelados à inflação) para se beneficiar do possível início do corte de juros. Esses ativos tendem a se valorizar quando a expectativa é de uma taxa Selic menor, mas é importante que o horizonte seja de médio e longo prazo. “Destacamos o Tesouro IPCA+ e alguns títulos de crédito privado. Estes segundos podem ter um benefício fiscal para pessoa física, que é a isenção de imposto de renda”, afirma Moreira.