

A elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, anunciada no fechamento dos mercados nesta quarta-feira (19), reacendeu o debate sobre os efeitos dessa decisão na rentabilidade da caderneta de poupança. A taxa básica de juros, que está no maior nível desde outubro de 2016, se aproxima do ápice registrado durante a crise política e econômica do governo Dilma Rousseff. Com essa elevação, surge a dúvida entre os investidores: como fica a poupança com essa taxa tão alta?
Segundo especialistas ouvidos pelo E-Investidor, o impacto da Selic sobre a poupança é direto porque sua rentabilidade é atrelada a essa taxa, com uma remuneração de 0,5% ao mês, mais a Taxa Referencial (TR), calculada com base nos juros praticados pelas 20 maiores instituições financeiras do país. Com a Selic a 14,25% ao ano, a caderneta de poupança mantém sua fórmula de remuneração, mas seus ganhos continuam limitados, muito abaixo de outras alternativas disponíveis no mercado.
Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, explica que, mesmo com a Selic a 14,25% ao ano, os ganhos da caderneta de poupança permanecem relativamente baixos. A rentabilidade anual da poupança é de 6,17% ao ano mais a TR, o que torna esse investimento ainda pouco atraente para quem busca um retorno mais expressivo. Para Almeida, o cenário atual reflete a limitação da poupança como uma opção de investimento, especialmente quando comparada a alternativas como o Tesouro Selic, que segue a variação da taxa básica de juros e oferece retornos mais vantajosos.
“A poupança tem uma vantagem importante para muitos brasileiros: sua simplicidade e tradição. Para quem ainda não tem experiência com investimentos, ela pode ser o primeiro passo para criar o hábito de poupar e começar a investir”, diz. Almeida explica que a caderneta de poupança é uma maneira simples de incentivar esse comportamento, especialmente entre aqueles que não possuem muito conhecimento sobre o mercado financeiro. No entanto, ele alerta que, à medida que o investidor ganha mais experiência, é comum que ele busque opções que ofereçam maior rentabilidade e liquidez.
Alternativas mais rentáveis e líquidas
O Tesouro Selic, por exemplo, é uma opção muito mais vantajosa, oferecendo um rendimento diretamente atrelado à Selic, que já está em 14,25% ao ano. Almeida enfatiza que, com o valor mínimo de investimento de R$ 10, é possível acessar esse título público, considerado de baixo risco e altamente líquido. Ou seja, o investidor pode resgatar os recursos a qualquer momento, com a rentabilidade calculada diariamente.
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Na mesma linha, Marcel Andrade, responsável pela área de Soluções de Investimento da SulAmérica Investimentos, reforça que, com a Selic em patamares elevados, o retorno da poupança continua a ser muito inferior ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que fechou 2024 em 10,87%. Andrade observa que a rentabilidade da poupança ano passado foi de 7,03%, um retorno bem abaixo do CDI e dos títulos públicos. A recomendação dele é que a poupança continue a atender ao pequeno poupador, ou seja, àqueles que preferem segurança e simplicidade, mas não aos investidores que buscam maximizar seu retorno.
A rentabilidade da caderneta de poupança também é afetada por um aspecto muitas vezes ignorado pelos investidores: a liquidez. Embora a poupança seja uma aplicação com liquidez diária, ela só remunera de fato após completar 30 dias da data do depósito, o que pode ser visto como uma “liquidez ilusória”, como destaca Almeida. Ou seja, se o investidor resgatar o valor antes do prazo de 30 dias, ele não recebe a rentabilidade completa. Isso pode ser um problema para quem deseja uma aplicação realmente flexível, já que a liquidez dos títulos públicos, como o Tesouro Selic, é diária e mais eficiente.
Ainda assim, há um fator que mantém a caderneta de poupança no coração do investidor brasileiro: sua função no financiamento imobiliário. A poupança é a principal fonte de recursos para o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que financia a aquisição da casa própria. Os especialistas dizem que esse propósito macroeconômico faz com que a poupança tenha relevância para a economia como um todo, mesmo que sua rentabilidade seja inferior à de outros investimentos. Além disso, a caderneta de poupança é vista por muitos como uma opção segura. Não há risco de crédito, já que os recursos são garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até R$ 250 mil por CPF.
Como fica a poupança com a Selic elevada
Com a Selic em 14,25%, é improvável que a caderneta de poupança volte a ser uma alternativa competitiva para aqueles que buscam maximizar seus rendimentos, afirmam os especialistas. A rentabilidade da poupança pode até parecer interessante em comparação a investimentos com retornos muito baixos, mas, ao se considerar outras opções mais rentáveis e com segurança similar ou até superior, como o Tesouro Selic e os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de grandes bancos, a poupança perde espaço.
Josiane Francisco Silva Righi, especialista de Investimentos do Sistema Ailos, também aponta as vantagens do Tesouro Selic para investidores com perfil mais conservador. Ela observa que o Tesouro Selic oferece maior liquidez, rentabilidade e segurança, já que é emitido pelo Tesouro Nacional, uma das entidades mais seguras do mercado. Além disso, com a liquidez diária, o Tesouro Selic é uma opção atrativa para quem busca uma reserva de emergência ou um investimento de baixo risco.
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Mas ela alerta: “Esses investimentos estão sujeitos à incidência de Imposto de Renda sobre os rendimentos e ao IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] em resgates realizados antes de 30 dias, o que torna o prazo de aplicação um fator relevante para garantir ganhos superiores à poupança.
Riscos e oportunidades
Em cenários de juros elevados, a decisão sobre a alocação de recursos em renda fixa versus renda variável depende do perfil do investidor e de seus objetivos financeiros, aconselham os analistas. Investidores mais conservadores, que não estão dispostos a enfrentar a volatilidade da renda variável, devem optar por alternativas mais seguras, como o Tesouro Selic, que combina liquidez e rentabilidade superior à poupança. Já investidores com um perfil mais arrojado podem considerar aumentar sua exposição à renda variável, lembrando que, historicamente, ações tendem a apresentar rentabilidade superior no longo prazo, apesar da volatilidade.
Independentemente da escolha entre poupança, renda fixa ou variável, o mais importante é que o investidor tenha um objetivo claro para sua alocação e considere o tempo ideal para o resgate dos recursos. Em períodos de juros altos, como o atual, o planejamento é ainda mais fundamental, explicam os especialistas, porque o risco de um investimento inadequado pode ser maior, impactando o retorno esperado. “Planejamento e diversificação são essenciais para equilibrar segurança e retorno, tanto em renda fixa quanto em renda variável. No atual cenário de juros elevados, há muitas oportunidades para investidores bem-informados, que devem buscar estratégias alinhadas aos seus objetivos”, orienta Righi.
Simulação
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), elaborou uma análise sobre o rendimento de investimentos na poupança e em outros ativos de renda fixa considerando a atual taxa Selic. Para isso, foi utilizada a previsão de 5,66% para o IPCA, conforme o Boletim Focus, além de uma rentabilidade anual de 7,1% para a poupança. A simulação calcula a rentabilidade bruta, líquida (descontadas taxas e impostos) e real (ajustada pela inflação) de um investimento de R$ 1 mil em diferentes tipos de títulos. Confira os resultados a seguir:
Investimento | Rent. Bruta em 1 ano | Tx. Adm. | IR% em Reais | Rentabilidade Líquida em Reais | Valor Real (descontada a Inflação) |
---|---|---|---|---|---|
LCA 97% | 13,82% | 0% | 0 | 138,23 | 73,80 |
LCI 97% | 13,82% | 0% | 0 | 138,23 | 73,80 |
CDB 116% | 15,68% | 0% | 31,35 | 125,40 | 61,70 |
Tesouro Selic + 0,01% aa | 14,25% | 0,25% | 27,93 | 111,71 | 48,79 |
Fundo DI | 14,25% | 0,50% | 27,36 | 109,43 | 46,64 |
Poupança Nova | 8,20% | 0% | 0 | 82,00 | 20,76 |
Poupança Antiga | 8,20% | 0% | 0 | 82,00 | 20,76 |
Fundo DI2 | 14,25% | 1% | 26,22 | 104,86 | 42,32 |
Fundo DI3 | 14,25% | 2% | 23,93 | 95,72 | 33,70 |