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- Mesmo com as restrições sociais, a maioria das performances dos BDR´s chineses não apresentou quedas no acumulado desta semana
- Segundo analistas, a guerra entre Rússia e Ucrânia impacta mais as ações das BDR´s. chinesas do que o lockdown em Xangai
- Assim como acontece na Europa, um dos motivos se deve a dependência da China pela energia vinda da Rússia
Desde a última segunda-feira (28), a cidade mais populosa da China, Xangai, segue em lockdown devido ao surto de novos casos de covid-19. A medida faz parte de uma das estratégias de “tolerância zero” do gigante asiático contra a doença. Mas o anúncio das restrições de convívio social ainda não teve um impacto significativo no desempenho das ações das empresas chinesas com BDRs listados na B3, pelo menos não ao ponto de despertar grande preocupação aos investidores brasileiros.
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De acordo com os dados da Economatica, dos 21 BDRs (Brazilian Depositary Receipts, na sigla em inglês) de companhias chinesas e da ilha de Hong Kong listados na Bolsa de Valores brasileira, apenas os BDRs das empresas Melco Resorts & Entretenimento (M1LC34) e Baidu (BIDU34) apresentaram performance negativa no acumulado desta semana, com quedas de -1,6% e -0,31%, respectivamente. Por outro lado, ao olhar para o acumulado mensal, o cenário se inverte. Do total de ativos, apenas quatro registraram retornos positivos, enquanto o restante sofreu quedas que chegaram a 21%.
Eduardo Grübler, gestor de renda variável da Warren, explica que a razão para essa diferença está relacionada com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Como a potência asiática é dependente do fornecimento de energia vinda da Rússia, o conflito coloca em risco a manutenção da atividade econômica chinesa.
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“A queda forte aconteceu junto com o início do conflito e agora, como os mercados globais estão reagindo de uma forma melhor em relação à guerra, os BDRs chineses reagiram da mesma maneira”, explica. O movimento demonstra, na avaliação dele, que os conflitos no leste europeu possuem mais influência na economia chinesa do que lockdown em Xangai na precificação dos papéis.
Confira as cinco melhores performances de BDRs chineses no acumulado desta semana
BDRs Chineses |
Retorno no acumulado de 25/03/2022 a 30/03/2022
|
Iqiyi, Inc. (I1QY34) | 19,33% |
Kingsoft Cloud Holdings Ltd (K2CG34) | 15,32% |
Autohome Inc. (K2CG34) | 10,24% |
Tal Education Group (T1AL34) | 9,15% |
Trip.Com Group Ltd (CRIP34) | 7,53% |
Fonte: Einar Rivero/Economatica |
Por isso, o gestor de renda variável da Warren acrescenta que as medidas do governo chinês em conter os casos de covid-19 em Xangai podem ser uma estratégia de reduzir os custos com energia. Assim como acontece na Europa, o fornecimento de energia ficou prejudicado com a guerra. “Algumas indústrias fecharam por falta de energia e uma parte da energia consumida da China vem da Rússia. Nos últimos dias, não temos tido redução da guerra. Então, não sabemos o quanto é sanitário e o quanto é pela questão energética”, ressalta Grübler.
Já na visão de Alberto Amparo, head de análise internacional na Suno Research, o lockdown pode representar um problema pontual para os investidores brasileiros. Isso porque, na avaliação dele, a ideia de investir no mercado chinês deve ser pautada na perspectiva de retornos a longo prazo. “Se você parar para refletir, esse lockdown é muito menos severo do que o anterior. Deve trazer volatilidade para ação no próximo trimestre ou no próximo semestre, mas isso é indiferente no longo prazo”, argumenta Amparo.
Além disso, algumas companhias podem se beneficiar com a imposição de um novo isolamento social. É o caso da gigante Alibaba (BABA34), companhia chinesa especializada em e-commerce. “A principal forma de monetização da Alibaba é por meio de duas plataformas digitais de marketplaces. Então, o e-commerce é beneficiado por isso”, afirma.
De acordo com a agência Reuters, o surto de covid-19 é o maior em dois anos. No entanto, a maioria dos casos confirmados é assintomática. Na última terça-feira (29), Xangai registrou 4.477 casos da doença. Desse total, apenas 2,1% apresentaram sintomas. Mesmo assim, a situação trouxe um alerta para a economia chinesa. Ainda segundo a agência internacional, pelo menos 15 companhias chinesas interromperam o processo de oferta pública inicial (IPO).
Ações descontadas
Ao olhar para o acumulado do ano, as performances das ações das BDRs sofreram uma forte desvalorização. As empresas do setor de educação, por exemplo, estão na lista das que mais recuaram de janeiro até os últimos dias de março. Segundo Felipe Arrais, especialista em investimentos globais da Spiti, o principal motivo está relacionado às intervenções do governo chinês nessas companhias para que elas não dessem mais lucro devido ao modelo de educação que estava sendo ofertado.
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“Havia empresas do setor que estavam ofertando cursos para “treinar” estudantes para fazer determinadas provas e não oferecer educação de qualidade. Pelo menos, essa era a visão do governo. Por isso, resolveram intervir”, explica Arrais. “O custo da educação estava subindo muito e ficando inacessível”, acrescentou.
O risco de “delistagem” de algumas companhias chinesas no mercado norte-americano também foi outro fator que abalou algumas performances. O especialista da Spiti comenta que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, a SEC (Securities and Exchange Commission, na sigla em inglês), exige um certo nível de transparência das empresas chinesas, o que não está sendo atendido. “O governo chinês nem sempre está disposto a colaborar com esse tipo de transparência. Então, há uma ameaça de retirar as empresas listadas na bolsa norte-americana”, afirma.
Confira as ações de BDRs chinesas mais descontadas no acumulado deste ano
BDRs Chineses | Retorno no acumulado do ano* |
Tal Education Group (T1AL34) | -30,8% |
Melco Resorts & Entertainment Ltd (M1LC34) | -32% |
Pinduoduo Inc. (P1DD34) | -36,8% |
New Oriental Education & Technology Group Inc. (E1DU34) | -43,6% |
Bilibili Inc. (B1IL34) | -50,2% |
Fonte: Einar Rivero/ Economatica |
O que fazer?
Até o momento, não há como mensurar o impacto do lockdown para as empresas chinesas. Mas na avaliação de Amparo, o investidor brasileiro deve ficar atento aos detalhes das companhias e não focar apenas para o movimento de mercado. Segundo ele, são nesses momentos de estresse que podem ser encontradas boas oportunidades de investimento.
“Agora é um momento muito mais atraente de você “garimpar” dentro da China do que um ano atrás quando o índice chinês estava muito maior”, ressalta. Para ele, um dos destaques do mercado chinês é o grupo Alibaba que está com preços descontados mesmo apresentando bons resultados.
“Muita gente associa com a Amazon, mas o Alibaba monetiza de forma mais parecida com o Google. A empresa não tem estoque próprio. É tudo marketplace de terceiros e eles ganham mais dinheiro com marketing de performance (empresas que pagam para aparecer em primeiro nas principais pesquisas) do que por taxação de serviço”, destaca Amparo.
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Já a Warren Investimentos, por exemplo, aumentou a sua posição no setor de energia da China. Segundo Grübler, a corretora enxerga que há oportunidades de bons retornos devido aos recentes investimentos que o país tem feito em energia para continuar como uma potência global. “A China está investindo em energia antes mesmo da guerra entre Rússia e Ucrânia. Então, a gente acredita que o país deve acelerar esse tipo de investimento”, explica o gestor de renda variável.
Essa aposta da potência asiática é na energia nuclear. Segundo uma reportagem da Bloomberg, publicada em novembro do ano passado, a China anunciou que pretende construir 150 reatores nos próximos 15 anos. O valor do investimento deve chegar a US$ 440 bilhões.