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Barsi estava certo? Grupo de ações rende mais do que o CDI em 10 anos

Levantamento realizado pela ComDinheiro mostra que 36 ações do Ibovespa superaram o CDI em 10 anos. Confira!

Barsi estava certo? Grupo de ações rende mais do que o CDI em 10 anos
Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física brasileiro (Foto: Alex Silva/Estadão)
  • Em um intervalo de 10 anos, as ações da PRIO (PRIO3) conseguiram entregar aos seus acionistas um retorno superior a 3.000%
  • Já quem investiu apenas para receber os retornos do CDI teve uma rentabilidade de 143,16% durante o mesmo período
  • Em tempos de Selic a dois dígitos, a rentabilidade do CDI se torna referência de retorno mínimo exigido pelos investidores para qualquer investimento

A partir da próxima quarta-feira (18), os investidores brasileiros podem se deparar com uma retomada de alta da Selic, enquanto os Estados Unidos (EUA) dão as boas vindas para o ciclo de queda de juros. A mudança no cenário doméstico enaltece os ativos de renda fixa, que ganharam destaque com o surgimento dos títulos IPCA+6%, e pode colocar de escanteio as ações da bolsa de valores. Mas o brilho do mercado acionário pode ser visto no longo prazo, quando a tese de Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física da B3, se confirma.

Um levantamento realizado pela ComDinheiro, a pedido do E-Investidor, mostrou que 36 ações listadas no Ibovespa, principal índice da B3, conseguiram ultrapassar o Certificado de Depósito Bancário (CDI) em um intervalo de 10 anos. Em tempos de Selic a dois dígitos, o CDI, que tende a acompanhar o movimento da taxa de juros, se transforma em uma referência de retorno mínimo exigido pelos investidores para qualquer investimento, principalmente para os ativos de renda fixa.

Os dados levaram em consideração tanto a rentabilidade do papel na Bolsa quanto o pagamento de dividendos. Quando olhamos para as companhias, as ações da Prio (PRIO3) foram o grande destaque. Enquanto o CDI entregou um retorno de 143,16%, o papel da petroleira entregou para os seus investidores um retorno surpreendente de 3.506,54% no acumulado de agosto de 2014 a agosto de 2024.

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A título de comparação, o ganho foi superior em 2,4 mil pontos porcentuais acima do retorno das ações da Weg (WEGE3) que ficaram na segunda colocação no ranking das companhias com um desempenho acima do CDI. “A empresa implementou um plano de reestruturação bem-sucedido, focando em ativos maduros e reduzindo custos operacionais. Além disso, aquisições estratégicas, como a compra de ativos da Petrobras, ampliaram sua base de produção e reservas”, diz Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Rocha Opções de Investimentos.

Os papéis da Equatorial (EQTL3) e Raia Drogasil (RADL3) apareceram em seguida com retornos de 747,1% e de 717,3%, respectivamente. Bancos, empresas ligadas a commodities e até outras varejistas, como a Magazine Luíza (MGLU3), conseguiram superar o CDI entre os anos de 2014 e 2024. A explicação para a presença de companhias de diversos setores econômicos está na qualidade da gestão operacional e na capacidade de entregar resultados.

“As empresas saudáveis conseguem performar acima do índice de renda fixa. Ou seja, a robustez da companhia em si e como ela enfrenta os ciclos econômicos ajudam a ter um desempenho superior à média do seu setor”, diz Filipe Ferreira, diretor da Nelogica e responsável pela plataforma Comdinheiro.

Por que o Ibovespa não supera o CDI?

O desempenho das ações destoa do retorno do Ibovespa durante o mesmo período. A análise da ComDinheiro mostra que, enquanto 36 ações entregaram rentabilidades acima de 143,16%, o principal índice da B3 teve um desempenho de 141,59%. Ou seja, cerca de dois pontos porcentuais abaixo do CDI. A resposta para entender a diferença entre as performances está na composição da carteira teórica do Ibov.

Como mostramos nesta reportagem, cerca de 36% das ações listadas são de empresas ligadas a commodities, que possuem retornos voláteis por estarem suscetíveis aos ciclos econômicos. Há também o peso do setor financeiro, que tem passado por desafios com a ascensão das fintechs. “O Ibovespa tem uma série de empresas que vão ficando pelo meio do caminho por serem mais suscetíveis aos ciclos econômicos ou problemas dos setores. Então, eventualmente, empresas menores que ainda estão se testando entram no índice e machucam um pouco o resultado”, ressalta Ferreira.

A instabilidade política também impede que o Ibovespa consiga ter um desempenho maior em comparação ao CDI. Na reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), o colegiado decidiu interromper o ciclo de queda da Selic e manter a taxa básica de juros a 10,50% ao ano. Já em agosto, as grandes gestoras e bancos de investimentos, como a SPX Capital e BTG Pactual, defendem um novo ciclo de alta da Selic para conter a alta da inflação em meio ao descrédito do governo em cumprir com as metas fiscais.

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A alternativa não é unânime no mercado, mas tem ganhado força nas últimas semanas ao passo que o mercado espera por um ajuste de 0,25 pontos-base da Selic na próxima quarta-feira (18). Por outro lado, a expectativa de queda de juros nos Estados Unidos deve aumentar o apetite a risco dos investidores estrangeiros que devem buscar oportunidades em mercados emergentes, como o Brasil. Desde que os investidores passaram a projetar a queda de juros para setembro, houve uma reação e o saldo do capital estrangeiro na B3 voltou a ficar positivo.

Com a perspectiva no radar, julho e agosto registraram uma captação líquida (diferença entre saque e aportes) de R$ 7,3 bilhões e R$ 10 bilhões, respectivamente. O Ibovespa, o principal índice da Bolsa, se beneficiou com esse fluxo e fechou agosto com alta de 6,5% no acumulado mensal. Ao observar esse movimento, a Monte Bravo acredita que o Ibovespa poderá superar o CDI nos próximos 12 meses.

A projeção da corretora aponta para um retorno de 17,6%, enquanto o CDI deve ficar em torno de 11,3%. “Os ativos brasileiros vão se beneficiar do fluxo estrangeiro por conta dos cortes do Fed. No entanto, a incerteza fiscal continua mantendo o risco Brasil elevado, o que limita uma arrancada mais forte dos ativos domésticos”, informou a corretora em carta mensal de setembro.

Barsi estava certo ao afirmar que renda fixa é perda fixa?

O retorno do ciclo de aperto monetário favorece os ativos de renda fixa atrelados à Selic que ficam mais rentáveis à medida que as taxas de juros sobem. Isso significa que, durante os períodos de juros a dois dígitos, o fluxo de capital dos investidores tende a ir em direção a essa classe de ativos devido à sua rentabilidade e baixo risco. Já o mercado de ações costuma ser penalizado pelo ambiente econômico desfavorável, que pode impactar os seus resultados operacionais, e pela exigência dos investidores por retornos maiores no curto prazo.

Para o megainvestidor Luiz Barsi, construir uma carteira de investimentos com base apenas nesta ótica de curto prazo não garante retornos satisfatórios e, quando se trata de um portfólio voltado para a previdência, os ativos de renda fixa se transformam em um perda fixa visto que o governo emite os títulos públicos para financiar as suas operações, o que resulta em um gasto a mais para o país. A visão do rei dos dividendos foi compartilhada durante a pré-estreia do documentário “INSS: bomba-relógio do Brasil” em junho deste ano. Veja os detalhes nesta reportagem.

Ferreira também concorda com o ponto de vista do rei dos dividendos. Na visão dele, a emissão de títulos públicos com prêmios atrativos ofusca as oportunidades das bolsas e gera uma dívida para o governo que deverá ser paga no curto, médio ou longo prazo. Já investindo em ações, o investidor se torna sócio dessa empresa e ajuda no crescimento da companhia. “Se a empresa paga dividendos, é porque a sua operação é lucrativa que permite que ela tenha dinheiro no caixa para distribuir lucros”, ressalta Ferreira ao falar sobre o mercado acionário.

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