- Os primeiros meses de 2023 no mercado de crédito privado foram marcados por volatilidade e resgates acentuados
- Agora, passado a tempestade, este mercado vive um momento de inflexão – e pode ser uma boa oportunidade para quem estiver atrás de investimentos para manter um rendimento mais elevado da renda fixa
- Especialistas mostram o que precisa ser avaliado na hora de escolher um título, para além da taxa de retorno oferecida
Os primeiros meses de 2023 no mercado de crédito privado foram marcados por volatilidade e resgates acentuados. Os episódios envolvendo a Americanas e a Light, ambas em recuperação judicial e com os pagamentos de dívidas interrompidos, criaram um ambiente de pânico entre os investidores, que temiam que a crise nas duas empresas poderia ser o início de um problema generalizado na indústria de dívidas corporativas.
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Com a Selic ainda estacionada em 13,75% ao mês, fazia pouco sentido optar por um título privado ao invés de um título público, de grau de risco bem menor.
Agora, passado a tempestade, este mercado vive um momento de inflexão – e pode ser uma boa oportunidade para quem estiver atrás de investimentos para manter um rendimento mais elevado da renda fixa, em um momento em que a taxa de juros brasileira começou a cair. A mesma coisa tem acontecido com os fundos de renda fixa, como contamos aqui.
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Os prêmios de crédito, aquele percentual a mais que essa classe de ativos remunera em comparação aos títulos públicos, variam principalmente por dois fatores: fundamentos da instituição emissora, e fluxo de compra e venda. Como a crise na Americanas e na Light gerou uma forte pressão vendedora nesses ativos, houve uma abertura nesses percentuais de remuneração até mesmo em títulos considerados defensivos, como aqueles emitidos por empresas Triple A.
O que acontece agora é o movimento contrário. Os investidores voltaram a ter confiança nesse mercado e retomaram os aportes. Ao mesmo tempo em que o desempenho dos fundos e ativos de crédito privado melhoraram com a marcação a mercado. Tudo isso deu início a uma compressão nos prêmios de crédito. Daí o cenário de inflexão – a partir de agora, a tendência é que as taxas oferecidas nas debêntures diminuam.
Esta seria, portanto, uma janela final para investir em títulos de dívidas de empresas de qualidade com retornos que ainda estão acima do patamar histórico.
“O melhor momento para comprar crédito era abril, quando os fundos de crédito voltaram a performar muito bem, mas ainda temos uma janela de oportunidade”, explica Odilon Costa, head de renda fixa da SWM. “Papéis que pagavam CDI mais 1,5%, passaram a pagar CDI mais 3%, independente do setor. Mesmo empresas de energia, que são ultra defensivas, tiveram uma abertura de seu prêmio de crédito por causa do movimento vendedor.”
Como escolher as melhores
Um levantamento feito pela Economatica a pedido do E-Investidor mostra que entre as debêntures ativas precificadas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) é possível encontrar títulos de dívidas emitidos por empresas de diferentes setores, com variados prazos de vencimento e, sobretudo, diferentes remunerações.
Há opções com taxas pós-fixadas, com retorno a 110% do CDI, por exemplo. Outras, pré, que remuneram o investidor CDI mais uma taxa de 3% ou o IPCA acrescido de uma taxa de 7%.
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Mas é preciso atenção a todos esses fatores para não acabar escolhendo um ativo com um grau de risco muito elevado. Ainda que sejam títulos de renda fixa, a classe de crédito privado está sujeita ao risco de crédito – a possibilidade de que a empresa emissora da dívida não honre com as suas obrigações; o famoso “calote”. Geralmente, quanto maior a taxa oferecida por um papel, maior o risco envolvido naquele investidor.
Por isso, especialmente para os investidores iniciantes, a recomendação de especialistas é optar por aqueles ativos de empresas Triple A, de setores considerados defensivos e com baixa alavancagem, ainda que as taxas de retorno não sejam as maiores entre as opções do mercado. Os papéis das utilities, aquelas empresas do setor de energia, saneamento e gás, costumam ser a principal aposta.
“Essas empresas trabalham normalmente com contratos já fechados de longos prazos, como 10, 20 e 30 anos, ou seja, o investidor já sabe que elas terão receitas recorrentes a receber. Isso proporciona um pouco mais de ‘segurança’”, explica Jaqueline Benevides, head de renda fixa da InvestAi.
Também é preciso avaliar com calma algumas outras informações. A primeira de todas talvez seja a saúde financeira da empresa. Entender se aquela companhia está alavancada, qual o seu nível de endividamento em relação aos pares do setor, como está o fluxo de caixa das operações. Informações que são disponibilizadas nos sites de RI das companhias.
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“Empresas alavancadas são mais arriscadas, assim como fluxos de pagamentos mais longos e sem montantes elevados monetários para o mesmo período são mais saudáveis”, destaca Benevides.
Para a especialista, também é preciso checar o que a empresa pretende fazer com os recursos captados via títulos de dívidas. Se o capital será utilizado para expandir a operação da empresa e gerar valor – mais positivo para o investidor – ou para quitar uma dívida, por exemplo. “Se for para quitar uma dívida, o investidor deve ficar mais atento, pois o risco aumenta e, nesse caso, ele deve pedir uma taxa maior para entrar no papel”, pontua a head de renda fixa da InvestAi .
No site da Anbima, na aba de DEB/CRI/CRA, é possível consultar a média de taxas praticadas pelas empresas com debêntures ativas.
Em termos de indexadores, os especialistas veem mais oportunidades nos títulos híbridos; aquelas com um componente pós-fixado, como IPCA ou CDI, e uma taxa prefixada adicional.
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Odilon Costa, da SWM, tem duas preferências no momento. Para prazos de vencimento mais curto, aqueles títulos ligados ao CDI mais uma taxa pré. Para janelas mais longas, os ligados à inflação.
“Enxergamos essa troca de % do CDI por CDI+ como benéfica para a carteira dos investidores. Por mais que a trajetória da Selic seja de queda, ainda faz sentido e é bem atrativo para um carrego em janela de 12 a 24 meses”, destaca. “Para a parte longa, gostamos de ativos IPCA+, porque o principal é proteger o patrimônio do investidor.”