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Os fundos de renda fixa voltaram ao radar. Como escolher os melhores?

Classe de ativos começa a se recuperar após início de ano ruim com problemas na Americanas e Light

Os fundos de renda fixa voltaram ao radar. Como escolher os melhores?
Classe de ativos está se recuperando após início de ano ruim. (Foto: Envato)
  • Os fundos de renda fixa estão voltando às carteiras dos investidores, depois de um início de ano bastante atípico – e negativo – para a classe
  • Passados os problemas com a Americanas e a Light, que balançaram esse mercado no início do ano, fundos apresentam oportunidades mesmo com a queda da Selic
  • Especialistas elencam o que precisa ser avaliado na hora de investir

Os fundos de renda fixa estão voltando às carteiras dos investidores, depois de um início de ano bastante atípico – e negativo – para a classe. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 0s ativos tiveram uma captação líquida de R$ 22,4 bilhões em agosto, ajudando a manter toda a indústria brasileira de fundos de investimento no azul pelo segundo mês consecutivo.

Para Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, a captação dos fundos pode ser um sinal de que investidores estão aumentando gradualmente o grau de apetite a risco em busca de maior rentabilidade. “Existe uma maior previsibilidade e estabilidade nos cenários econômico e político que permitem esta estratégia. A expectativa do mercado é de que o corte de 0,5% na Selic em agosto seja o início do ciclo de queda da taxa de juros, o que levará cada vez mais investidores a aumentarem suas posições em ativos mais arriscados”, destaca.

Mas não é só isso. Nos primeiros meses do ano, os fundos de renda fixa, em especial aqueles ligados ao crédito privado, sofreram muito com a crise na Americanas (AMER3) e na Light (LIGT3).

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Com as duas companhias entrando em recuperação judicial e interrompendo os pagamentos dos títulos de dívida corporativa, o mercado foi tomado por um sentimento de aversão a risco generalizado que resultou em uma onda de resgates nos fundos de renda fixa. Por causa da marcação a mercado, boa parte dos ativos viu suas rentabilidades ficarem no negativo – um movimento que não é muito comum, especialmente em investimentos tidos como de baixo risco.

O que também pode estar acontecendo agora, meses depois dos problemas, é a normalização daquele sentimento de aversão à classe de fundos de renda fixa. Investidores entenderam que os episódios na Americanas e na Light foram pontuais e não uma crise generalizada, e começaram a voltar o capital para esse tipo de investimento. Principalmente em um momento em que a taxa de juros começou seu ciclo de queda e o retorno do CDI, por consequência, também vai diminuir.

Essa é a leitura de Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP. “À medida que o tempo passa, a performance dos fundos está boa e não tem novos problemas, as pessoas fizeram um balanço. Passado o estresse, esses ativos não só estão se recuperando, como provavelmente podem fazer isso de forma mais rápida do que se imaginava”, explica.

Atrativos mesmo com a queda dos juros

Agora que a volatilidade acentuada causada pelos eventos Americanas e Light passou, especialistas enxergam boas oportunidades entre os fundos de renda fixa. O estresse dos primeiros meses do ano elevou a taxa dos títulos de crédito privado, mesmo aqueles emitidos por empresas consideradas de muita qualidade.

No mesmo período, em meio às incertezas fiscais que ditaram o ritmo do mercado entre fevereiro e março, a curva de juros brasileira teve uma abertura, aumentando o rendimento de títulos prefixados e atrelados ao IPCA. Tudo isso abriu uma oportunidade para que gestores incluíssem na carteira ativos com taxas maiores, o que aumenta a rentabilidade entregue pelos fundos aos investidores.

“Quase todos os fundos sofreram nesse período, mas quem fez o seu trabalho de casa soube aproveitar para comprar muita coisa que ficou muito barata porque o estresse foi generalizado”, explica Sgavioli, da XP. “Um padrão médio de retorno que esperamos de um fundo dessa categoria é CDI mais 1%, mais 1,5%. Depois desses eventos, tem muito fundo CDI mais 2,5%, até CDI mais 3%. 2,5, CDI+3. São oportunidades excelentes para ativos de risco relativamente baixo.”

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Ainda que o mercado espere pela queda do CDI daqui para frente, a expectativa dos especialistas é que a classe de ativos continue atrativa aos investidores. Primeiro, porque a Selic deve permanecer em dois dígitos até meados de 2024. Segundo, porque a queda dos juros pode fazer as cotas desses fundos se valorizarem com a marcação a mercado.

“A hora que os juros começaram a arrefecer, os fundos de renda fixa vão estar performando muito bem com a marcação ao mercado desses títulos que gestores compraram com boas taxas de retorno. O investidor pode pegar uma bela onda, se olhar com carinho para esses ativos pensando no futuro”, destaca Jaqueline Benevides, head de renda fixa da InvestAi.

Como escolher os melhores?

Assim como em qualquer fundo de investimento, na renda fixa também é preciso escolher bem em qual ativo e gestora apostar. Nessa outra reportagem, mostramos que existem opções ganhando quatro vezes mais do que o CDI em 2023; enquanto ainda há fundos operando no negativo em 2023.

Com tantas opções no mercado, alguns fatores precisam ser avaliados. Separamos os alguns deles:

  • Perfil de investidor

Ainda que especialistas acreditem que este pode ser um bom momento para investir em fundos de renda fixa, o tamanho desses aportes vai depender do perfil de risco do investidor. Dentro da própria classe, é possível encontrar ativos mais ou menos arriscados – como os fundos DI, menos voláteis, ou aqueles fundos focados em crédito privado, que podem oscilar mais.

Rodrigo Sgavioli, da XP, explica que, com a queda da Selic, o mix de indexadores da carteira de renda fixa muda, com mais espaço para prefixados e atrelados à inflação. O que também implica em um grau maior de volatilidade. “Para manter a rentabilidade nos patamares dos últimos 12 meses, o investidor precisa aceitar um pouco mais de risco nos 12, 24 meses para frente. Deixar a carteira chacoalhar um pouco mais, se expor um pouco mais a crédito, e/ou tomar um pouco mais o risco de iliquidez, tendo menos fundos de resgate D1.”

Mas isso vai variar de acordo com o grau de risco que cada investidor se sente confortável.

  • Histórico do fundo

Um ponto importante na escolha do fundo é o seu histórico de rentabilidade. Não somente em uma janela de curto prazo, como o próprio ano ou os últimos 12 meses, mas uma média de performance histórica. Como o fundo se comportou nos meses de crise, em quais títulos investe, quem é o time responsável pela gestão e a quanto tempo a equipe trabalha junto. Todas essas informações podem ser checadas nos sites das gestoras ou nas corretoras de investimento que distribuem os ativos.

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“Não é interessante que o investidor analise somente a rentabilidade nos últimos 12 meses, que pode ter sido impactada algum fator específico, mas a média histórica”, pontua Lucas Rufino, CEO e fundador da Simpla Invest. “É preciso analisar também a composição em termos de indexadores, os títulos que tem naquela carteira para saber se o fundo tem uma boa gestão.”

  • Taxa de administração

Os fundos de investimento cobram taxas de administração como uma forma de pagamento aos serviços de gestão ativa. Uma cobrança que também precisa ser avaliada, para não levar embora parte do retorno do investidor.

“Atualmente o investidor tem muita taxa de retorno fácil em CDBs, por exemplo, onde ele não precisa ficar pagando taxa de administração. É preciso atenção na taxa cobrada, porque se você está pagando para um gestor ser mais assertivo, ela precisa estar condizente com a performance dele”, destaca Jaqueline Benevides, da InvestAi.

 

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