O que este conteúdo fez por você?
- De acordo com a pesquisa feita pela Global Fashion Agenda, uma organização sem fins lucrativos, a indústria da moda foi responsável por 4% das emissões de CO2 no mundo em 2018
- Devido à pressão de consumidores e também governamentais, as companhias têm buscado tornar as suas cadeias de produção mais sustentáveis
- No Brasil, o processo ainda é mais lento. No entanto, as empresas do setor de moda se destacam em outros pilares de ESG, como a governança e questões sociais
As companhias do setor de moda têm buscado nos últimos anos tornar a sua cadeia produtiva mais sustentável e alinhada às outras pautas da sigla ESG (ambiental, social e governança, em português). As principais marcas mundiais até estabeleceram metas para que todos os seus prédios e unidades de venda utilizem energia renovável. Aqui no Brasil, o processo ainda é lento quando o assunto é tornar a cadeia produtiva mais sustentável. No entanto, algumas marcas são destaques nas práticas sociais e governamentais.
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Os dados mais recentes sobre o impacto da indústria da moda para o meio ambiente apontam que o setor produziu em 2018 cerca de 2,1 bilhões de toneladas de CO2, segundo a pesquisa feita pela Global Fashion Agenda, uma organização sem fins lucrativos. O volume é equivalente a 4% das emissões globais. A produção dos materiais para a confecção de vestuários e calçados é o setor da cadeia produtiva mais poluente.
Já o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambientes (PNUMA) mostra que a indústria da moda é responsável pelo descarte de 20% das águas residuais do mundo (água descartada após uso em atividade humana). De acordo com Arthur Siqueira, sócio-diretor da GeoCapital, devido ao impacto da moda para o meio ambiente, as empresas foram pressionadas a rever a sua cadeia de produção e adotar mudanças para torná-las mais sustentáveis. “As empresas estão buscando caminhos para a emissão zero. Há algumas marcas que pretendem atingir essa meta em 2030, enquanto outras em 2040”, explica Siqueira.
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Para alcançar esse objetivo, o sócio-diretor da GeoCapital explica que a primeira mudança feita pelas companhias é trocar a fonte dos seus insumos de produção. Um exemplo dessa prática é a troca da matriz energética a base de queima de óleo e carvão para as renováveis. “A VF Corporation (VFCO34), dona da Vans e da Timberland, pretende trocar a atual fonte de energia para energia renovável de todos os seus prédios e lojas até 2025. A Nike (NIKE34) já usa 100% de energia renovável nos Estados Unidos e também no Canadá”, ressalta Siqueira.
O olhar mais atento do consumidor para essas pautas de sustentabilidade também tem pressionado as companhias. De acordo com Rodrigo Lima, analista de investimentos da Stake, há uma parcela significativa da sociedade que leva em consideração a forma como os produtos foram produzidos antes de comprar. “É um movimento que vem ganhando força em todas as esferas da sociedade, seja por questões sustentáveis e até trabalhistas. Você vê também uma redução do consumo do couro e um aumento do uso do couro sintético”, ressalta Lima.
Ao perceber esse movimento, Siqueira afirma que, devido à pulverização do processo de produção, as empresas também têm sido mais criteriosas nas escolhas dos locais onde irão terceirizar alguns de seus serviços. “As empresas precisam garantir que seus fornecedores também tenham práticas mais sustentáveis”, ressalta Siqueira.
As leis governamentais também contribuíram para esse movimento de mudanças. Segundo Guilherme Zanin, analista da Avenue Securities, a Europa é a região mais avançada nesse processo. Um exemplo é a obrigatoriedade da troca da matriz energética para o setor automotivo que agora investe para a produção de carros elétricos. “Isso também vale para o setor de consumo da moda. Então, a gente vê que há uma pressão do governo aliada a pressão dos consumidores”, destaca Zanin.
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No entanto, para quem busca por investimentos alinhados às pautas ESG, o analista da Avenue Securities afirma que há alguns diversos fundos no mercado internacional que investem em empresas sustentáveis. “Um exemplo é o Invesco MSCI Sustainable Future ETF (ERTH) que é bem conhecido por investir em empresas sustentáveis. Eles fazem toda a seleção para escolher as empresas que estejam em conformidade com as pautas de ESG. Temos também a Fidelity Clean Energy ETF (FRNW)”, cita Zanin sobre fundos de investimentos.
Realidade no Brasil
No entanto, essa realidade de mudanças mais significativas ainda está distante para as companhias brasileiras. Como não há dados consolidados e atuais sobre o impacto desta indústria em território nacional, Isabella Luglio, gestora do projeto do Índice de Transparência da Moda Brasil 2021, explica que fica difícil exigir soluções efetivas das indústrias. “Gosto muito de uma frase do Jeremy Lardeau do Sustainable Apparel Coalition que é ‘Você não pode gerenciar o que não pode medir.’ A frase retrata bem essa realidade”, afirma Luglio.
Segundo ela, um dos motivos para a ausência de dados confiáveis do setor se deve ao processo de produção que passa por diversas etapas e também devido a falta de incentivos à pesquisa. “Os pesquisadores dependem muito de investidores externos para estudar a indústria da moda”, ressalta a gestora de projeto.
Apesar dessa problemática, as varejistas do segmento de vestuários se destacam em outros pilares do ESG. De acordo com dados do Índice de Transparência da Moda Brasil de 2021, que analisa o nível de transparência sobre a divulgação das políticas, práticas e impactos nos direitos humanos e meio ambiente das principais marcas e varejistas do País, as Lojas Renner (LREN3) e Arezzo (ARZZ3) foram as empresas brasileiras que tiveram mais destaque no estudo com boas performances nos indicadores relacionados à governança.
“A Arezzo tem o foco na eficiência energética e nas emissões de gases estufa por meio do uso de energia 100% renovável”, explica Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos. Mas o destaque não se resume apenas em uma estratégia. Segundo ele, a companhia de calçados de alto padrão também implementou propostas de economia circular ao comprar a TROC, e-commerce de brechós.
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Crespi ressalta que as Lojas Renner seguem no mesmo caminho. Além de fazer parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, a gigante do varejo de vestuário também monitora toda a sua cadeia produtiva para que esteja alinhada às pautas de ESG. “Prioriza fontes de energia mais limpas e gestão de resíduos das operações desde 2010, com o programa de Gestão de Resíduos Sólidos. A Renner também possui um programa de logística reversa”, destaca o analista da Guide.
Mesmo com os avanços apontados no estudo, Luglio informou que, durante a elaboração do levantamento, nenhuma empresa do setor divulgou o compromisso que possa ser “mensurável” para o desmatamento zero no Brasil.
Para Sandra Blanco, estrategista chefe da Órama e responsável pela implantação do selo ESG, embora esse debate esteja em alta em todo o mundo, a temática ainda é nova no País, o que explica a defasagem no compromisso com as pautas em comparação aos países emergentes. No entanto, essa não é a única barreira. Blanco aponta o custo como outro desafio para as companhias de um modo geral. “É um custo altíssimo para implementar todos esses critérios, mas estamos evoluindo e possuímos ambições que desejamos alcançar”, afirma Blanco sobre o processo no Brasil.