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A avaliação do mercado sobre o primeiro ano do Nubank na Bolsa

Período tem polêmicas, queda das ações e mudança no cenário macro, mas analistas dizem que os ventos mudaram

A avaliação do mercado sobre o primeiro ano do Nubank na Bolsa
A fintech é listada na bolsa de Nova York (NYSE) desde dezembro de 2021. (Foto: Nubank)
  • O IPO do Nubank 7,5 milhões de clientes à bolsa, suficiente para que a companhia fosse avaliada como a maior instituição financeira da América Latina em dezembro de 2021
  • De lá para cá, as ações da companhia derreteram em meio à mudança do cenário de juros
  • Mas analistas destacam que a companhia parece, agora, mais focada em caixa do que crescimento; o que é positivo

O Nubank completa um ano de sua estreia na Bolsa de Valores, em uma listagem dupla, no Brasil e nos Estados Unidos, que levou 7,5 milhões de clientes à oferta pública de ações (IPO) – suficiente para que a companhia fosse avaliada em cerca de US$ 41,7 bilhões, tomando o posto de maior instituição financeira da América Latina no dia 09 de dezembro de 2021.

De lá para cá, porém, o glamour do IPO foi dando lugar a um descontentamento do mercado com o roxinho. Um levantamento feito por Einar Rivero, do TradeMap, mostra que as ações na Bolsa de Nova York (NYSE) acumulam queda de 54,89% desde a estreia até o início desta semana. Os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) caíram 58,13% no mesmo período.

“Um ano é um prazo muito curto para fazer uma avaliação de trajetória, mas entendo que o período difícil se deve ao preço do IPO, onde pagou-se antecipadamente por todo crescimento e rentabilidade que o Nubank vendeu que entregaria”, pontua João Lucas Tonello, CNPI, analista da Benndorf Research. Uma euforia que não se concretizou. “O que vimos ao longo do ano foram as dificuldades para executar essa ‘história perfeita’. O preço do IPO tinha pouca ou quase nenhuma margem de segurança”, diz.

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A dificuldade para que essa história de crescimento se concretizasse tem a ver, principalmente, com a mudança no cenário macroeconômico dos EUA no período. Desde o IPO do Nubank, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) já realizou seis aumentos consecutivos na taxa de juros dos Estados Unidos para combater a maior inflação no país em mais de 40 anos. Um cenário que penalizou todo o mercado de ações por lá, especialmente as techs.

“Saímos de um período de juros zero e estímulos dos bancos centrais para entrarmos em um de contração monetária e aumento das taxas de juros. Nesse contexto, investidores procuram por empresas que tenham fundamentos mais sólidos, que estejam com valuations (valor do ativo) razoáveis e apresentem bons resultados operacionais”, explica Guilherme Zanin, analista da Avenue Securities.

Apesar do cenário desfavorável e da desvalorização das ações, neste ano de estreia na Bolsa, o Nubank conseguiu conquistar seu primeiro resultado trimestral positivo. Em outubro, a companhia reportou um lucro líquido de US$ 7,8 milhões – suficiente para que a holding atingisse o chamado breakeven, o equilíbrio entre receitas e despesas, graças ao aumento de clientes e o uso de mais serviços do banco digital pelos correntistas.

Nesta entrevista ao Broadcast, o CEO David Vélez reconheceu que precisou recalcular a rota e entregar, ao invés do viés de crescimento prometido, geração de caixa a investidores mais avessos a risco. Um destaque positivo no meio de um período de turbulências, destacam os especialistas.

“O banco se queimou um pouco com polêmicas, mas, por outro lado, vejo como positivo o empenho do management (gestão) em tentar gerar resultados positivos a despeito do cenário bastante desafiador no mundo”, afirma Paulo Albuquerque, analista de investimentos e sócio da Quantzed. Na avaliação do analista, este primeiro ano de IPO “pode até ter sido positivo para o operacional da empresa e para os executivos do banco, mas certamente foi um ano péssimo para os acionistas”.

Destaques do período

Além da queda brusca das ações, a trajetória do Nubank na Bolsa também foi marcada por alguns acontecimentos que extrapolam o cenário macroeconômico. Algumas polêmicas, alterações e lançamentos. Relembre alguns destaques:

  • Remuneração “de milhões” dos executivos: Em abril deste ano, o Nubank enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um formulário em que estipulava um pagamento potencial de R$ 804,4 milhões aos oito integrantes da diretoria executiva do banco para 2022. Desses, cerca de R$ 670 milhões poderiam ir apenas ao CEO David Vélez. Uma remuneração milionária principalmente para uma empresa que reportava prejuízo e que balançou a reputação da instituição assim que investidores ficaram sabendo. Recentemente, o programa de remuneração dos executivos foi suspenso;
  • Mudança no rendimento da Nu Conta: Um dos maiores atrativos do Nubank para clientes pessoa física era a remuneração diária e automática de 100% do CDI na conta corrente do banco. O benefício foi alterado em julho e, então, o rendimento passou a só começar a valer a partir do 30º dia para valores não transacionados neste período;
  • Saída de Anitta do conselho: Em agosto de 2022, a cantora Anitta deixou a posição que ocupava no Conselho de Administração do Nubank desde junho de 2021 por conta de sua agenda internacional de compromissos. Entre as ações da cantora na instituição, estavam temas como educação financeira e impacto social, além das atividades do roxinho como patrocinador da Copa do Mundo de 2022. Relembre;
  • Saída da B3: O Nubank pegou o mercado de surpresa na segunda semana de setembro deste ano ao pedir à B3 e à CVM o fechamento de capital no Brasil. A instituição ofereceu três opções a seus acionistas brasileiros com BDRs na carteira, defendendo que a medida visa potencializar a eficiência da companhia nos próximos meses.
  • Lançamento da Nucoin: O Nubank anunciou em novembro a criação de uma criptomoeda própria, a Nucoin. O projeto completo ainda está sendo desenvolvido, com o lançamento previsto para 2023 – um passo da instituição financeira em direção ao mercado cripto no Brasil. Aqui, contamos 5 fatos que já sabemos sobre o ativo.

O que esperar daqui para a frente

Completado este primeiro ciclo do roxinho na Bolsa de Valores, a pergunta que fica é se a instituição será capaz de manter os resultados positivos apresentados pela primeira vez em outubro e, assim, reconquistar o prestígio no mercado. Uma tarefa que passa principalmente por dois fatores: uma melhora no cenário macro e o foco na geração de lucro.

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“Para melhorar, as taxas de juros globais têm que cair”, afirma Guilherme Zanin, da Avenue. “Enquanto estiverem elevadas vão impactar o crédito e fazer o banco ter maior inadimplência”, explica.

Do lado micro, o analista destaca que a instituição tem que continuar melhorando seu resultado, dando prioridade ao aumento do lucro líquido mais do que o crescimento. “Acho que o banco poderia focar um pouco mais no crescimento orgânico e seguir uma via um pouco mais conservadora, dado o cenário desafiador do momento”, destaca Paulo Albuquerque, da Quantzed.

O analista destaca que tal estratégia não está no “DNA” do banco, uma fintech que tem como um dos pilares o crescimento: “Mas daria uma sinalização para o acionista de que a administração está de fato preocupada em manter o tão anunciado breakeven [ponto de equilíbrio] alcançado no último trimestre”, afirma.

Uma chave que parece já ter virado entre os executivos do Nubank, o que, na visão de Zanin, pode abrir uma oportunidade de investimento de longo prazo. “A ação está negociando perto dos US$ 4, o que é relativamente baixo para quem quiser começar a investir. A gente começa a olhar com bons olhos se a administração continuar fazendo o que tem feito recentemente”, diz o analista da Avenue.

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