Investimentos

O que virá depois das históricas fusões e aquisições de US$ 5 trilhões

O maior boom de fusões e aquisições da história não está mostrando sinais de desaceleração

O que virá depois das históricas fusões e aquisições de US$ 5 trilhões
Quase dois anos depois do início de uma pandemia global, os negociadores esperam que o ritmo permaneça forte em 2022. Foto: Envato
  • Impulsionadas por empréstimos com baixas taxas de juros dos bancos centrais e um mercado de ações em alta, as empresas fecharam negócios para estimular o crescimento, adquirir novas capacidades ou simplificar suas estruturas corporativas
  • As sociedades que adquirem o controle de outras empresas, abastecidas com mais de US$ 2 trilhões em títulos de alta liquidez, provavelmente realizarão aquisições ainda maiores em 2022, de acordo com Eric Schiele, sócio corporativo do escritório de advocacia Kirkland & Ellis
  • Embora as incertezas para o recorde pareçam estar aumentando com a disseminação das novas variantes do vírus que causa a covid-19, isso não está impactando tanto o entusiasmo dos negociadores

(Michelle F. Davis, WP Bloomberg) – O maior boom de fusões e aquisições da história não está mostrando sinais de desaceleração. As empresas anunciaram a gigantesca quantia de mais de US$ 5 trilhões em negócios em 2021, de acordo com os dados compilados pela Bloomberg, superando o recorde anual anterior de 2007 em quase US$ 1 trilhão graças às sucessivas fusões e aquisições transformadoras até o período de festas de fim de ano.

Impulsionadas por empréstimos com baixas taxas de juros dos bancos centrais e um mercado de ações em alta, as empresas fecharam negócios para estimular o crescimento, adquirir novas capacidades ou simplificar suas estruturas corporativas. Na verdade, a cada dia de trabalho de 2021, uma empresa estabeleceu um novo recorde de incorporação em relação a si mesma, como a aquisição da Cerner por US$ 28,3 bilhões pela Oracle, sua maior transação de todos os tempos. Em muitos casos, os investidores encorajaram as empresas a realizar os acordos.

“Conselhos, acionistas e equipes de gestão viram com atenção a volatilidade e o mercado de fusões e aquisições não perder o ritmo durante os 12 meses de 2021”, disse Stephan Feldgoise, codiretor global de fusões e aquisições do Goldman Sachs Group.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Neste ano, vimos empresas emblemáticas como a Johnson & Johnson e a General Electric anunciarem separações corporativas, uma guerra de ofertas pela ferrovia Kansas City Southern que terminou com uma aquisição no valor de US$ 31 bilhões pela Canadian Pacific Railway, e a planejada fusão da WarnerMedia da AT&T com o grupo Discovery.

Quase dois anos depois do início de uma pandemia global, os negociadores esperam que o ritmo permaneça forte em 2022.

“Apesar de termos estabelecido um recorde para o mercado de fusões e aquisições, acredito que seremos capazes de alcançar resultados maiores se a confiança do CEO e da diretoria permanecerem fortes”, disse Cary Kochman, codiretor global de fusões e aquisições do Citigroup.

A onda de Private Equity

Um grande direcionador do fluxo de negócios tem sido as empresas de private equity, cujas despesas com aquisições representaram um recorde de 24% do valor de transações globais neste ano, mostram os dados.

A incorporação da Medline Industries por US$ 34 bilhões e a aquisição da Athenahealth por US$ 17 bilhões – ambas realizadas por grupos de empresas de capital privado – destacam-se como as maiores do ano e marcam um retorno aos investimentos com duas ou mais empresas de private equity, que haviam se tornado menos comuns após a crise financeira de 2008.

As sociedades que adquirem o controle de outras empresas, abastecidas com mais de US$ 2 trilhões em títulos de alta liquidez, provavelmente realizarão aquisições ainda maiores em 2022, de acordo com Eric Schiele, sócio corporativo do escritório de advocacia Kirkland & Ellis. “Acho que esse setor do mercado vai ter ainda mais sucesso”, disse ele, acrescentando que as empresas de capital privado geralmente têm uma vantagem em relação à estratégia no atual rigoroso contexto antitruste.

Publicidade

Em outros lugares, as cada vez mais populares sociedades de aquisição de propósito específico (SPACs), cujo único propósito é comprar outro negócio, adicionaram bilhões ao total de negociações. Cerca de um quarto do capital das SPACs deve expirar no final de 2022, de acordo com estimativas da JPMorgan Chase & Co.; portanto, as empresas de cheque em branco provavelmente vão continuar competindo com outros compradores para conseguir suas próprias incorporações em uma variedade de setores no ano que vem, mesmo depois da popularidade do veículo ter tropeçado, segundo os consultores.

Entusiasmo desenfreado

Embora as incertezas para o recorde pareçam estar aumentando com a disseminação das novas variantes do vírus que causa a covid-19, os problemas nas cadeias de suprimentos, a perspectiva de aumento das taxas de juros, da inflação e um contexto antitruste mais rígido, isso não está impactando tanto o entusiasmo dos negociadores.

“Neste momento, parece que não há mudanças em andamento para 2022”, disse Adam Emmerich, sócio do escritório de advocacia Wachtell, Lipton, Rosen & Katz. “Você percebe isso nos mercados de ações, nos mercados de dívida e nas conversas que estamos tendo com as equipes de gestão e conselhos das empresas.”

Alguns consultores até dizem que os negócios de grande sucesso de US$ 50 bilhões ou mais que caracterizaram os booms anteriores finalmente terão um retorno mais considerável em 2022.

“Se o mercado de ações aguentar e nenhum grande acontecimento o impactar, acho que negócios de todos os tamanhos, inclusive os muito grandes, são eminentemente possíveis”, disse Martha McGarry, codiretora nos Estados Unidos do escritório de advocacia especializado em fusões e aquisições, Mayer Brown.

Outros dizem que o clima em torno da fiscalização antitruste talvez impeça isso: “Achamos que as empresas vão ser cautelosas ao realizar transações transformadoras de destaque na indústria até que exista mais clareza sobre o contexto regulatório antitruste”, disse Gary Posternack, chefe global de fusões e aquisições do Barclays. “É provável que continuemos a ver diversas transações na faixa de US$ 1 bilhão a US$ 10 bilhões, em comparação com as megatransações que vimos em alguns anos anteriores.”

Publicidade

Seja como for, as empresas ficaram mais à vontade com os negócios.

Indo além das fronteiras

Até setembro, elas anunciaram 30% mais transações com empresas fora de suas fronteiras do que durante todo o ano de 2020 de acordo com David Wah, chefe de consultoria global do Credit Suisse Group. Isso leva em consideração o anúncio neste mês de que a empresa de biotecnologia australiana CSL, cujos consultores incluíam o Credit Suisse, concordou em adquirir a farmacêutica suíça Vifor Pharma por quase US$ 12 bilhões.

“Não estamos observando nada que nos faça esperar que o mercado de fusões e aquisições entre em colapso ou desmorone no próximo ano”, disse Marco Caggiano, codiretor de fusões e aquisições para a América do Norte da JPMorgan Chase & Co.

Pedimos a alguns dos principais consultores para refletirem sobre o ano que se passou e compartilharem suas previsões para 2022. Aqui estão alguns de seus pensamentos.

Cary Kochman, codiretor global de fusões e aquisições do Citigroup: “Espero que o maior componente de negociação do mercado aumente no próximo ano, apesar das conversas a respeito do reforço do escrutínio regulatório. Com o aumento da confiança e da estabilidade, e conforme os mercados de fusões e aquisições tendam a se desenvolver, as transações maiores costumam surgir. As conversas que estamos tendo apontam para isso.”

Blair Effron, cofundador do banco de investimentos Centerview Partners: “Acho que 2022 será forte, mas não tão forte quanto 2021. Adoraria estar errado. Acho realmente que as pressões inflacionárias continuarão ao longo do ano e imagino que o Fed agirá de modo enérgico. As taxas de juros ao longo do ano mudarão o suficiente para tornar as transações um pouco mais caras.”

Publicidade

“Eu poderia esperar o volume dos negócios crescer se fizermos transações de US$ 10 bilhões a US$ 25 bilhões suficientes e elas forem bem recebidas.”

Martha McGarry, codiretora do escritório de fusões e aquisições da Mayer Brown nos EUA: “O desempenho operacional corporativo tem se mantido muito forte e não vejo isso mudando pelo menos no primeiro semestre do ano que vem. Pelas conversas que tive com as equipes de gestão, elas têm fusões e aquisições importantes na agenda tanto no lado da compra, quanto no lado da venda no próximo ano. Há muito que elas querem conquistar. Isso me deixa muito otimista.”

Stephan Feldgoise, codiretor global de fusões e aquisições do Goldman Sachs Group: “Este é um dos primeiros anos em que não houve um hiato nas fusões e aquisições em algum período do ano. Há escassez de mão de obra, de semicondutores, de outras coisas que estão fazendo com que algumas indústrias tenham dificuldade em entregar produtos, mas isso não está acontecendo devido a uma falta de demanda. As empresas estão tendo um desempenho muito bom. Sem dúvida, espero que os negócios de US$ 10 bilhões a US$ 50 bilhões continuem. ”

David Wah, chefe de consultoria global do Credit Suisse Group: “O aumento de cisões é um reflexo do ritmo da atividade de fusões e aquisições nos últimos 10 anos, onde as empresas acumularam ativos consideráveis, partes dos quais se desenvolveram e cresceram para ser suficientes para criar sua própria oportunidade independente de desbloquear valor para os investidores. Em alguns casos, isso também reflete avaliações elevadas, criando a oportunidade para os conselhos otimizarem o valor por meio da separação. ”

Jim Langston, colíder do grupo de fusões e aquisições dos EUA no escritório de advocacia Cleary Gottlieb Steen & Hamilton: “Algumas empresas vão se tornar apenas observadoras. Neste contexto, o tamanho é importante, então se outras empresas do mesmo setor estão crescendo por meio de fusões e aquisições e transformando ou otimizando seus negócios e você não está no meio da ação, então você corre o risco de ficar para trás”.

Publicidade

“Na maioria das vezes, as pessoas descobriram como o contexto regulatório iria ser e ficaram à vontade com o fato de que, na verdade, um desastre não era iminente e os negócios ainda estão sendo fechados. As empresas estão mais confortáveis com o fato de que o cenário regulatório, embora possa ser desafiador, ainda seja navegável. Isso poderia catalisar mais megatransações no próximo ano. ”

Gary Posternack, chefe global de fusões e aquisições do Barclays: “Estamos trabalhando a todo vapor nos últimos 18 meses. Esperamos que o ano comece muito movimentado, assim como estamos terminando este ano; mas os banqueiros de fusões e aquisições gostam de estar ocupados. Será difícil igualar os totais de volume deste ano, sobretudo com o componente do mercado SPAC provavelmente sendo menor no próximo ano. ”

Eric Schiele, sócio corporativo do escritório de advocacia Kirkland & Ellis: “Em 2018 e 2019, muito do volume de negócios foi motivado por transações gigantescas. Nós realmente não vimos isso este ano. Parte disso são as pessoas se acostumando a um ambiente regulatório muito diferente tanto por parte da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), como pela Comissão Federal de Comércio americana (FTC, na sigla em inglês). As pessoas têm hesitado um pouco com as transações maiores. Espero que, à medida que as estratégias se tornem mais e mais familiarizadas com este contexto regulatório, comecemos a ver alguns dos acordos estratégicos maiores voltando. Acho que provavelmente há uma demanda reprimida para o padrão habitual de grandes negócios. ”

Tom Miles, codiretor de fusões e aquisições para as Américas do Morgan Stanley: “Você tinha um contexto de avaliação em que conselhos, equipes de gestão e acionistas estavam dispostos a vender. Eles já passaram pela experiência desagradável da covid-19. Então estão dizendo: se alguém pode me pagar um prêmio neste momento, estou disposto a aceitar isso.”

Marco Caggiano, codiretor de fusões e aquisições para a América do Norte da JPMorgan Chase & Co.: “Este é sem dúvida o contexto mais ativo que vimos e não percebemos nenhum sinal de que esteja diminuindo consideravelmente. Esperamos que a clareza corporativa continue a ser um grande direcionador. Você pode observar um prêmio múltiplo para o índice Preço/Lucro no S&P 500 ao longo do tempo para empresas “puras”, que se concentram apenas em um produto, em comparação com empresas com mais de um segmento de negócio. As estratégias estão tentando tornar mais fácil para os investidores atribuir avaliações premium a elas, na esperança de que isso se traduza em preços de ações mais elevados. ”

Publicidade

Adam Emmerich, sócio corporativo do escritório de advocacia Wachtell, Lipton, Rosen & Katz: “Todo mundo que esteve envolvido com fusões e aquisições durante algum tempo já viveu ciclos de altos e baixos. As pessoas se perguntam: se todo mundo sabe que as coisas vão desmoronar, por que, então, elas não estão se comportando de maneira mais ‘sensata’? A verdade é que haverá uma reviravolta nas fusões e aquisições em algum momento, mas não podemos dizer quando. Com certeza não parece que será no primeiro trimestre de 2022. E, no fim das contas, quase todas essas mudanças repentinas são cíclicas.”/TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos