- Dólar segue em baixa no Brasil, mas em patamares elevados no exterior.
- Real está performando bem, mas analistas dizem que essa trajetória não deve durar.
- Super Quarta e Commodities exercem pressão sobre o ativo.
Na terça-feira (19), o dólar fechou em alta de 0,35%, aos R$ 4,87, na primeira sessão positiva após uma sequência de quatro quedas. No acumulado do ano, porém, a moeda cede 7,7% frente ao real; em setembro, a desvalorização é de 1,58%.
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Um dos fatores que pressionaram a divisa norte-americana nos últimos dias foi a apreensão do mercado em relação à decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed), que ocorre hoje na “Super Quarta“.
O termo Super Quarta implica que, além do Fed, outros bancos centrais pelo mundo irão decidir se mantêm ou alteram o patamar de suas taxas de juros. No Brasil, por exemplo, o mercado financeiro já precificou que o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) deverá cortar a Selic, a taxa de juros da economia brasileira, em 0,5 ponto percentual, fazendo com que ela passe dos atuais 13,25% ao ano para 12,75%.
Para onde vai o dólar
Alexandre Viotto, Head de Solutions da EQI Corretora, explica que o real tem se fortalecido frente ao dólar na esteira das commodities. “O minério de ferro subiu bastante e o petróleo passou de US$ 90 o barril. Quando temos commodity para cima, a moeda emergente, a exemplo do real, tende a se valorizar”, afirma.
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Ele acrescenta que esse movimento de alta da moeda vai na contramão da tendência do resto do mundo. Segundo ele, no exterior o dólar está batendo as máximas dos últimos anos, com o mercado precificando a possibilidade de mais duas altas de juros [de 0,25p.p.], já que a inflação nos EUA não arrefece.
Head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio, Diego Costa lembra que a moeda brasileira tem mantido firme valorização neste ano. “A última vez que o dólar ultrapassou os R$ 5 foi em 18 de agosto, e seu último fechamento acima desse patamar ocorreu em 1 de junho”, diz.
Costa ressalta que essa valorização está relacionada a avanços nas políticas fiscais, como a aprovação do arcabouço fiscal e a expectativa de votação da reforma tributária no próximo mês, além de um cenário externo favorável aos ativos de risco. “Essas ações contribuem para melhorar a imagem do Brasil, que passa a ser visto como mais comprometido com o controle de suas finanças”, explica.
Ele aponta que no Brasil os indicadores nacionais que medem o crescimento estão positivos, como o IBC-Br, que é uma prévia do PIB, reforçando essa leitura. “Como a nossa perspectiva de inflação está controlada, já iniciamos um ciclo de cortes de juros, e com expectativa de um pouso suave nos EUA e na Europa, o diferencial de prêmio oferecido por investimentos no real deve continuar atraente”, comenta.
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Em relação à projeção para o dólar, ele diz que não haverá surpresa na Super Quarta. “Os EUA devem manter as taxas de juros inalteradas amanhã e observar como a economia reage até o próximo encontro marcado para novembro.”
Sócio fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa diz que o Brasil terá, basicamente, um diferencial de juros diminuindo na quarta-feira, bem como uma pressão por compra de dólar no País, caso a tendência de corte de juros por parte do Copom se confirme.
“Mas não é somente isso que se classifica como fatores que incidem sobre o dólar, visto que temos um petróleo cotado acima dos US$ 95 o tipo Brent, então, a expectativa é de entrada de muito capital para o Brasil, neste momento”, destaca.
Vale comprar ou investir?
Viotto enfatiza que a tendência é que o dólar volte a se valorizar até o fim do ano, pois o movimento que se vê nas commodities deve se encerrar em breve. “A moeda brasileira deverá voltar para o patamar dos R$ 5 ou R$ 5,05 nas próximas semanas. Trata-se de uma janela de oportunidades para quem deseja dolarizar uma parte dos investimentos, e também para os importadores fazerem proteção cambial ou até mesmo antecipar alguns pagamentos para o exterior”, ressalta.
Para Costa, da B&T, o momento também é oportuno para comprar dólar, visto que os EUA, país de origem, possuem uma economia mais estável e ainda são o destino preferido em tempos de crise. “Embora o prêmio seja maior no Brasil, os investidores encontram uma maior segurança no exterior, onde há menos preocupação em perder seu dinheiro”, afirma.
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Ele acrescenta que a abertura de contas nos EUA é uma opção muito procurada, tanto por viajantes quanto por aqueles que buscam proteger seu patrimônio. “Hoje existem diversas formas de abrir contas no exterior, inclusive por meio de aplicativos e serviços online.”
Jansen, por sua vez, esclarece que o câmbio tende a se depreciar conforme o juro avança e esta é uma das razões pelas quais é difícil acertar o momento do câmbio. “A grande questão é que agora, se você manda dinheiro para o exterior, você consegue ter aplicações a uma taxa de juros mais elevada do que a média histórica nos EUA.”
E acrescenta: “Se o investidor consegue mandar o dinheiro para fora e aplicar em renda fixa, ele acaba tendo um retorno de dólar e mais a taxa de juros do exterior. Por isso é super interessante pensar em uma diversificação com base em dólar e renda fixa nesse momento”, destaca.
Outras projeções
Em relatório divulgado ao mercado em agosto, a XP Investimentos projeta o dólar a R$ 4,70 até o fim de 2023.
No documento, a corretora escreve que há um enfraquecimento do dólar e um fortalecimento de algumas commodities, ainda que este seja moderado.
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A estimativa da XP para a moeda americana estava em R$ 5, na avaliação anterior, mas as condições de mercado contribuíram para uma revisão do setor.
Os analistas da XP também cortaram a projeção para o dólar de R$ 5,15 para R$ 4,85 no fim de 2024. Também seguindo nessa linha de corte para o dólar, o BTG Pactual (BPAC11) reduziu sua projeção para o fim de 2023, de R$ 5 para R$ 4,86, conforme relatório divulgado em agosto.
O banco de investimentos associa a depreciação do dólar aos movimentos do Fed, embora afirme que o risco de recessão nos EUA está afastado provisoriamente.
A instituição financeira também aponta que o apetite ao risco tem diminuído e uma das razões seria justamente a “porta aberta” que o Fed deixou para novos aumentos dos juros.
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Dois dos principais bancos de investimento norte-americanos, o Citi e o JP Morgan têm uma estimativa um pouco acima de seus pares brasileiros. O primeiro projeta o dólar a R$ 4,95 até o fim de 2023, enquanto o segundo projeta a moeda americana em R$ 4,90. As estimativas anteriores fixavam a moeda em R$ 5, pelo Citi, e R$ 5,25, pelo JP Morgan.