- O "risco político" que tanto assombrou as ações da Petrobras em outro momento voltou de vez às análises e está levado alguns analistas e gestores a se movimentar
- Na Finacap Investimentos, gestora pernambucana com R$ 1,7 bilhão em ativos sob gestão, a estatal já chegou a representar 15% da carteira do Mauritsstad, o fundo de ações da casa. Hoje, a posição é inferior a 5%
- Em entrevista, o CEO Luiz Fernando Araújo explica que o risco político sempre esteve presente, mas a alta das ações reduziu a margem de segurança do investimento; gestora prefere outras oportunidades na Bolsa
Desde que a Petrobras (PETR4) decidiu, em março, ater a distribuição de dividendos ao mínimo de 45% do fluxo de caixa livre, determinado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o clima de desconfiança aumentou no mercado financeiro. A grande pergunta que paira sobre a tese da companhia está relacionada à destinação dos R$ 43,9 bilhões em proventos retidos.
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Como mostramos aqui, o “risco político” que assombra e acompanha as ações da petroleira há anos parece ter voltado às análises. Isso tem levado alguns analistas e gestores a retirar ou reduzir a posição comprada em PETR4 e PETR3.
Na Finacap Investimentos, gestora pernambucana com R$ 1,7 bilhão em ativos sob gestão, a estatal já chegou a representar 15% da carteira do Mauritsstad, o fundo de ações da casa. Hoje, a posição é inferior a 5%. Para Luiz Fernando Araújo, CEO e gestor da Finacap, o risco político de investir na Petrobras sempre existiu. O que mudou nos últimos tempos foi o preço do papel. Em 12 meses, a PETR4 acumula alta de 111,40%, enquanto a PETR3 sobe 89,38%.
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“Quando a empresa passou a negociar abaixo de R$ 30, entendemos que, naquele patamar de preço, a assimetria ainda era favorável para o investimento, apesar do risco. À medida que o preço da ação foi subindo, fomos diminuindo a posição gradativamente”, explica. Com tantos eventos no radar da companhia, o entendimento é que a posição em uma estatal precisa ser “pragmática”.
Um pragmatismo que faz a gestora preferir outros nomes no momento, mais ligados ao movimento de recuperação que as ações brasileiras engataram. “Recentemente, diversificamos mais a carteira com oportunidades em setores que, historicamente, negociaram a múltiplos muito altos e tiveram uma performance ruim nos últimos anos”, diz Araújo.
Ao E-Investidor, ele explica a visão ainda positiva para a Bolsa brasileira e como o FIA da Finacap ajustou as posições em estatais e conseguiu uma alta de 25,9%, superior a do Ibovespa, em 2023. Confira os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – As estatais fazem parte do portfólio da Finacap, apesar do risco político que as envolve no momento. Qual a estratégia para investir nesses papéis?
Luiz Fernando Araújo – O nosso investimento em estatais é pragmático. O risco aumentou depois da eleição, claramente. Vimos que o mercado mudou de posição várias vezes e continua fazendo isso. A Petrobras já foi o nosso maior investimento. E mesmo após a eleição reduzimos pouco, justamente porque o preço caiu muito quando houve uma frustração do mercado com o governo. Reconhecemos que, sim, o risco aumentou muito, mas ainda havia uma margem de segurança alta. À medida que o preço da ação foi subindo, fomos diminuindo a posição gradativamente. A visão de risco é constante, o que tem mudado, na verdade, é a precificação.
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Este ajuste na carteira aconteceu com outras empresas estatais?
O aprendizado em relação ao risco político foi muito forte depois do período que vivemos entre 2012 e 2016. À época, praticamente eliminamos as posições, com exceção de Petrobras, que ficou em um preço que valia a pena. Com a entrada de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes no governo, fomos recompondo essa posição. Depois incluímos Eletrobras, mas já com foco na privatização. Apesar de ter sido privatizada, existe uma pressão sobre as limitações de participação do Conselho pelo governo federal. A Vale é outra que considerávamos que esse risco teria sido eliminado com a saída do governo do bloco de controle, mas também vemos que o governo tem usado formas de pressionar a empresa pelo Conselho, como acontece agora o impasse na renovação do CEO.
Os primeiros meses de 2024 têm sido difíceis para as ações brasileiras. A perspectiva para o fim do ano ainda é positiva?
O mercado está muito volátil. Tenho a impressão que isso tem relação com o fluxo global. A nossa Bolsa é muito sensível ao fluxo do investidor estrangeiro e a saída deles explica um pouco essa performance recente. Estruturalmente, estamos em um ciclo de recuperação. Houve um ciclo longo, desde 2008, de queda em dólar, que é um parâmetro que consideramos interessante para avaliar o valor dos ativos da nossa economia. Agora, porém, vemos claramente um movimento de recuperação interessante, mais gradual do que das outras vezes, mas consistente e que vai se manter nos próximos anos. Eu sou otimista com relação à nossa Bolsa de forma geral.
Qual a melhor estratégia para investir neste momento?
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Aqui procuramos empresas com múltiplo preço/lucro baixo, dividend yield alto e retorno sobre patrimônio. Esse tipo de abordagem tem funcionado muito bem nos últimos anos. As principais ações do Ibovespa estão muito descontadas, eu diria até que as mais descontadas hoje são as Blue Chips.
Então as Blue Chips são as melhores oportunidades hoje?
Tínhamos uma participação muito grande, superior a 40% em teses de commodities, hidrologia, mineração, petróleo. Mas essa foi uma tese do ano passado. Recentemente, diversificamos mais a carteira com oportunidades nos setores de varejo e construção civil, que, historicamente, negociaram a múltiplos muito altos e tiveram uma performance ruim nos últimos anos. Vemos entrada nas marcas fortes que têm bons gestores testados ao longo de vários ano e que temos confiança de que vão recuperar para as próximas décadas. Não é uma tese de curto prazo, exclusivamente por conta da queda da taxa de juros.