A escalada das tensões no Oriente Médio durante o fim de semana deve gerar volatilidade no curto prazo aos contratos futuros de petróleo, em uma pressão que tende a se estender às expectativas para a inflação nos Estados Unidos e, por consequência, para os juros na maior economia do mundo. Na visão de especialistas consultados pelo Broadcast, este cenário pode reduzir o espaço para que o Banco Central (BC) brasileiro corte a taxa Selic em junho.
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Segundo os especialistas, a pressão pode crescer ao longo dos próximos dias caso continuem as incertezas sobre a reação de Israel, ou o país decida revidar o Irã militarmente. “Toda a reação do mercado vai depender muito do que Israel fizer”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal.
O ataque do sábado (13) foi uma resposta do Irã ao bombardeio à embaixada do país em Damasco, na Síria, em 1º de abril, que o Irã acusa ter sido feito por Israel. Neste domingo, o presidente de Israel, Isaac Herzog, disse que o país tomará uma decisão que proteja a própria população.
Uma contraofensiva militar poderia desencadear um conflito maior na região, que concentra boa parte da produção mundial de petróleo. O Irã e países aliados são grandes produtores da commodity e uma guerra poderia levar a sanções ou dificuldades de produção e escoamento. Os contratos futuros da commodity subiram 0,79% na sexta-feira (12), para US$ 90,45 no caso do Brent, de olho na possibilidade de um ataque iraniano.
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“Enquanto a crise estava circunscrita a Israel e Gaza, os preços dos principais ativos tinham menos impacto. O grande risco era o envolvimento maior de países mais frontalmente inimigos de Israel e com um peso maior em petróleo”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, que acrescenta que o ataque em Damasco e a contraofensiva do Irã transformaram esse envolvimento em uma possibilidade maior.
O economista e sócio da André Perfeito Consultoria Econômica (APCE), André Perfeito, diz que o ataque iraniano parece ter sido arquitetado para ser um recado, dado que os sistemas de defesa de Israel conseguiram contê-lo, mas que deixa incertezas no ar. “Barulho é incerteza, incerteza é risco.”
Conflito pode impactar os juros
O conflito pode levar a impactos também nos juros, porque uma eventual alta do petróleo pressionaria a inflação e ampliaria no mercado as apostas de que o corte de juros nos EUA virá apenas no final do ano. Essa previsão ganhou força após a inflação americana ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subir 0,4% em março, contra uma expectativa do mercado de alta de 0,3%.
“Se junta o cenário americano com este cenário novo, recente, da guerra do Oriente Médio, está montado o discurso para talvez o Banco Central (BC) desacelerar a queda de juros depois da próxima reunião”, afirma Vale, da MB. Segundo ele, uma piora no conflito poderia levar o BC brasileiro a sinalizar na reunião de maio que, a partir do encontro de junho, reduzirá de 0,50 ponto porcentual para 0,25 ponto o ritmo de cortes na Selic, que hoje está em 10,75% ao ano.
No comunicado da última decisão de política monetária, em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) retirou a chamada prescrição futura (forward guidance) sobre manter o corte de juros em 0,50 ponto porcentual também em junho. O motivo foi a maior incerteza lá fora, diante da inflação resiliente nos EUA. “Isso tudo, obviamente, é mais inflação e aumenta o motivo principal que o BC deu para retirar o forward guidance para a reunião de junho, que era o aumento das incertezas”, diz Leal, da G5.
Perfeito, da APCE, afirma que a Selic ao final do ciclo de cortes deve ficar em 9,75% ao ano, acima dos 9% ao ano esperados por parte do mercado, e que a escalada do conflito entre Israel e países alinhados ao Irã pode contribuir para este menor afrouxamento monetário. “Se é verdade que isso vai dar um estresse grande a curto prazo, implica em dizer que os graus de liberdade que a autoridade monetária tem para reduzir os juros no Brasil diminuíram.”
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O resultado deve ser uma atividade econômica mais lenta que o esperado. “Isso também implica em uma inflação mais alta. Com isso, os juros sobem e afetam a atividade econômica”, disse o economista e professor de geopolítica da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Leonardo Trevisan.