

Na manhã desta sexta-feira (7), antes da abertura do pregão, a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro fez o Ibovespa futuro inverter o sinal e ser negociado em queda. A virada reflete a surpresa negativa do mercado com o resultado: o PIB cresceu 0,2% no 4º trimestre de 2024 em relação ao trimestre anterior, totalizando R$ 3,1 trilhões. A previsão do Projeções Broadcast era de alta de 0,4%.
Na comparação com o quarto trimestre de 2023, o PIB apresentou alta de 3,6% no quarto trimestre de 2024, também aquém da mediana das estimativas (4,0%). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2024, o PIB cresceu 3,4%, dentro do intervalo das projeções, que variavam entre 3,3% a 3,6%, com mediana de 3,5%. O Ibovespa passou a subir e opera, às 13h30, com alta de 1.1%, aos 124.743 pontos.
“Nossa projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024 já era mais pessimista, porém o resultado foi ainda mais fraco do que o previsto, refletindo, principalmente, os impactos da agropecuária e dos demais setores, mesmo que em menor escala”, destaca Mariana Rodrigues Monteiro, economista da SulAmérica Investimentos.
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A casa espera uma recessão técnica – quando há dois trimestres seguidos de contração no PIB – para o segundo semestre de 2025, com projeção de crescimento de 2% no ano. “Para 2025, a tendência de desaceleração deve continuar, embora o primeiro trimestre ainda se beneficie do desempenho da Agropecuária. Os indicadores divulgados já mostram sinais sutis de arrefecimento, mas sem indícios de colapso”, diz Monteiro.
Esta também é o cálculo do Boletim Focus para 2025, mas há quem esteja com expectativas mais negativas. No ASA, a projeção é de que o PIB este ano cresça 1,5%. O Picpay projeta uma alta de 1,6%.
Segundo especialistas, o resultado do PIB do Brasil divulgado nesta sexta-feira mostra que a economia brasileira sentiu o efeito da deterioração de seus principais indicadores macroeconômicos, com destaque para o câmbio e a inflação. “Isso impôs um freio ao ritmo de crescimento a partir da corrosão da renda disponível das famílias, limitando ou até mesmo anulando em alguns casos o efeito positivo proporcionado pelo mercado de trabalho apertado e renda crescente dos agentes econômicos”, explicam Carla Argenta e Matheus Pizzani, economistas da CM Capital.
Como o resultado do PIB impacta os mercados
Para os economistas, o patamar elevado da taxa de juros brasileira também teve participação no resultado abaixo das expectativas do PIB, ainda que os maiores efeitos da mudança na condução de política monetária devem ser sentidos nos próximos meses. Esse cenário de desaceleração da economia e uma Selic já alta pode fazer o Banco Central reduzir o ritmo de ajustes nas próximas reuniões do Copom.
Para o encontro de março, previsto para os dias 18 e 19, o Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou uma alta de 1 ponto percentual que elevará a Selic para 14,25% ao ano. No entanto, as decisões futuras ainda estão em aberto.
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O Banco Inter tem como cenário base uma Selic terminal de 14,75% ao ano, com um último ajuste na reunião do Copom em maio. Mas reconhece que o resultado do PIB pode alterar a projeção. “Uma desaceleração maior da economia pode levar o BC a considerar a encerrar o ciclo em março, o que não descartamos. Pode encerrar antes do esperado e podemos ver uma revisão de preços de mercado”, diz Rafaela Vitória, economista-chefe do banco.
Para Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, a possibilidade de enceramento “antecipado” do ciclo de aperto monetário do BC é positiva. “Se podemos tirar algo positivo do resultado do PIB, é que isso reduz a pressão sobre o Banco Central, diminuindo a necessidade de aumentar os juros além dos 15% projetados para controlar a inflação. Com um PIB mais fraco, há espaço para juros mais baixos, o que pode ser um alívio para o mercado.”
*Com informações do Broadcast