- O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu um limite para os juros de fatura parcelada e do rotativo, que, pela nova determinação, não podem ultrapassar 100% do valor da dívida
- A leitura de analistas de mercado é que o impacto para os bancos será limitado e, portanto, o preço dos papéis não sofrerá descontos por essa mudança no juros do rotativo
- Carlos André Marinho Vieira, analista-chefe do TC, concorda que a alta inadimplência associada a este produto deve gerar uma diminuição dessa oferta desse crédito pelos bancos
O ano começou com novidades para os consumidores brasileiros. Desde o dia 3 de janeiro entrou em vigor a nova regra que limita os juros cobrados no rotativo do cartão de crédito. A mudança gera impacto nas operações de instituições financeiras, mas será que o suficiente para impactar as ações de grandes bancos listados na Bolsa brasileira?
Leia também
O Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu um limite para os juros de fatura parcelada e do rotativo, que, pela nova determinação, não podem ultrapassar 100% do valor da dívida. Ou seja, os bancos e as instituições financeiras não podem mais cobrar do usuário mais do que o dobro do montante do débito.
- Saiba mais: analistas projetam dividendos de até 9% do Bradesco. Hora de comprar?
Em um exemplo prático, um consumidor que deixa de pagar uma fatura de R$ 100 e vê a dívida cair no rotativo, só vai pagar juros e encargos de no máximo R$ 100. Assim, o débito não poderá ultrapassar R$ 200, independentemente do prazo.
A medida busca reduzir os altos índices de endividamento das famílias brasileiras, especialmente com o cartão de crédito. Para se ter ideia, em novembro, a taxa média de juros cobrada nessa modalidade para as pessoas físicas estava próxima de 434% ao ano, segundo dados do Banco Central (BC).
A medida vai impactar ações de grandes bancos?
A leitura de analistas de mercado é que o impacto para os bancos será limitado e, portanto, o preço dos papéis não sofrerão descontos por essa mudança no juros do rotativo.
Publicidade
André Fernandes, head de Renda Variável e sócio da A7 Capital, aponta que a maior parte da receita nas operações de crédito dos grandes bancos vem de outras linhas, como empréstimos, principalmente para pessoas jurídicas, financiamentos de veículos e imóveis. “Acreditamos que os bancos devem reduzir a oferta de limite para os cartões de crédito visto o alto nível de inadimplência nessa linha de negócio, que agora passará a ter uma rentabilidade menor para o banco”, avalia Fernandes.
Carlos André Marinho Vieira, analista-chefe do TC, concorda que a alta inadimplência associada a este produto deve gerar uma diminuição da oferta desse crédito pelos bancos. Contudo, não vê um grande impacto para as operações dada a sua fatia nos negócios das companhias. “Até outubro de 2023, o montante de crédito rotativo em cartões atingiu R$ 65 bilhões, representando menos de 2% do total de créditos a pessoas físicas, que foi de R$ 3,28 trilhões”, diz Vieira.
O analista-chefe da TC destaca, por exemplo, que a exposição da carteira dos grandes bancos ao cartão de crédito chega a R$127,7 bilhões, o equivalente a 14,2% no Itaú Unibanco (ITUB4); R$54,3 bilhões, ou 5,7% no Banco do Brasil (BBAS3); R$46,2 bilhões, ou 9,2% no Santander (SANB11); e R$70,45 bilhões, ou 11,2% no Bradesco (BBDC4).
Embora o setor de cartões de crédito seja lucrativo, Vieira observa que os bancos não costumam segmentar a carteira de cartões de crédito entre as suas diversas modalidades, o que dificulta uma análise precisa. Para ele, bancos “menores”, como o Banco Pan (BPAN4), podem sentir um impacto mais significativo devido à sua especialização em operações com pessoas físicas.
As perspectivas para os papéis
O sócio da A7 Capital, avalia que 2024 tende a ser positivo para os grandes bancos, devido ao cenário de queda de juros, que aumenta a demanda por crédito a taxas mais atraentes. “Dentre os grandes bancos, Itaú e Banco do Brasil devem se sobressair, visto que são os dois bancos com os melhores resultados, com um ROAE (retorno sobre o patrimônio líquido médio) na casa dos 20% e com uma inadimplência controlada, em uma situação melhor que seus pares”, diz Fernandes.
Renato Chanes, analista de investimentos da Ágora, tem recomendação de compra para Itaú, com preço-alvo de R$ 36. Para o Banco do Brasil a recomendação é neutra (R$ 59) e para Santander (SANB11), de venda (R$ 28). No caso do Itaú, Chanes avalia que a ação do banco está sendo negociada com desconto. Além disso, poderá aproveitar de uma eventual retomada do ciclo de crédito, que, se não ocorrer, pode abrir espaço para pagamento de mais dividendos.
- Bancos pequenos querem espaço na Bolsa e na sua carteira; entenda os riscos
Quanto ao BB, a visão é de que a instituição estatal tem menos espaço para se valorizar devido ao grande crescimento registrado no ano passado. Ademais, Chanes vê também pesar contra a questão climática. “Houve um efeito climático muito forte ano passado e tudo indica que teremos de novo neste ano. Isso tem impactado no crescimento da safra. Portanto, o crédito agrícola deve desacelerar, sendo o BB o maior repassador dessa linha no Brasil”, avalia Chanes.
Publicidade