O que este conteúdo fez por você?
- Aplicação é a mais popular entre brasileiros, mas rentabilidade é baixa
- Beneficiados pelo auxílio emergencial e investidores assustados com a volatilidade do mercado puxaram a alta na poupança
- Tesouro SELIC, CDBs e Fundos DI são alternativas igualmente seguras e mais rentáveis
Depois de passar 15 anos refém de empréstimos para fazer as contas fecharem no fim do mês, a professora de 42 anos, Marcele Pontes, decidiu dar um basta nas dívidas e retomar o controle sobre o orçamento pessoal. Isso aconteceu em 2017, quando começou a guardar uma parte do dinheiro para aplicar em títulos do tesouro direto.
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“Depois de um divórcio, fiquei com todas as dívidas do ex-marido que usava o meu cartão de crédito”, diz Marcele. “Investir no Tesouro era uma forma de eu não mexer nos recursos que eu poupava, além de ser uma aplicação segura.”
Tudo mudou em março deste ano, quando a crise do coronavírus derrubou as perspectivas positivas para a economia e virou o mercado financeiro de cabeça para baixo. Nesse turbilhão que se desdobrou em uma crise sanitária, política e econômica, nem a renda fixa ficou de fora.
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Devido a alta volatilidade nas taxas de juros durante os pregões, a plataforma do Tesouro Nacional pegou todos de surpresa ao parar quatro vezes no dia 18 de março.
A partir daí, a professora decidiu que durante a crise os recursos iriam para uma velha conhecida: a caderneta de poupança. “Pela primeira vez após minha jornada de educação financeira, decidi guardar todas as minhas economias na poupança.”
Investimento mais popular entre os brasileiros, a poupança rende hoje 70% da taxa básica de juros da economia, SELIC, fixada em 3% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última quarta-feira (6). Isso significa que a aplicação rende 2,1% ao ano – uma das rentabilidades mais baixas na renda fixa.
Mesmo com pouco retorno, Marcele não foi a única a fazer esse movimento. Milhares de brasileiros colocaram dinheiro na poupança em abril, fazendo com que a captação líquida do investimento fosse positiva e a maior desde 1995, fechando o mês em R$ 30,4 bilhões.
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Para efeito de comparação, durante todo o ano de 2019, a captação líquida total foi de R$ 13,3 bilhões, segundo dados divulgados pelo Banco Central. O resultado, tão além do esperado em um momento de crise e na contramão da tendência observada nos últimos anos, deixa a curiosidade: o que motivou a alta?
A queridinha dos brasileiros não é o melhor investimento
Os tempos áureos da poupança foram na década de 90, quando o investimento rendia a uma taxa real de 14% ao ano. Nos dias de hoje, porém, a rentabilidade não passa de 2,1%, sem descontar a inflação. Mesmo assim, ela continua forte na memória do brasileiro como uma das aplicações mais seguras.
Em 2012, a regra para a rentabilidade da poupança foi alterada de 0,5% ao mês para 70% da SELIC. Ela só volta ao patamar antigo quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano.
“A caderneta é historicamente vinculada ao financiamento de habitação”, diz a economista Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP. “É um dinheiro carimbado.”
Como os empréstimos para habitação costumam ser mais longos e com juros mais baixos, essa ‘trava’ na rentabilidade foi criada. Na medida em que a SELIC foi caindo, a aplicação ficou prejudicada e afugentou os investidores.
O que trouxe os investidores de volta?
Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da ANEFAC, a alta captação em abril foi puxada pelos cidadãos que receberam a primeira parcela do auxílio emergencial e por outros dois tipos de investidores: os que perderam dinheiro na renda variável e os que se decepcionaram com o baixo rendimento de fundos de renda fixa no mês de março.
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“Essa elevação não vai se repetir nos próximos meses. A tendência da poupança é perder depósitos, frente a uma situação de crise, em que as pessoas precisam sacar suas reservas financeiras para suprir as necessidades”, afirmou o diretor.
Essa também é a opinião da economista Yoshinaga. “Infelizmente, a poupança é uma questão histórica. Quando acontece uma crise, as pessoas já pensam nessa aplicação em primeiro lugar”, disse. “Não é um bom investimento, nem o mais seguro”, completou.
Já para Daniel Pegorini, CEO da Valora Investimentos, a corrida para a caderneta tem uma explicação só. “A maioria dos fundos e a renda fixa ficaram negativos no mês de março e em abril. Isso aconteceu por problemas de marcação de papéis a mercado, coisa que não acontece na poupança”, explicou.
Ter “marcação a mercado” quer dizer que os preços das ações nos fundos de renda fixa estão sujeitos as regras de oferta e demanda, podendo desvalorizar ou valorizar. Com o mercado volátil por conta da crise econômica, muitos venderam seus ativos e os preços foram pressionados para baixo. Isso não aconteceu com a poupança, já que a aplicação vai sempre render 70% da SELIC.
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De acordo com o levantamento exclusivo feito pela Economática a pedido do E-Investidor, enquanto a poupança rendeu cerca de 72,29% no mês de março, considerando como parâmetro a taxa CDI, os fundos de renda fixa renderam cerca de 30,04%, uma queda monumental em relação aos meses anteriores. Mas isso não quer dizer que quem trocou os fundos pela poupança na virada de março para abril se deu bem.
“Em abril, os fundos de renda fixa voltaram a ganhar da poupança. O investidor tem que ter visão de longo prazo e evitar o efeito manada”, ressaltou Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional e comercial da Economática. De fato, enquanto os fundos de renda fixa se recuperaram e renderam 95,31% do CDI na mediana de abril, a poupança continuou travada em 75,8%.
Apesar da rentabilidade média dos fundos em 2020 perder para a “queridinha dos brasileiros”, nos últimos 12 meses o cenário ainda é favorável: a rentabilidade foi de 97,47% do CDI entre abril de 2019 e abril deste ano, contra 71,84% da poupança.
Igualmente seguros e rendem mais: alternativas à poupança
Muita gente não sabe, mas existem várias alternativas em renda fixa que são tão seguras quanto a poupança e proporcionaram uma rentabilidade maior. Para quem está começando no universo das finanças, o Tesouro SELIC pode ser uma boa opção, já que que rende 100% da taxa de juros, tem aplicação mínima baixa e o investidor pode ter acesso pelo site do Tesouro Nacional.
O auxiliar administrativo de 20 anos, Gustavo Oliveira, está planejando fazer exatamente isso. “Meus pais fizeram uma poupança para mim quando eu era criança, e estou estudando há um tempo para começar a investir no Tesouro”, afirmou. “Tenho o objetivo de morar fora do país com esse dinheiro, e a poupança estava rendendo pouco”.
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Já para quem ainda é totalmente leigo no assunto, o planejador financeiro Rodrigo Bussab recomenda apostar em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de bancos médios e grandes ou em Fundos DI, ambos de liquidez diária. “O investidor pode pedir por essas opções nas agências bancárias, não precisa ter tanta bagagem de educação financeira”, afirmou o planejador. “Essas aplicações serão tão seguras quanto a poupança e irão render mais”, completou.