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Renda fixa: por que especialistas falam em fim da janela para prefixados?

Títulos do Tesouro Direto chegaram a bater rentabilidade de 13% ao ano no mês de fevereiro. Situação atual é outra

Renda fixa: por que especialistas falam em fim da janela para prefixados?
(Foto: Envato Elements)
  • Após oferecer rentabilidades próximas a 13% em fevereiro, Tesouro Prefixado passou a responder às expectativas de corte de juros
  • Movimento de antecipação da curva longa de juros teve o avanço do arcabouço fiscal como um dos fatores
  • Devido aos movimentos de antecipação, a variação da rentabilidade dos prefixados não deve se alterar tanto neste ano

As taxas de rentabilidade dos títulos prefixados do Tesouro Direto vêm caindo em antecipação aos cortes na taxa básica de juros (Selic) esperados para começar no segundo semestre. A expectativa é de que os títulos não passem por grandes oscilações nos próximos meses, mas o cenário para títulos de mais longo prazo ainda carrega incertezas.

De acordo com especialistas ouvidos pelo E-Investidor, os títulos de curto prazo já precificaram o arrefecimento da curva de juros, importante indicador da expectativa sobre os rumos da Selic no País. Hoje, o Tesouro Prefixado 2026, título prefixado com vencimento mais próximo no Tesouro Direto, paga uma rentabilidade de 10,7%.

“Nossa expectativa é de que a Selic tenha uma redução para 12% até o final deste ano e para 9,5% no ano que vem. Portanto, não esperamos variação significativa nas taxas prefixadas para os títulos curtos, pois já embutem expectativa semelhante”, explica Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.

O movimento de queda ocorre em um ano em que os títulos prefixados do Tesouro Direto chegaram a bater rentabilidades contratadas com margem de 13% ao ano no mês de fevereiro. Naquele momento, o ativo pagava um prêmio de risco alto devido ao receio do mercado em relação à política fiscal que seria adotada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A partir de março, o ativo passou a se valorizar e sua rentabilidade, cair.

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“Ao longo de 2023, com o mercado antecipando o início da flexibilização monetária e o avanço das pautas econômicas, com o novo arcabouço fiscal e início das discussões da reforma tributária, observamos uma forte performance positiva nesses títulos prefixados”, explica Ian Lima, gestor de fundos de renda fixa da Porto Asset Management.

Segundo ele, os títulos prefixados de curto prazo possuem uma correlação maior com as políticas monetárias. O especialista também acredita que boa parte dos ganhos já foram incorporados no preço atual, o que deve levar a taxas de contratação de 9,75% a 10% para o Tesouro Prefixado 2026 ao fim deste ano.

Títulos de longo prazo

O cenário é um pouco diferente para os títulos com vencimentos mais distantes. Em geral, a volatilidade desse tipo de ativo costuma ser maior e a capacidade de lidar com a inflação, bem como a política fiscal, podem impactar o desempenho do ativo e a sua rentabilidade.

Segundo Rafaela Vitória, como o cenário de médio e longo prazo ainda carrega incerteza pelo lado do risco fiscal, ou seja, a inflação poderia voltar a subir e com isso interromper o ciclo de cortes, o banco não aposta em quedas muito maiores nesse momento para as taxas longas.

Normalmente os ativos com prazos de vencimento mais longos pagam um prêmio maior devido ao risco atrelado a segurar aquele investimento por um tempo maior. Por esse motivo, Ian Lima acredita que esses títulos devam terminar o ano com uma rentabilidade entre 10% e 10,25%.

Para Paulo Ricardo dos Santos, especialista da Blue3 Investimentos, o comportamento dos preços dos bens e serviços ainda pode impactar as expectativas, uma vez que uma inflação maior que a meta, estipulada em 3,25%, mas com tolerância até 4,5%, pode fazer com que a Selic seja sustentada em níveis elevados por mais tempo.

Ainda dá para se posicionar em prefixados?

Na avaliação de Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para o investidor pessoa física do Itaú, os títulos prefixados com prazo de vencimento curto já atingiram um preço “justo”, pensando em um cenário de taxas de juros a 9% no fim do próximo ano. As incertezas em relação ao comportamento da inflação, no entanto, ligam o alerta acerca dos títulos com vencimentos mais distantes.

Para Queiroz, seria necessário um cenário econômico bastante favorável, indicando taxas de juros ainda menores do que 9%, para que os títulos de longo prazo comprados com a rentabilidade atual valessem a pena.

Somado a isso, no momento os títulos com vencimentos mais longos pagam prêmios de risco relativamente pequenos se comparados aos de curto prazo. Hoje, o Tesouro Prefixado 2026 paga uma rentabilidade de 10,37% ao ano e o Tesouro Prefixado 2029 paga 10,76% ao ano. “É um prêmio tão pequeno, dado risco de segurar um título tão longo, que eu acho que estaria se comprando um cenário muito positivo para muito tempo na frente”, explica Queiroz.

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Na Blue3 Investimentos, a recomendação também tem sido de redução da exposição da carteira aos prefixados após a janela de oportunidade de estresse na curva de juros, que levou os títulos a rendimentos de 13%. “Temos projeções de que continuam os fechamentos da curva de juros para o médio prazo. Estamos finalizando essa janela de oportunidade para esse tipo de ativo”, aponta Paulo Ricardo dos Santos, especialista da Blue3 Investimentos.

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