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Veja a rentabilidade do Tesouro Direto com a Selic a 11,75%

Com o novo reajuste, os títulos são impactados, principalmente os mais conservadores

Veja a rentabilidade do Tesouro Direto com a Selic a 11,75%
Alta dos juros impacta títulos públicos. (Fonte: Brenda Rocha - Blossom/Shutterstock/reprodução)
  • Títulos públicas são papéis emitidos pelo Governo para financiar a dívida
  • O Tesouro Selic é o principal beneficiado pela alta dos juros. Já o Tesouro Prefixado e IPCA+ tendem a sofrer no curto prazo

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia em 1 ponto percentual na reunião desta quarta-feira (16). Agora, a Selic passou de 10,75% para 11,75% ao ano, o maior patamar desde fevereiro de 2017. As expectativas são de que os reajustes não parem: segundo o Boletim Focus, até dezembro esse percentual deve chegar a 12,75%.

Com o novo reajuste, os títulos públicos do Tesouro Direto são impactados, principalmente os mais conservadores. Para quem não conhece, um título público representa uma parcela da dívida do Governo. Comprando um título público, o investidor está ajudando a financiar essas pendências, por isso recebe um rendimento em cima dos papéis.

Há três tipos de títulos: o Tesouro Selic, que rende a variação da taxa de juros; o Tesouro Prefixado, que no momento da compra já tem uma rentabilidade definida; e o Tesouro IPCA, que rende a inflação mais uma taxa prefixada. Entre esses, o principal impactado pelas altas dos juros é o primeiro.

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Também conhecido como LFT, o Tesouro Selic é um título pós-fixado e, conforme o nome indica, atrelado à Selic. Portanto, quando a taxa de juros sobe, a rentabilidade desse tipo de aplicação também se eleva. De acordo com a taxa anual divulgada pela autoridade monetária, o retorno bruto do papel passa a ser de 11,65% ao ano.

“O título é impactado positivamente porque segue quase que cravadamente a Selic”, afirma João Beck, economista e sócio da BRA. “Ele é o que mais se beneficia de todos, principalmente no curto prazo.”

Considerando que os juros permaneçam nesse nível por pelo menos um ano, a rentabilidade líquida do título ficaria em 9,32%, já que o imposto de renda para o período é de 20%. Já a rentabilidade real, com desconto da inflação, seria de 3,45%. Para o cálculo da inflação, foi utilizada a projeção do Boletim Focus para o IPCA nos próximos 12 meses, de 5,67%.

Acompanhe o exemplo de evolução dos rendimentos brutos mensais de um investidor que aplicasse R$ 10 mil no Tesouro Selic a uma taxa constante de 11,65% ao ano. Os dados são da calculadora Domine Suas Finanças.

Prefixados e IPCA+

No caso do Tesouro Prefixado e IPCA+, o impacto nas taxas é absorvido antes mesmo do anúncio do Copom. “A subida dos juros geralmente é antecipada pelo mercado futuro de taxas de juros”, explica Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “E depois a curva de juros é ajustada conforme os comunicados divulgados pelo Banco Central.”

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Curva de juros é uma projeção do ‘caminho’ que a Selic fará ao longo do tempo e serve de base para os retornos do tesouro prefixado e da parte prefixada do Tesouro IPCA. Quando são esperados juros mais altos, a curva também é alterada. “A diferença entre a taxa pré do Tesouro Prefixado e do Tesouro IPCA+ é um componente chamado inflação implícita. Isso significa que toda vez que a expectativa de inflação sobe, o título IPCA+ vai se ajustando conforme essa inflação projetada a futuro”, afirma Costa.

Alguns fatores podem fazer as expectativas para os juros de um país subirem: o risco fiscal é um deles, já que um eventual descontrole das contas públicas acaba culminando em uma maior inflação - algo que por consequência gera a necessidade de subir a Selic.

Um choque de commodities, que puxa os preços de alimentos e combustíveis para cima, também pode ser responsável para expectativas de juros mais altos.

A guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, é um fator que está pressionando os preços do petróleo e de insumos agrícolas. Dada essa situação, as incertezas em torno do avanço inflação se acentuam no mundo.

“A maior dúvida do mercado é onde vai parar a Selic em 2023. Os números de inflação que vêm saindo estão piorando as expectativas para os juros. Por isso, títulos prefixados mais curtos estão com taxas, por vezes, até maiores do que nos papéis mais longos”, explica Costa. “O mercado tem muito medo do que pode acontecer com os juros no curto prazo, mas entende que essa inflação vai convergir para a meta depois e cair.”

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Beck, da BRA, também vê esse cenário. “Os prefixados subiram de rendimento porque a inflação está mostrando as caras. Aliás, as expectativas para a inflação pioraram por causa do impacto dos preços de energia e alimentos. Então o mercado, confiando que o Banco Central está comprometido em conter a inflação, aposta na alta dos juros”, explica.

Na quarta-feira (16), o Prefixado para 2025 estava pagando 12,41% de rendimento, enquanto os Prefixados mais longos, para 2029 e 2033, ofereciam rentabilidades menores, de 12,29% e 12,39%.

Riscos e recomendações

Os títulos públicos têm diferentes níveis de risco. O mais conservador e indicado para reserva de emergência, por exemplo, é o Tesouro Selic. Na outra ponta, o Tesouro Prefixado é o que sofre mais solavancos do mercado e pode acabar fazendo o investidor ter prejuízos.

Beck diz que os títulos prefixados mais antigos tendem a perder valor com a subida dos juros. “Se você comprou esse papel antes das expectativas para os juros subirem, você provavelmente travou a taxa em uma situação pior. Agora a Selic subiu e você não vai surfar nessa alta”, afirma. “Esse é o título que se prejudica mais.”

Nos primeiros dias de 2021, a maior parte dos prefixados pagava em torno de 6% de rendimento ao ano. Conforme os meses se passaram e as preocupações fiscais e inflacionárias ganharam os holofotes, as expectativas para os juros subiram e a taxa paga dobrou. “É uma perda muito grande, porque a taxa Selic já está caminhando para 13%”, afirma Beck.

O investidor que comprou o papel no início do ano passado, além de ter travado o dinheiro em um juro bem menor, viu o título se desvalorizar - ou seja, se a venda for realizada antes do vencimento, esse investidor terá prejuízo. Entretanto, se o papel for levado até o vencimento, os juros contratados serão pagos.

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“Esse título tem um componente especulativo. Para comprá-lo, o investidor tem que prever o que vai acontecer com a inflação”, afirma Beck. “Se o investidor acredita que a guerra entre Rússia e Ucrânia vai acabar amanhã [o que faria a inflação e os juros cederem], por exemplo, provavelmente o prefixado será a melhor opção de todas.”

Já o híbrido Tesouro IPCA+ consegue proteger o investidor contra a variação da inflação e ainda paga um juro real, que está em 5,66% para o título mais curto e 5,87% para o mais longo. Para quem conseguir levar até o vencimento, esse papel pode ser uma boa opção. “As pessoas que têm a capacidade de planejar para longo prazo, que não precisam sacar esse dinheiro, podem alongar o investimento pensando na aposentadoria [com títulos IPCA+]”, afirma Costa.

Essa também é a opinião de Beck. “Se o investidor tem perfil conservador e horizontes de curto prazo, o Tesouro Selic sempre vai ser a melhor opção, porque já estamos com uma Selic alta e nesse título o resgate pode ser feito a qualquer momento. Para conservador de longo prazo, o Tesouro IPCA+ vai ser a melhor opção, porque tem uma expectativa de pagar uma taxa alta se for levado até o vencimento”, explica.

A carteira recomendada da Ágora Investimentos para os próximos 30 dias também é composta por 70% de títulos indexados inflação com vencimento em 2026 e 30% por títulos indexados à Selic. "O quadro inflacionário deverá continuar pressionado não somente no Brasil como no mundo, e as expectativas para 2022 e 2023 serão preponderantes para as decisões do Copom nas próximas reuniões", afirma a casa em relatório.

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