Rioprevidência tem mais 2 fundos na carteira que expõem riscos aos aposentados e pensionistas do RJ
TCE-RJ aponta indícios de irregularidades identificadas nas alocações realizadas pelo fundo de previdência; Procuradas, Nest Asset negou ter responsabilidade sobre o caso e a HSI Investimentos e Banco Daycoval não se pronunciaram
O Rioprevidência é responsável pelo pagamento mensal de servidores aposentados e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro. (Foto: Adobe Stock)
Desde o dia 8 de outubro, o Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro (Rioprevidência) foi proibido pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) de investir em produtos financeiros ligados ao Banco Master. O E-Investidor apurou ainda que outros dois fundos que integram o portfólio do Rioprevidência, Nest Eagle FII (EGL11) e HSI Real Estate Multiestratégia, também entraram na mira do TCE pelo mesmo motivo: indícios de irregularidades nas operações.
O Rioprevidência é o responsável pelo pagamento dos servidores aposentados e pensionistas do governo estadual do Rio de Janeiro. Logo, as alocações de investimentos precisam garantir a segurança e o equilíbrio financeiro do sistema previdenciário.
No entanto, desde 2024, o TCE-RJ investiga possíveis irregularidades nas alocações dos recursos previdenciários em ativos em desacordo com as regras de investimento. O órgão apurou que o Rioprevidência chegou a concentrar cerca de 25% dos seus recursos – equivalentes a R$ 2,6 bilhões – em Letras Financeiras (LF) e fundos de investimentos vinculados ao Banco Master, como detalhamos nesta reportagem.
Os fundos HSI Real Estate e Nest Eagle FII também entraram nessa entoada. De acordo com o TCE-RJ, o Rioprevidência alocou R$ 140,3 milhões no HSI e R$ 75 milhões no Nest Eagle entre novembro de 2024 a janeiro de 2025. Os aportes ultrapassam o limite estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 15% do patrimônio líquido de cada fundo.
Os recursos do Nest Eagle são geridos pela Nest Asset Management, gestora que faz parte do grupo Nest International Holding LTDA. Já os do HSI estão sob o comando da HSI Investimentos, com R$ 10 bilhões sob gestão. As empresas são responsáveis por definir a estratégia de investimento e pela escolha dos ativos que compõem a carteira dos fundos. Já o Banco Daycoval atua como administrador nos dois veículos e é responsável pelo controle dos prestadores de serviços, acompanha o fluxo de caixa dos produtos, contrata auditor independente e presta contas aos cotistas.
Procurada, a Nest afirmou que a nova oferta pública de cotas deve reduzir a participação do Rioprevidência no FII. A gestora acrescentou ainda que a responsabilidade de aceitar novos investidores recai sobre a administração do Nest Eagle. A HSI, por sua vez, preferiu não se pronunciar sobre o assunto, assim como o Banco Daycoval. Já o Rioprevidência não respondeu aos pedidos de posicionamento.
Tribunal do Rio identifica indícios de irregularidades
A decisão do TCE-RJ também cita outros indícios de irregularidades. O tribunal avaliou que o HSI Real Estate possui baixo nível de transparência quanto à composição das suas carteiras. O fundo investe em cinco empresas de capital fechado do segmento imobiliário, mas os documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não fornecem informações adicionais sobre as investidas.
“Não é possível identificar informações sobre as suas movimentações ou evoluções patrimoniais, inexistindo séries históricas públicas minimamente suficientes”, disse o TCE-RJ. “Trata-se, portanto, de exposição concentrada e pouco auditável”, acrescentou.
Quanto ao EGL11, as observações se concentram na decisão de investir em um fundo recém-lançado no mercado, colocando o Rioprevidência entre os primeiros cotistas. Criado em agosto do ano passado, o FII investe em imóveis de alto padrão prontos ou em construção para valorização ou obtenção de renda por meio de locação no médio e longo prazo. Atualmente, o fundo possui apenas 11 investidores.
“Mais uma vez, verifica-se temeridade na entrada inicial em veículo novo, com governança e métricas de risco pouco demonstradas”, ressalta o TCE-RJ.