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- Há mais de uma semana, o mundo acompanha os conflitos entre Israel e o grupo Hamas
- Nos primeiros dias, os investidores recorreram ao dólar e ao ouro diante das incertezas das proporções da guerra
- No entanto, o CEO da Stratton Capital avalia que o conflito favoreceu ainda mais as ações do setor de defesa.
- Marcelo Cabral é sócio-fundador da gestora Stratton Capital, afiliada a Charles Schwab, a segunda maior corretora do mundo
O mundo acompanha atento aos desdobramentos da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Do lado do mercado financeiro, o olhar fica mais voltado para os efeitos do conflito nas bolsas globais. A princípio, havia um receio entre os investidores de que o preço do barril do petróleo pudesse alcançar o patamar de US$ 100, como ocorreu no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022.
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No entanto, o CEO da gestora internacional Stratton Capital, Marcelo Cabral, avalia que o efeito mais evidente da guerra no Oriente Médio é a tendência de valorização das ações das empresas do setor de defesa – diante do aumento do risco geopolítico no mundo.
As ações da empresa norte-americana de defesa aeroespacial Lockheed Martin, por exemplo, saltaram 10,21% ao longo última semana, enquanto os papéis da BAE Systems, a maior empresa de defesa sediada na Europa, subiram 8,82%; e as ações da alemã Rheinmetall decolaram 8,8%.
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A valorização foi bem acima dos ativos considerados mais defensivos, como o dólar e o ouro, que apresentaram valorizações de 4,34% e de 1,12%, respectivamente, na segunda-feira (9), data do primeiro pregão após o início da guerra. Ao olhar para a rentabilidade no acumulado da semana, o ouro conseguiu sustentar ganhos ao encerrar o período com uma alta de 5,4%. Já o dólar Ptax sofreu uma desvalorização de 1,88% na semana, segundo dados da Stratton Capital.
Ou seja, os recentes ganhos sinalizam uma resposta do mercado financeiro sobre as consequências com o aumento das tensões políticas no planeta. “Temos ainda a guerra entre Rússia e Ucrânia. Há preocupações voltadas para a tensão entre China e Taiwan. E agora, temos a guerra entre Israel e o grupo Hamas”, ressalta o CEO.
O especialista com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro já foi gestor internacional no JP Morgan e vice-presidente do Morgan Stanley, ambos em Nova York (EUA). Além disso, foi presidente do Bradesco Europa e diretor do Bradesco Securities.
Ao E-Investidor, Cabral também falou sobre as outras oportunidades de investimento na Bolsa de valores com o atual ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos e as perspectivas para o corte da taxa de juros no mercado norte-americano, após 19 meses da primeira alta que aconteceu em março de 2022. Confira os principais trechos da entrevista:
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E-Investidor – Se a guerra ganhar proporções ainda maiores, quais são os possíveis efeitos para as bolsas internacionais?
Marcelo Cabral – A reação dos mercados foi bastante previsível. Tivemos uma fuga de capital para ativos de maior segurança. O dólar subiu, assim como o preço dos títulos do tesouro americano. Com a guerra no Oriente Médio, temos um aumento do preço do petróleo, das ações das empresas de energia e do setor de defesa. Então, vejo que se trata de uma reação típica de curto prazo e, na minha avaliação, foram reações moderadas.
O grupo Hamas está muito isolado em comparação à guerra do Yom Kippur (em 1973) porque o grupo só possui apoio do Irã. A Arábia Saudita está preocupada com as reformas internas. O Egito nunca apoiou o Hamas e a Síria está neutralizada pela guerra civil. Então, o Irã representa o maior risco ao mercado. Mas mesmo o Irã sendo afetado, a produção de petróleo do país só corresponde a 3% da produção global. Por isso, acho que o impacto da guerra vai ser muito limitado para os mercados.
No acumulado da semana, o dólar caiu, enquanto o ouro se manteve em alta. Vale a pena investir nesses ativos?
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No caso do dólar, a tendência é que a moeda se estabilize e caia um pouco em relação ao euro, libra e o iene. Quando a taxa de juros nos Estados Unidos sobe mais do que no resto do mundo, o dólar se valoriza. Quando os juros caem mais, o dólar se desvaloriza.
Avalio que os Estados Unidos se aproximam de uma queda nas taxas. Não sabemos quando vai acontecer. Pode até haver um novo aumento dos juros, mas entendemos que chegamos no pico e a tendência é que caia, enfraquecendo o dólar na margem. Por isso, acho que não dá para fazer uma aposta muito agressiva na alta da moeda.
Já em relação ao ouro, acho que o ativo está em uma tendência de alta interessante. Não temos posição, mas vemos que pode ser uma alternativa interessante até em função dos déficits fiscais ao redor do mundo. Há vários países com risco fiscal elevado e o ouro costuma ser o refúgio. Para o longo prazo, pode ser interessante.
Para os brasileiros, o dólar continua sendo um ativo interessante para ter no portfólio?
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No momento em que houve um evento geopolítico (o ataque a Israel), a primeira reação do mercado foi “fugir” para ativos defensivos, como o dólar e o Treasurie americano. Então, essa alta do dólar foi provocada pelos ataques em Israel e esse ganho vai ser temporário.
Além disso, à medida que o Fed (Banco Central dos Estados Unidos) for reduzindo a taxa de juros, a taxa de câmbio deve se normalizar. Essa é a perspectiva de curto prazo. Já no horizonte de médio e longo prazo, é interessante o investidor brasileiro estar exposto ao dólar por ser um ativo defensivo e por avaliar que há uma tendência de alta em relação ao real. Mas o ideal seria diversificar: ter dólar, euro e ouro na carteira de investimentos.
Quais setores devem entrar no radar do investidor agora?
Um setor que tem se mostrado muito interessante é o de defesa. A Boeing, por exemplo, é uma delas. A empresa tem uma área de aviação comercial, mas também possui uma área de produção para defesa militar.
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As ações da Lockheed Martin subiram 8% na segunda-feira (9). Os papéis da BAE Systems, a maior empresa de defesa na Europa que fica na Inglaterra, saltaram 4%. As ações Rheinmetall, empresa alemã, também subiram quase 7% em um único dia. Então, as empresas expostas a esse setor se tornam interessantes. {Já ao longo da semana, os papéis das companhias alcançaram ganhos de 10,21% (Lockheed Martin), 8,82% (BAE Systems) e 8,8% (Rheinmetall).}
Não estamos dizendo para investir por causa da guerra, mas o que vemos ao redor do mundo é um aumento do risco geopolítico. Temos a guerra entre Rússia e Ucrânia. Há uma preocupação com a tensão entre China e Taiwan. Agora, temos a guerra entre Israel e o grupo Hamas. Por isso, vejo que o impacto dessas guerras seja mais duradouro nas ações dessas empresas devido ao aumento dos gastos militares que sempre crescem após esses conflitos.
No acumulado do ano, os índices de Nasdaq e S&P 500 estão com retornos positivos mesmo com o ciclo de alta dos juros nos EUA. O mercado já precifica o início dos cortes?
O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022 e só teve uma pausa nas altas em julho deste ano. Então, 2022 foi um ano bem ruim para o mercado. Em 2023, o mercado olha para a próxima etapa, que é o início para o corte dos juros. Acho que 2024 será o ano do corte de juros. Há os mais otimistas que acreditam que será no primeiro trimestre ou comecinho do segundo trimestre e os mais pessimistas que enxergam espaço para redução apenas no quarto trimestre do próximo ano.
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Quais são os investimentos que a Stratton Capital está priorizando?
Estamos priorizando as ações de empresas expostas à inteligência artificial por ser uma tecnologia muito relevante e que está se disseminando pela economia, por meio de aplicativos e de outras ferramentas tecnológicas. Acreditamos que essa tecnologia veio para ficar e estamos no início de algo que terá um impacto grande na economia. Olhamos também otimistas para as ações do setor de energia porque vemos ações de empresas sólidas, boas pagadoras de dividendos e com preços atrativos.
Os títulos de renda fixa seguem na carteira?
Sim. Estamos posicionados em renda fixa porque vemos uma oportunidade muito interessante. Hoje, conseguimos em dólar ter uma rentabilidade sem correr muito risco de 6% a 7% ao ano. Isso é algo que não víamos há muitos anos. Considerando a relação risco-retorno, a renda fixa ainda é hoje o melhor investimento.