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O ‘risco Luciano Hang’ para o IPO das lojas Havan

Companhia admite que processos envolvendo o executivo podem repercutir negativamente

O ‘risco Luciano Hang’ para o IPO das lojas Havan
Luciano Hang, empresário dono da Havan, posa para fotos com simpatizantes na frente do Palácio do Planalto. Foto: Dida Sampaio/Estadão
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  • Luciano Hang, além de diretor-presidente e acionista-fundador, é o principal rosto da companhia, que já conta com uma rede de 147 lojas espalhadas pelo Brasil e que agora pretende abrir capital na Bolsa
  • Membro do Instituto Brasil 200, formado por empresários que apoiaram Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial, o bilionário foi processado pelo Ministério Público do Trabalho por supostamente coagir funcionários a votarem no militar da reserva
  • Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, o mercado deve se ater mais aos resultados das Lojas Havan do que as confusões envolvendo seu principal executivo

É difícil pensar em lojas Havan sem lembrar do executivo confiante que gosta de exibir o seu terno verde e amarelo. Luciano Hang, além de diretor-presidente e acionista controlador, é também o principal rosto da companhia, que já conta com uma rede de 147 lojas espalhadas pelo Brasil e que agora pretende abrir capital na Bolsa de Valores. O garoto-propaganda, no entanto, coleciona polêmicas na mesma medida que é um dos principais responsáveis pelo sucesso do grupo.

Membro do Instituto Brasil 200, formado por empresários que apoiaram Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018, o bilionário já foi processado pelo Ministério Público do Trabalho por supostamente coagir funcionários a votarem no militar da reserva. Em vídeo publicado na rede interna da empresa durante a corrida presidencial, e que depois chegou às redes sociais, Hang fala aos colaboradores que talvez tivesse que demitir e parar de abrir novas lojas caso a esquerda ganhasse. O inquérito, entretanto, foi arquivado em 2019.

Hang também é alvo de processos por supostas divulgações de fake news e ataques contra ministros da Corte. Durante a pandemia do coronavírus, o empresário fez críticas ao isolamento social horizontal e ao fechamento de lojas, já que considerava a medida precipitada. No prospecto preliminar do grupo, a própria empresa refere-se ao diretor como um dos ‘riscos’ mais relevantes envolvidos no negócio.

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“O nosso diretor presidente e acionista controlador direto da Companhia já foi no passado e é parte em inquéritos e ações cíveis, criminais e ações civis públicas, relativos a condutas supostamente inapropriadas, e/ou ofensivas, inclusive decorrentes de sua opinião pessoal nas redes sociais, sendo que algumas matérias cíveis tiveram ou podem ainda ter potenciais desdobramentos na esfera criminal”, diz o documento.

É importante lembrar que os planos para o IPO são audaciosos: as lojas Havan pretendem captar R$ 10 bilhões com a abertura de capital, para chegar aos R$ 100 bilhões de valor de mercado, segundo o Jornal Estadão. Só para se ter ideia, Magazine Luiza, principal empresa do setor, está avaliada em R$ 150 bilhões. Vistas as polêmicas nas quais o dono de companhia se envolveu – e que ainda pode se envolver, segundo o prospecto preliminar – os investidores devem considerar o ‘risco Luciano Hang’ na hora de comprar os papéis?

Jogada de Marketing

Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, o mercado deve se ater mais aos resultados das Lojas Havan do que as confusões envolvendo seu principal executivo. “O grupo tem uma vantagem muito grande sobre o ponto de vista financeiro. Os resultados são muito acima do que todo mundo imaginava”, afirma Ana Paula Tozzi, CEO e Head comercial da AGR Consultores.

Em 2019, a varejista registrou R$ 10,7 bilhões em faturamento bruto e lucro líquido de mais de R$ 1 bilhão. No primeiro semestre deste ano, a empresa reportou prejuízo de R$ 127,5 milhões – reflexo das restrições de circulação impostas pelo coronavírus. Ainda assim, os números são parrudos para uma rede de lojas com pouca presença digital e que é consolidada principalmente em cidades do interior de Santa Catarina.

“Apresentar o Luciano Hang como um risco é uma jogada de marketing”, diz Tozzi, da AGR. “Ele é um líder querido pelos funcionários, tem um carisma muito forte e uma cultura organizacional bem definida. É como se ele fosse a Luiza Helena na Magazine Luiza.”

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Por outro lado, a empresa tem desafios pela frente. Na visão de Tozzi, o principal deles é relacionado à governança, hoje muito centralizada nas mãos do Luciano Hang, o ‘dono’ do negócio. “Ele tem que buscar a profissionalização de empresa, processos robustos, informações transparentes e estrutura de dados”, afirma. “Sem falar de gestão profissional, pois é muito difícil você fazer um IPO sem a estrutura de um Conselho de Administração, por exemplo.”

Essa também é a opinião de Luiz Claudio Dias Melo, sócio-diretor da divisão de varejo da consultoria 360 Varejo. “Acredito que o mercado não vai precificar a questão ideológica dele, mas vai avaliar os atributos que a empresa tem”, afirma. “É uma companhia que está crescendo ano após ano e o processo de digitalização também tem andando de forma conjunta.”

Volume de IPO é principal ponto de fragilidade

Mesmo com os números robustos apresentados pelas Lojas Havan, a expectativa de captar os R$ 100 bilhões pode estar fora da realidade. Segundo os analistas, além do momento ser desfavorável para a realização de aberturas de capital, já que a economia não vai bem, para chegar a esse objetivo o grupo teria que ter o seu EBITDA avaliado em 100 vezes o seu atual valor. “Isso não existe, ele não é a Apple”, diz. “Essa situação mostra o lado sonhador do Luciano Hang”, diz Tozzi.

Outro fator é que provavelmente no próximo ano as taxas de desemprego devem pressionar bastante o varejo, o que certamente afetará o desempenho dos estabelecimentos. “Esse é o ponto de maior fragilidade sobre esse potencial de captação”, declara Melo.

Na contramão

A Havan foi uma das últimas empresas a acelerar o processo de digitalização e não é considerada ainda uma companhia totalmente multicanal, ou seja, em que o cliente pode fazer compras por diversos canais. O modelo de negócio, de lojas grandes que ocupam áreas de 3 a 4 mil metros quadrados, vem na contramão da maioria das varejistas.

Atualmente, a tendência é o investimento em estabelecimentos mais compactos e com foco no e-commerce. “Se não existisse Havan e você me perguntasse se há tem espaço para esse tipo de negócio, eu diria que não”, ressalta Melo. “É até surpreendente como uma empresa desse modelo, nos dias de hoje, pode ter sucesso”, diz. Para o diretor de 360 Varejo, não existem concorrentes diretos a esse formato, o que é um diferencial do grupo. Inclusive, as antigas companhias que utilizaram de proposta parecida, como Mappin, faliram há muitos anos.

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Tozzi ressalta que é justamente essa combinação de lazer e compras que faz com que as Lojas Havan sejam menos dependentes do e-commerce, principal tendência de compras durante a pandemia. “Não dá para encaixar a Havan em uma caixinha. Eles têm o propósito de você encontrar tudo o que for possível na loja deles”, afirma. “É uma loja-destino, que você vai e fica horas lá dentro com a família. Funciona como uma experiência de passeio mesmo.”

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