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- Com o impacto da pandemia precificado e o Ibovespa de volta aos 100 mil pontos, algumas empresas já realizaram seus IPOs e pelo menos outras 29 estão na fila para análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
- Para especialistas, o pequeno investidor deve ter cautela redobrada antes de entrar em um IPO, já que a quantidade de informação disponível sobre as companhias ainda fora da Bolsa pode ser escassa
- Alguns fatores devem ser levados em consideração na análise, como o objetivo da emissão de ações e quais são os grupos controladores da empresa
Grande parte das empresas que planejavam seus IPOs (Oferta Pública Inicial de Ações) para o primeiro semestre do ano tiveram que adiar os planos após a crise do coronavírus atingir em cheio a Bolsa. As incertezas econômicas, principalmente entre março e maio, instigaram uma maior busca por proteção em aplicações como o ouro e o dólar, obrigando as companhias a esperar um momento mais oportuno para abrir capital.
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Agora, com o impacto da pandemia precificado e o Ibovespa de volta aos 100 mil pontos, algumas empresas já realizaram seus IPOs, como a d1000 e a Quero-Quero, e outras tantas aguardam análise da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Há pelo menos 29 ofertas na fila. Neste mar de possíveis IPOs, como identificar as melhores oportunidades para o investidor não perder dinheiro?
Subsidiárias podem facilitar a análise
Entre as interessadas em abrir capital, existem as chamadas ‘subsidiárias’ – que são controladas por outra companhia que já tem ações na Bolsa. Segundo Luis Sales, analista da Guide Investimentos, esse tipo de situação pode tornar a análise mais fácil, já que o investidor tem os dados da ‘empresa mãe’ para ajudar a embasar a decisão.
“Uma das empresas que nós estamos olhando é a Compass, que é o braço de gás natural do grupo de energia Cosan (CSAN3)”, diz Salles. “Entre as ofertas em análise vemos muitas empresas pequenas, mas a Compass, de certa forma, conta com essa estrutura que vem de uma empresa já listada em Bolsa e que o pessoal gosta bastante.”
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Os papéis da Cosan estão negociados a R$ 84,30 e já sobem 21,58% no ano. Apesar do bom desempenho, a companhia apresentou prejuízo de R$ 174,4 milhões no segundo trimestre de 2020. O EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu 58,2%, para R$ 590,8 milhões.
Empresas subsidiárias do ramo de incorporação imobiliária também estão entre as apostas de Gustavo Akamine, analista fundamentalista e gestor de recursos da Constância Investimentos. “Vemos um número grande de pedidos de empresas ligadas à construção civil, o que reflete o interesse do investidor pelo segmento”, explica. Dentro do setor, o especialista destaca os pedidos de IPO das companhias Melnick Even e Cury Construtora.
“Além dos juros baixos, que favorecem o setor, levamos em conta os resultados das companhias já listadas em Bolsa”, diz. “A Melnick Even é subsidiária da Even (EVEN3), que atua em Porto Alegre em imóveis de alto padrão, e a Cury Construtora é um braço da Cyrela (CYRE3), incorporadora e construtora.”
O lucro líquido da Even subiu 21,6% no segundo trimestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 26,8 milhões, e as ações estão sendo negociadas a R$ 13,34. A Cyrela, por sua vez, registrou lucro líquido de 67,8 milhões, com queda de 40% na comparação com o mesmo período de 2019.
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Um segundo setor que está atraindo bastante os investidores – e, por consequência, IPOs – é o de varejo. “O segmento está representado ali com a PET Center e a Pague Menos, por exemplo”, diz Akamine. “É necessário entender também que, quando as companhias entram com o pedido de abrir capital, é porque sentiram que os investidores têm interesse.”
Victor Sousa, gerente da mesa de pessoa física da Terra Investimentos, também destaca a questão das subsidiárias como um fator importante para ‘não errar’, mas que o investidor deve entender se faz sentido para a carteira. “O que a gente vê é um apetite muito grande dos investidores institucionais e pessoas físicas, mas o que recomendamos é que cada um entenda a composição do seu próprio portfólio.
Já para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, nem sempre uma subsidiária reflete plenamente o desempenho das ‘empresas mães’. “Acredito que o foco deve ser a própria companhia que vai realizar IPO, e de que forma ela almeja proporcionar maior rentabilidade ao acionista com a emissão de ações.”
Vai emitir ações para expansão ou para cobrir dívida?
De acordo com as fontes ouvidas pela reportagem, o pequeno investidor tem motivos para se preocupar e redobrar a cautela antes de mergulhar em qualquer IPO. Para André Massaro, especialista em finanças pessoais, sempre há poucos dados disponíveis nessas operações, o que pode se tornar uma cilada.
“A informação é sempre deficiente, porque a empresa não tem balanços publicados, gráficos, levantamentos, como uma companhia que já está na Bolsa tem”, explica. “Mas para quem quer entrar em IPO, a dica é olhar o objetivo da abertura de capital no prospecto. Se for para reestruturar passivos [cobrir dívidas] ou oferecer saída a controladores, fique atento”, diz.
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O prospecto é a documentação em que todos os detalhes sobre o negócio ficam registrados. É por meio desse arquivo que o investidor conseguirá identificar a finalidade daquele IPO, assim como a estimativa de preço para os papéis e o número de ações emitidas.
Na opinião de Massaro, um bom sinal quando se trata desse tipo de oferta, é quando a companhia pretende investir os recursos captados em expansão, como comprar novas máquinas ou adquirir lojas em outros estados. Mesmo assim, é importante que o acionista saiba que existem riscos envolvidos.
“Os investidores individuais têm a visão errônea de que, quando uma empresa abre capital na Bolsa, as ações vão sempre pra cima, então assumem uma postura excessivamente especulativa”, afirma.
Talvez o exemplo mais recente disso seja a rede farmacêutica d1000 (DVMF3), que em seu primeiro pregão teve as ações precificadas no piso da faixa indicativa, aos R$17, e desde o IPO acumula variação negativa de 18,74%.
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Segundo Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus, além de para onde vai o dinheiro captado, o investidor também tem que estudar o tamanho da empresa e o setor no qual ela está inserida. “Esse ano houve a popularização dos IPOs, mas há muitas empresas das quais ninguém nunca ouviu falar na vida. Então, é perigoso a pessoa comprar e ficar com um ‘mico’ na mão.”
Saiba quem são os controladores
Outra informação importante para não cair em ciladas é identificar quais são os grupos que estão por trás da companhia que vai realizar o IPO, inclusive, observando se as práticas de governança estão em consonância com as questões ESG – fatores que medem a sustentabilidade e impacto social de um investimento em empresas.
Para Caio Fernandez, CEO da Ivest, é essencial observar o perfil dos controladores, já que grande parte das decisões sensíveis pode passar por esse acionista.
Ele alerta que, se a firma colocar em negociação apenas 30% das ações, por exemplo, então o investidor sabe que 70% continua nas mãos de um controlador: “Não adianta lançar IPO se a maior parte das ações ainda fica na mão de uma única pessoa ou grupo”.