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Constantino, da Ryo, pontua os setores que podem despontar em 2023

O gestor e sócio-fundador da Ryo Asset, Luiz Constantino, fala de risco político e estratégia para montar o portfólio

Constantino, da Ryo, pontua os setores que podem despontar em 2023
Luiz Constantino, sócio-fundador e gestor da Ryo Asset. (Foto: Ryo Asset)
  • Com 17 anos de experiência no mercado financeiro, o gestor diz que não há dúvida de que o cenário de juros mais altos será um grande atrativo para a renda fixa em 2023
  • "O ideal é olhar para o portfólio como um todo. Pensar em um conjunto de investimentos com ativos que dependem de fatores diferentes para ir bem"
  • Ele diz ainda que as medidas adotadas pelo novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisam trazer mais segurança aos investidores

Para Luiz Constantino, ex-Opportunity e sócio-fundador da Ryo Asset, o próximo ano será ainda mais desafiador para o investidor de renda variável.

Com 17 anos de experiência no mercado financeiro, o gestor diz que não há dúvida de que o cenário de juros mais altos será um grande atrativo para a renda fixa em 2023. “Isso gera um ambiente mais difícil para a Bolsa, ainda mais nesse clima de incerteza que existe sobre como vão se dar as decisões do novo governo nos próximos anos”, afirma.

Ele diz ainda que as medidas adotadas pelo novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, podem trazer mais segurança aos investidores, mas isso vai depender do arcabouço fiscal que o governo vai seguir.

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Na avaliação de Constantino, o investidor deve olhar para o portfólio como um todo. Pensar em um conjunto de ativos que dependem de fatores diferentes para ir bem, com destaque para os setores de energia elétrica, commodities e bancos. Prestação se serviços e varejo também devem entrar no radar.

E-Investidor – Quais medidas deverão ser adotadas pelo novo ministro da Fazenda para trazer mais segurança aos investidores em 2023?

Luiz Constantino – Começa com o comprometimento do governo de que o nível de expansão de gastos seja compatível com a sustentabilidade da dinâmica da dívida do Brasil.

Todos os números que foram colocados demonstram uma expansão muito grande. Claro que é uma negociação com o Congresso, mas acho que precisa vir do governo a compreensão dos limites que existem que não tem tanto espaço pra gastar tanto.

A PEC é um ponto importante para entender que à medida que você começa a gastar mais precisa equilibrar isso. Como vai fazer? O aumento da carga tributária. Se tiver que fazer uma expansão de carga tributária acaba sendo muito ruim para o potencial da economia crescer ao longo do tempo.

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O novo governo já deixou claro que não gostaria de seguir o teto de gastos, então a dúvida é saber qual vai ser a nova estratégia. Outro ponto também é entender quais são as reformas que o novo governo vai propor. Entender de que forma a Reforma Tributária vai avançar.

Há várias alavancas para o governo que precisa deixar um pouco mais claro o que ele vai utilizar para o mercado ficar mais tranquilo. Até então tem muita incerteza. A direção que foi colocada, a visão que o governo já expressou de como ele enxerga esse ciclo foi bem pior do que o mercado estava esperando. Tanto é que os preços refletiram isso, com a Bolsa caindo e os juros subindo.

Os juros elevados podem seguir ao longo dos próximos meses, até que as propostas do governo Lula fiquem mais claras. A renda fixa será responsável pelos maiores retornos em 2023?

Constantino – Não há dúvida de que em um cenário de juros mais altos acaba sendo um grande atrativo para a renda fixa e que gera um custo de oportunidade maior para as ações. Isso claramente gera um ambiente mais difícil para a Bolsa, ainda mais nesse clima de incerteza que existe sobre como vão se dar as decisões do novo governo nos próximos anos.

À medida que saímos de um cenário que se esperava de um rigor e comprometimento fiscal maior para um que dá sinais de uma expansão de gastos maior, a curva de juros passou a mostrar esse cenário de tendência de alta da Selic, o mercado também antecipa isso. Se agora o concorrente, no caso a renda fixa, vai dar 14% ao ano e não 11 ou 12% ao ano, as ações vão ter que render mais para justificar o investimento.

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As ações estão bastante descontadas. Colocando um pouco em números: hoje na renda fixa você consegue ter inflação mais 6% se você investir nos títulos do governo atrelados à inflação. A gente vê diversas ações de empresas de qualidade e sólidas negociando com retorno de inflação mais 10% ou mais 13% ao ano, ou seja, tem uma gordura de retorno importante. Se a gente for em empresas menos líquidas, talvez mais arriscadas, esse retorno seria ainda mais alto.

2023 vai ser um cenário muito mais de escolher bem as ações, um cenário que a gente chama de alfa, ou seja, de conseguir selecionar ações que vão conseguir ir bem e tem valuations descontados.

Diante deste cenário, para quais setores o investidor deve olhar agora?

Constantino – O ideal é olhar para o portfólio como um todo. Pensar em um conjunto de investimentos com ativos que dependem de fatores diferentes para ir bem. Claro que tudo vai depender porque vai ter uma conjuntura macro comum para essas empresas, mas vão ser fatores de risco diferentes.

Temos alguns investimentos importantes no portfólio: energia elétrica (Equatorial e Eletrobras), commodities (tanto petróleo como celulose – PetroReconcavo, PetroRio e Suzano), que são menos dependentes do crescimento da economia brasileira e mais da economia global e têm os preços dolarizados.

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Os bancos também compõem bem o portfólio atual. Talvez os juros continuem mais altos por muito tempo e isso ajuda os grandes bancos a manterem uma rentabilidade alta. É claro que vai ser importante acompanhar como vai ser o cenário de inadimplência, a parte de crédito. Tanto Bradesco quanto Itaú tem cenários que fazem sentido compor esse portfólio.

Há outros setores que também têm boas perspectivas. A Smart Fit é importante para penetração no setor de academias, pois é líder do setor. O Shopping Iguatemi por que tem tido vendas bastante fortes. O Assaí, no setor de atacarejo, depende um pouco de cenário interno devido aos auxílios que deverão ser mantidos, e ainda, a Vibra (combustíveis). Nesse momento, mais do que escolher uma empresa ou um setor, vale essa composição do portfólio. Todos esses setores estão com um desconto razoável no valor das ações e todas elas podem dar um retorno interessante para o investidor.

Os fundos tiveram um ano difícil, mas os fundos de ações que replicam Cielo, Vale e Petrobras entregaram rentabilidade acumulada acima de 120% em 2022. O investidor deve olhar para essas empresas em 2023?  

Constantino – O primeiro ponto é tomar muito cuidado em não se prender na rentabilidade passada nessa tomada de decisão, ainda mais nesses casos de fundos que são de uma ação apenas. É importante fazer o dever de casa e estudar bem as empresas. Petrobras foi um investimento importante nosso no último um ano e meio e foi até a principal contribuidora do fundo nesse tempo, mas agora estamos num momento diferente, entrando num governo que tem feito um discurso de voltar um pouco da estratégia que a empresa fez de 2010 a 2016. Isso representa um nível de risco importante para a empresa.

O mercado está olhando para ela e antecipando problemas futuros. O papel pode até parecer razoável, mas é difícil saber o nível de retorno que vai ter nesse investimento, qual vai ser a eficiência nessa gestão. Outra coisa vai ser a política de preços dela, pois existe um risco de mudar a forma como ela precifica o diesel e a gasolina no mercado. Tem vários fatores que estão sendo colocados que está se antecipando uma piora importante na gestão da empresa. No momento não temos o conforto para manter o investimento na empresa. Já a Vale temos uma posição pequena do fundo.

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Em uma cenário como esse usar estratégia de long tem mais flexibilidade para atuar nesses ciclos, mas o investidor precisa entender como vai equilibrar a parcela que ele tem na renda fixa, no multimercado, de ações e que nível de risco ele está assumindo.

Caso a expectativa de queda das taxas de juros se confirme no segundo semestre do ano que vem, quais ativos devem voltar para o radar dos investidores?

Constantino –Se isso acontecer será uma grande surpresa e aí os setores mais dependentes da economia doméstica iriam performar bem: consumo, varejo, shoppings, saúde e energia elétrica. Por isso, reforço a ideia de portfólio. Hoje esses são os setores que existe mais receio com o novo governo, mas dentro de uma composição de portfólio tem alguns nomes de empresas com uma dinâmica de crescimento importante, seja por grande participação de mercado, grande penetração junto com alguns outros setores que possam defender um pouco mais.

A guerra no Leste Europeu deve continuar afetando as carteiras dos investidores?

Constantino – No início de 2022 foi um cenário importante do ponto de vista dos investimentos. Agora, dado que não tem tido muitas mudanças no cenário da guerra, tem ficado mais num segundo plano em relação a outros fatores como a alta da taxa de juros nos EUA e o novo governo no Brasil.

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Tem alguns fatores que poderiam contribuir para aliviar algumas pressões de preço com os commodities. Se esse desfecho favorável da guerra acontecesse, haveria  efeito em alguns setores como o caso do preço do petróleo que foi um dos fatores que ajudou a sustentar um limite de preços mais altos. Por outro lado, se o cenário for de intensificação dos confrontos numa escalada importante com entrada mais direta dos países da Othan na guerra ou do lado da Rússia também intensificando esse confronto, aí poderíamos ter um cenário ainda maior de aversão a risco, que seria ruim de forma geral para ativos de Bolsa no mundo.

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