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Prêmio por títulos de dívida sobe após efeito Americanas. O que fazer

Rombo da varejista desvalorizou cotas dos fundos de crédito privado, fazendo a rentabilidade contratada subir

Prêmio por títulos de dívida sobe após efeito Americanas. O que fazer
Com desvalorização causada pela Americanas, fundos de crédito privado estão pagando mais. (Foto: Envato)
O que este conteúdo fez por você?
  • O rombo bilionário encontrado na Americanas (AMER3) ainda está repercutindo no mercado de crédito privado
  • Depois de uma leva de resgates e desvalorização, a cota desses ativos sofreu com a marcação a mercado. Agora, quem ficar até o vencimento vai ganhar mais
  • Especialistas explicam porque o momento é ruim para desmontar posições nesses ativos

No dia 11 de janeiro, o mercado ficava sabendo de um escândalo contábil na Americanas (AMER3) na ordem de R$ 40 bilhões. A notícia balançou a bolsa brasileira e até as aplicações mais conservadoras, como os fundos de renda fixa e os ativos de crédito privado, viram suas carteiras sofrerem. Cerca de 40 dias depois, os impactos ainda estão sendo sentidos.

Como mostramos nesta reportagem da época, existiam no mercado 469 fundos com debêntures da Americanas. Na prática, esses ativos compram títulos da dívida de uma empresa em troca de uma remuneração futura. Quem tinha papéis da dívida da Americanas viu o preço das cotas derreter, dado o risco de default – a chance de a companhia não ser mais capaz de honrar seus compromissos, o famoso “calote”.

Mas até fundos ou debêntures que não tinham a menor relação com o rombo da varejista sofreram desvalorização.

Um levantamento feito pela Economatica mostra um aumento significativo no prêmio exigido pelo mercado nas debêntures precificadas pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Até o dia 11 de janeiro, antes da divulgação do fato relevante comunicando que as inconsistências contábeis haviam sido encontradas, a média do rendimento até o vencimento (YTM) desses ativos era de 12,05%. Em 17 de fevereiro, atingiu o maior pico do ano: 13,19%.

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O movimento é o que o mercado chama de “abertura de taxas”. Com o escândalo na Americanas ainda repercutindo na confiança do investidor, passa-se a exigir um retorno maior pelo risco de crédito.

Isso faz com que as cotas dos fundos de crédito privado desvalorizem na marcação a mercado, ainda que a rentabilidade contratada até o vencimento continue a mesma – por isso, no fim das contas, parece que a rentabilidade dos ativos aumentou.

Ricardo Propheta, CEO da BRZ, explica que a abertura das taxas de crédito privado ocorre pelo aumento da percepção do risco por causa do caso Americanas, somado às incertezas macroeconômicas do Brasil, que já estavam de plano de fundo quando o escândalo estourou.

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“É uma empresa grande, tradicional, com um buraco em cifras muito relevante, o que acaba criando uma desconfiança adicional, no sentido de até que ponto é possível confiar no escrutínio das auditorias, agências de rating e assim por diante”, explica Propheta. “Mas é muito difícil separar o do que é Americanas e o que é do cenário macro local e internacional. Tudo isso somado fez com que os títulos estejam pagando muito, inclusive aqueles de empresas bastante resilientes.”

Manter ou vender as posições?

A nova crise no crédito privado tem sido comparada por gestores e agentes do mercado ao ano de 2020, quando essa indústria passou por uma grave desvalorização causada pelo início da pandemia da covid-19.

Na época, houve um movimento forte de resgate nesses fundos, obrigando gestores a rodarem a carteira e vender ativos em um ambiente onde não havia liquidez. Como consequência, até os fundos mais conservadores caíram muito.

Agora, o cenário se repete, com investidores resgatando suas aplicações por causa das desvalorizações causadas pelo rombo na Americanas. “Do dia para noite, o mercado virou extremamente vendedor, porque todos os fundos estão sofrendo resgate. Papéis que saiam a CDI + 2%, foram para CDI + 2,5%, CDI + 3%, uma instabilidade vista só naquela crise na época da pandemia”, destaca Andre Mamed, gestor de portfólio da Lifetime Asset Management.

Os especialistas concordam que, neste momento de volatilidade, correr para resgatar pode não ser a melhor opção. “No evento de 2020, passado o pior momento, os investidores que não efetuaram resgates, ou que enxergaram a oportunidade em meio as incertezas e aplicaram naquele momento, conseguiram obter um retorno relevante no período”, destaca Antonio Sanches, analista de investimentos da Rico.

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Isso porque, com a abertura das taxas, quem carregar os títulos até o vencimento ou montar posições agora pode conseguir retornos maiores do que se tivesse aplicado há seis meses, antes da crise na Americanas, por exemplo.

Na visão de Andre Mamed, da Lifetime, desmontar as posições agora seria como “vender a bolsa na baixa”. Ainda assim, o gestor prefere não definir o momento como uma oportunidade.

“É um momento em que as carteiras desses fundos estão com um carrego muito melhor para quem tiver paciência. Em 2020, quem ficou no fundo tinha recuperado tudo seis meses depois ”, afirma. Mamed destaca que o momento ainda deve continuar difícil para fundos com debêntures de varejistas na carteira, que, independente do caso Americanas, também estão sofrendo com o alto patamar dos juros no Brasil.

“Dizer que é uma oportunidade é muito pesado. Mas, sem dúvidas,  é o momento ideal para se investir em carteiras de fundos que não investem no setor de varejo”, diz o gestor da Lifetime.

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