- Quando a taxa de remuneração sobe, para quem já está alocado no papel, a marcação a mercado tem um efeito negativo
- Como o IPCA+ apresentou uma tendência de leve redução, quem estava aplicado no início de maio observou uma valorização de até 1,80% no mercado secundário
- Em junho, a agenda da meta fiscal e a próxima reunião do Copom voltam a fazer preço
Os títulos públicos apresentaram comportamentos mistos em maio, com os prefixados mostrando uma tendência de remuneração próxima à estabilidade frente a abril e os papeis híbridos (IPCA+) registrando uma leve redução nas taxas.
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Na plataforma do Tesouro Direto, a rentabilidade anual do Tesouro Prefixado 2027 se consolidou no patamar próximo a 11,0% durante maio. “Enquanto isso, as taxas dos títulos Tesouro IPCA+, tanto de vencimentos intermediários quanto nos longos, passaram do intervalo entre 6,15%-6,20% para 6,0%-6,10%”, comentou a analista de Renda Fixa no Research da XP, Mayara Rodrigues.
- Além do Tesouro IPCA+6%: os títulos de renda fixa pública e privada para investir em junho
A especialista diz que este efeito pode ser visto nos índices da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) compostos por uma cesta de títulos públicos. Em maio, o IRF-M – carteira de títulos públicos prefixados – acumulou alta de 0,66% (data de referência 31 de maio), enquanto o IMA-B – de títulos públicos atrelados à inflação – registrou alta de 1,33% no mês. No acumulado do ano, os índices acumulam +1,81% e -0,13%.
Rodrigues lembra que, quando a taxa de remuneração sobe, para quem já está alocado no papel, a marcação a mercado tem um efeito negativo. Quem comprou no início do ano um Tesouro IPCA + com vencimento em 2040, por exemplo, está com um rendimento negativo de 2,40%. Em contrapartida, a maior remuneração torna-se um ponto de entrada mais atrativo para novos investidores.
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Quem passou o mês de maio com esses títulos na carteira viu alguns títulos prefixados valorizando menos que o CDI e aqueles atrelados à inflação pagando mais.
Ele reforça que os títulos do Tesouro Prefixado (0,66%) apresentaram um retorno inferior ao CDI (0,83%) no acumulado do mês. Os títulos com vencimento mais curto, no entanto, registraram desempenho melhor. "O LTN (Letra do Tesouro Nacional - Tesouro Prefixado) com vencimento em janeiro de 2025 acumulou alta de 0,76%, ainda abaixo do CDI", observou.
O prefixado com vencimento longo que apresentou desempenho superior ao CDI foi a NTN-F (Nota do Tesouro Nacional série F ou Tesouro Prefixo com juros semestrais) de janeiro de 2033, com alta de 0,87% em maio.
O segmento de títulos que apresentou o melhor desempenho ao longo do mês de maio foi os indexados ao IPCA, as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional série B ou Tesouro IPCA +). "Em especial, os vértices intermediários, entre vencimentos de agosto de 2030 até agosto de 2040", diz o especialista, citando o exemplo do Tesouro IPCA + com vencimento em maio de 2035, que registrou alta de 1,72%, rentabilidade duas vezes melhor que o CDI". "Se anualizar essa taxa vai para além dos 6% que está posto no Tesouro. É uma rentabilidade que beira os 13%", compara.
O que esperar do Tesouro para junho?
Silvestre mantém a recomendação de IPCA + para junho, já que há uma acomodação das expectativas tanto em relação ao plano internacional como no doméstico, o que tende a gerar um retorno positivo para quem manter a aplicação em títulos indexados à inflação.
Para a XP, o movimento de maio foi mais influenciado cenário macroeconômico doméstico. "Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início do mês, o mercado passou a precificar um Banco Central mais leniente com a inflação, o que gerou impacto altista na expectativa da inflação implícita (diferencial entre as taxas de juros nominal e real)" comenta Mayara Rodrigues.
Para o mês de junho, diz ela, devem influenciar a direção das taxas dos títulos públicos o avanço da agenda da meta fiscal, bem como a composição de votos da próxima reunião do Copom. "Uma votação novamente dividida pode continuar pressionando os prefixados", prevê. Em paralelo, a política monetária dos Estados Unidos segue como direcional da curva de juros local.
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Este cenário é o ideal para continuar a investir em títulos públicos, avalia Pedro Afonso Gomes, Presidente do Conselho Regional de Economia da 2a. Região (Coreconsp). "Este é o investimento mais seguro e rentável, ao longo do tempo" diz.
Gomes argumenta que comete um equívoco quem compara títulos de longo prazo, como o Tesouro Direto, com títulos de curto prazo, como aqueles dos fundos de investimento. "Os aplicadores do Tesouro Direto têm por preocupação o acúmulo de poupança de médio e longo prazos, de forma segura e rentável. Aqueles que aplicam em fundos buscam a rentabilidade imediata, sem mirar na formação de carteira de investimentos", opina.