O mercado de ações acontece em um ambiente volátil cheio de imprevisibilidades, onde o risco de perda se faz sempre presente em contraponto às possibilidades de ganho. No entanto, existem algumas companhias que, por sua natureza ou modelo de negócio, são consideradas mais resilientes a crises e incertezas. Essas empresas “à prova de balas” precisam estar no radar de investidores que buscam uma carteira de investimentos mais segura.
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Antes de tudo, é necessário que os investidores estejam bem informados para minimizar os riscos. Quem pensa em investir no mercado de ações, é fundamental que avalie os balanços patrimoniais, que inclui indicadores como receita, lucro líquido, margens de lucro e endividamento. Dessa maneira, será capaz de compreender melhor sobre a saúde financeira, a capacidade de arrecadação e a sustentabilidade da empresa.
As tendências de mercado também são importantes antes de decidir se vale a pena ou não aplicar em determinada ação. As mudanças naturais no mercado podem afetar de forma positiva ou negativa a empresa. O bom investidor observa se existem projetos de inovação nos produtos e serviços onde está pensando em investir, pois esses fatores têm potencial para manter, diminuir ou aumentar a relevância da ação no mercado.
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Também é muito importante entender os riscos específicos do setor em que a empresa atua, como a volatilidade, mudanças regulatórias e a concorrência. Em consideração a todas estas recomendações, o E-Investidor conversou com especialistas do mercado acionário para levantar as ações que o investidor de bolsa deve considerar para um portfólio resistente a intempéries no mercado.
Empresas promissoras: Empiricus Research
No atual cenário de mercado financeiro, de acordo com a analista da Empiricus Research, Larissa Quaresma, quem sai na frente são as ações de utilities – aquelas que oferecem produtos ou serviços essenciais, como a Equatorial (EQTL3), distribuidora de energia que está entrando no mercado de saneamento básico.
“Outra bem defensiva é o Itaú (ITUB4), que gera um caminhão de caixa e dividendos todos os meses para seus acionistas. Também diria que a própria B3 (B3SA3), porque havendo volta ou não do mercado de capitais é outra excelente pagadora de dividendos e que gera bastante caixa todo trimestre para os acionistas, além de possivelmente se beneficiar com a queda dos juros. Atualmente, a Empiricus tem preço alvo de R$ 19 para a B3, com a ação valendo hoje cerca de R$ 13”, explica.
Na visão da especialista, existem outras empresas com potenciais interessantes, por exemplo, a Arezzo (ARZZ3), cuja ação está precificada atualmente em R$ 77 e possui preço-alvo de R$ 110. “É uma empresa de qualidade negociando a 15 vezes o lucro projetado para 2024”, diz Quaresma.
A BR Partners (BRBI11), empresa que assessora emissões no mercado de capitais, também se destaca na visão de Quaresma. Segundo ela, a instituição deve desfrutar da baixa na taxa de juros. Além disso, há a Hapvida (HAPV3) por estar com valor atrativo, com a ação a R$ 4,60. Por fim, o Grupo SBF (SBFG3), que sofreu com prejuízo no segundo trimestre deste ano, mas que ela avalia o atual momento como potencial de virada da operação.
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No entanto, Larissa Quaresma adverte para os riscos que todas ações estão sujeitas. “A reforma tributária pode acabar com juros sobre capital próprio (JCP), que o Itaú e a B3 distribuem bastante”, destaca. Nesse caso, conforme diz a especialista, os dividendos podem ser tributados ou o Imposto de Renda pode subir.
Diversificação Inteligente: Ações Selecionadas pela WIT Invest
O assessor de investimentos na WIT Invest, Rodney Ribeiro, elege setores já consolidados na economia, como saneamento, bancos, energia elétrica e combustíveis como boas opções para uma carteira resiliente. “Para conseguir investir em ações, o investidor precisa definir claramente qual é o objetivo. Então, a sugestão que dou é a formação de uma carteira com cinco ações focadas.”
O analista lembra que as sugestões são todas pautadas nos relatórios da XP Investimentos – a WIT é um agente autônomo credenciada à XP. “É sempre importante o investidor ter empresas sólidas e bem estruturadas já com expansão do seu mercado garantida e, com isso, dando maior possibilidade de distribuição dos seus lucros”, explica.
No setor de energia e saneamento, Ribeiro indica a Taesa (TAE11) e a Sanepar (SAPR4). Já no setor bancário, as sugestões vão para Itaú e Banco do Brasil (BBAS3), enquanto no ramo de papel celulose o assessor de investimentos dica com a Klabin (KLBN4), por, de acordo com ele, “ser uma empresa muito bem estruturada”. Por fim, em mineração, ele indica a Gerdau (GGBR4) e, em transmissão, a Isa Cteep (TRPL4).
Vale a pena investir em empresas fora do Ibovespa?
Para o head de Análise Fundamentalista da Quantzed, Vitorio Galindo, a resposta é sim. “A maior parte das empresas que compõem o Ibovespa são de commodities e bancos. Geralmente, as que estão no índice e que têm maior liquidez, todo mundo já está olhando. Então, fica difícil ter alguma assimetria grande ou alguma instituição que ninguém acompanha”, alerta.
Galindo considera que empresas mais resilientes são aquelas que apresentam bom desempenho em qualquer tipo de cenário, independente de serem listadas no índice ou não. Na lista indicada pelo especialista aparecem Moura Debeux (MDNE3), PetroRio (PRIO3), Guararapes (GUAR3), Simpar (SIMH3) e Schulz (SHUL4).
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Depois de desequilíbrios como a pandemia do coronavírus, guerra na Ucrânia, crise do dólar e bancária, algumas empresas se mantiveram saudáveis e com bons projetos para contornar as adversidades. Segundo Lucas Fürst, analista da Manchester Investimentos, é importante observar o market share, ou seja, a participação de mercado, que diz respeito à porcentagem que uma empresa ou produto detém em relação ao total de um determinado setor.
“Outro ponto importante de entender dentro de uma empresa se traduz em como estão os seus potenciais contratos, a saúde financeira e como ela está se projetando para os anos subsequentes e, também, se esses planos são viáveis”, observa. Ele ressalta também a importância do investidor verificar se a empresa estabelece fortes parcerias com outras do setor ou se faz aquisições. “A simbiose das empresas depois das aquisições acaba trazendo fortalecimento no médio e no longo prazos”, complementa Fürst.
De acordo com Larissa Quaresma, da Empiricus Research, é importante também acompanhar o nível de satisfação dos clientes e se a participação de mercado está pulverizada ou concentrada. A especialista complementa ainda que ter uma fatia pequena do mercado, mas ser a líder do setor ou ter vantagens evidentes sobre a empresa líder, também são bons indicadores.
Para ela, a diversificação em termos de tamanho de receira também se destaca como uma das mais importantes análises. Quaresma recomenda para a carteira do investidor da Bolsa small caps, mid caps e large caps. Esses termos são utilizados para classificar empresas de capital aberto com base no valor de mercado, que é calculado por meio da multiplicação do número de ações em circulação pelo preço de cada papel.
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Sendo assim, ela define as small caps as que valem até R$ 5 bilhões; mid caps, entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões; e as large caps, acima de R$ 10 bilhões. “Juntando esses três pilares de verificação de tamanho, setores e geografia o investidor constrói uma carteira bem resiliente. Para perder dinheiro com ela, vários setores, várias geografias e vários tamanhos de empresa precisam estar sofrendo”, explica.
Já o assessor de investimentos da WIT Invest, Rodney Ribeiro sugere, ainda, que o investidor confira a capacidade da empresa em gerar caixa. “Assim, ela tende a ser mais previsível e menos sensível às instabilidades econômicas. Por esse motivo, sugerimos incluir empresas do setor de consumo não cíclico, como as elétricas, empresas de energia e bancos”, conta, lembrando também do fator endividamento como parte fundamental da análise para a escolha dos papeis da Bolsa.
Veja a lista de papéis sugeridas por cada instituição:
Quantzed | Empiricus Research | WIT Invest |
Moura Debeux (MDNE3) | Equatorial(EQTL3) | Taesa (TAEE11) |
PetroRio (PRIO3) | Itaú (ITUB4) | Sanepar (SAPR4) |
Guararapes(GUAR3) | Arezzo (ARZZ3) | Itaú (ITUB4) |
Simpar (SIMH3) | BR Partners (BRBI11) | Banco do Brasil (BBAS3) |
Schulz (SHUL4) | Hapvida (HAPV3) | Klabin (KLBN4) |
Grupo SBF (SBFG3) | Gerdau (GGBR4) | |
B3 (B3SA3) | Isa Ceteep (TRPL4) |
*Nota de redação: a reportagem foi atualizada às 13h43 do dia 31 de agosto de 2023 para corrigir informações sobre os balanços das empresas citadas na reportagem. O texto original continha dados incorretos.