O que este conteúdo fez por você?
- Há três meses a expectativa para o setor era de alta, mas hoje empresas de educação acumulam baixas na Bolsa
- Empresas de educação correspondem a 0,35% da carteira do Ibovespa
- EAD e efeitos negativos da pandemia e da guerra na Ucrânia foram os grandes responsáveis pela desvalorização dos papéis do setor
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República encheu de expectativas quanto ao desempenho do setor de educação na Bolsa de Valores, tendo em vista que nos últimos governos petistas diversas políticas educacionais foram lançadas – veja a reportagem. O mercado, no entanto, frustrou até este momento os ganhos que os investidores estavam esperando. O setor corresponde a 0,35% da carteira do Ibovespa.
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Em 2023, as companhias do mercado educacional – Yduqs (YDUQ3), Cogna Educação (COGN3), Ser Educacional (SEER3), Ânima Educação (ANIM3), Bahema (BAHI3) e Cruzeiro do Sul (CSED3) – desvalorizaram 6,66%. Em janeiro, houve uma alta de 6,36%, porém, até a metade de fevereiro, as ações tombaram 12,43%, aponta o levantamento realizado pelo Economatica.
Luis Novaes, analista da Terra Investimentos, explica que a desvalorização este ano se dá por dois fatores: primeiro, ensino à distância (EAD) e, em segundo lugar, efeitos negativos da pandemia e da guerra na Ucrânia. No primeiro caso, as aulas EAD reduziram o lucro das companhias, já que os cursos oferecidos online normalmente são mais baratos.
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A Yduqs é dona da Universidade Estácio, que oferece todos os cursos digitais a R$ 149,00 mensais, enquanto os presenciais tem o valor tabelado de R$ 499,00 por mês. Já a faculdade Anhanguera, cuja dona é a Cogna Educação, tem o curso de administração, por exemplo, no valor de R$ 359,03 para alunos presenciais e R$ 149,00 para quem quer cursar no modelo online.
Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2011 a 2021 o número de estudantes em cursos EAD aumentou 474%. Em 2011, a modalidade correspondia a 18,4% do total de estudantes matriculados no Ensino Superior, número que subiu para 62,8% em 2021.
A pandemia do novo coronavirus e a guerra no leste europeu pressionaram os bancos centrais a subirem os juros – no Brasil, a taxa Selic está a 13,75% –, “o que afeta a renda disponível da população, que pretere gastos não essenciais, como o Ensino Superior (segmento de atuação da maioria das empresas listadas do setor)”, diz Novaes.
Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, também afirma que juros elevados impactam à situação financeira das empresas, já que o setor costuma operar alavancado. “Na pandemia, muitas companhias pegaram empréstimos a longo prazo. Quando a taxa Selic era de 2%, o juro mensal era bem menor do que agora. Porém, como o crédito não venceu, o atual patamar de dois dígitos tem um peso maior no caixa das companhias educacionais”, afirma.
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Veja o desempenho de cada empresa do setor neste ano:
Ainda vale investir?
No curto prazo, o analista da Terra Investimentos acredita que os aspectos macroeconômicos devem continuar pesando no desempenho do setor. Porém, a depender das medidas econômicas tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nas próximas reuniões e as ações educacionais articuladas pelo governo Lula, o setor pode vingar.
O boletim Focus de segunda-feira (13) aponta para uma taxa de juros na economia em 12,75% até o final deste ano. E o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista ao programa Roda Viva, também na segunda-feira, se mostrou cético em manter a Selic no atual patamar enquanto a inflação corrente (relacionada à demanda de produtos) permanecer tanto no curto quanto no longo prazos.
Sobre políticas educacionais, até o momento o presidente do Brasil realizou apenas um encontro com reitores de universidades e institutos federais, em 19 de janeiro, quando prometeu retomar o investimento do Financiamento Estudantil (Fies) e do Programa Universidade para Todos (ProUni) – veja aqui. E nesta quarta-feira (15), há a expectativa de que Lula anuncie um reajuste médio de 40% das bolsas de pós-graduação do País, cujo valor permanece o mesmo desde 2013.
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Assim, apesar de não haver tantas ações efetivas, o sócio da Matriz Capital diz que ainda é cedo para falar em fracassos, uma vez que decorreram apenas 45 dias de governo. Ele acredita na tese de que o setor deve se valorizar nos próximos meses por conta das futuras políticas educacionais do atual governo. “O investidor que já está posicionado nas educacionais deve estar com prejuízo. Porém, eu recomendo que aguarde uma reversão de sinal conforme ocorrer a queda dos juros ou otimização do Fies e do ProUni”, diz o especialista. “O mais importante é diversificar o portfólio para não ser tão impactado com a desvalorização do setor”.
Heitor De Nicola, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero, por sua vez, tem um olhar mais pessimista para o mercado de educação. Ele acredita que será difícil uma recuperação em “V” (ações caem, encostam na mínima e, depois, sobem acentuadamente). Ele justifica que o baixo crescimento da receita e a pressão sobre o poder de compra das famílias devem permanecer nos próximos meses por conta dos juros.
Assim, ele não indica nenhum papel do setor neste momento. “Mas, se o investidor quer mesmo assim aproveitar as ações de educação, precisa saber as premissas do setor, entender as teses de investimentos, os resultados financeiros, os movimentos que as empresas fizeram nos últimos meses e ver se o endividamento de cada uma ainda está saudável perante o caixa disponível”, diz. Tais informações podem ser vistas nos balanços financeiros do quarto trimestre de 2022, que sairão nas seguintes datas:
- Yduqs (YDUQ3): 16 de março;
- Cogna Educação (COGN3): 23 de março;
- Ser Educacional (SEER3): 24 de março;
- Ânima Educação (ANIM3): 27 de março;
- Cruzeiro do Sul (CSED3): 28 de março;
- Bahema (BAHI3): 29 de março.