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Estas são as maiores pagadoras de dividendos do mundo. Vale investir?

Petrobras figura no top 10 global; companhias do exterior ajudam o investidor brasileiro a dolarizar a carteira

Estas são as maiores pagadoras de dividendos do mundo. Vale investir?
(Foto: Envato)
  • Para os investidores que gostam de ver o dinheiro pingando na conta, a notícia é boa: a remuneração de dividendos bateu o maior valor da história em 2022
  • A edição mais recente do Janus Henderson Global Dividend Index (JHGDI) mostra as 10 empresas campeãs de dividendos
  • Especialistas destacam que ações globais que pagam dividendos podem ser opção para renda passiva em dólar, mas alguns fatores precisam estar no radar

Os dividendos, a parte do lucro de uma companhia que é distribuída entre seus acionistas, estão entre os principais atrativos dos investidores brasileiros quando o assunto é ações na Bolsa de Valores. E, para os que gostam de ver o dinheiro pingando na conta, a notícia é boa: a remuneração de proventos bateu o maior valor da história em 2022.

No ano passado, os dividendos globais atingiram o montante recorde de US$ 1,56 trilhão, um aumento de 8,4% em relação ao valor alcançado em 2021. Cerca de 88% das grandes companhias globais aumentaram ou ao menos mantiveram seus patamares de proventos, sendo que 12 países registraram dividendos recordes, incluindo os Estados Unidos, a China e o Brasil.

Os dados constam na edição mais recente do Janus Henderson Global Dividend Index (JHGDI), um estudo realizado trimestralmente pela Janus Henderson, gestora global com US$ 287 bilhões em ativos no portfólio.

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O relatório mostra que parte do aumento visto em 2022 se deve às empresas produtoras de petróleo e gás, que viram seus desempenhos serem impulsionados junto ao avanço do preço das commodities com a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia. Essas companhias representaram um quarto do aumento global de pagamento de dividendos no ano.

Um exemplo desse cenário é a própria Petrobras (PETR3; PETR4), a brasileira que figura em segundo lugar no ranking das maiores pagadoras de dividendos do mundo. A disparada do petróleo somada à política de preço de paridade de importação permitiram que a estatal alcançasse em 2022 o melhor resultado da história da Bolsa de Valores brasileira.

Segundo a Janus Henderson, a Petrobras distribuiu US$ 21,7 bilhões a seus acionistas durante 2022, uma alta de US$ 12,6 bilhões em comparação a 2021, o que a gestora classificou como “facilmente o maior aumento” do mundo.

Apesar dos altos valores, a continuidade da remuneração dos investidores é incerta para os próximos anos. Como contamos nesta reportagem, Jean Paul Prates, o novo CEO da estatal, já deu sinais de possíveis alterações nas políticas de dividendos e de preços da companhia.

Mas, ao contrário da brasileira que possui o risco político no radar, as empresas estrangeiras que constam no ranking já são velhas conhecidas nos mercados globais, não só pelo pagamento de dividendos, mas também pela resiliência de seus modelos de negócio.

As 10 maiores pagadoras do mundo

Veja a lista das dez maiores pagadoras de dividendos do mundo, segundo a Janus Henderson. Juntas, elas pagaram US$ 155,1 bilhões a seus acionistas em 2022.

Empresa Ticker
BHP BHP
Petrobras PETR4
Microsoft MSFT
Exxon XOM
Apple AAPL
China Construction Bank 939-HK
Rio Tinto RIO
China Mobile Limited 941-HK
JP Morgan JPM
10º Johnson & Johnson JNJ

 

É possível dividir os nomes presentes na lista do Janus Henderson Global Dividend Index 2022 em dois grupos principais: empresas de commodities e as “blue chips”, nome dado às ações de grandes companhias com muita liquidez na Bolsa.

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No primeiro grupo, destacam-se as mineradoras australianas BHP e Rio Tinto e a petroleira Exxon, dos Estados Unidos, além da Petrobras. “Essas empresas estão aproveitando dos preços elevados dos seus produtos primários, principalmente em razão da guerra na Ucrânia e os embargos comerciais contra a Rússia, da retomada da economia chinesa em 2023 e da força da economia dos EUA, mesmo com os juros mais altos”, explica Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad.

Já as “blue chips”, como Apple, JP Morgan e Johnson & Johnson, são empresas líderes de mercado e com marcas consolidadas, que conseguem repassar a inflação aos consumidores e manter suas margens mesmo em cenário de juros altos e inflação, como o visto em 2022. “Desse modo, tais empresas são capazes de seguir com uma distribuição contínua e robusta de dividendos, ainda que o mercado esteja às voltas com uma possível recessão global em 2023”, destaca Pereira.

A expectativa de tempos mais difíceis nos mercados globais em 2023 já ronda investidores desde o início do ano e pode vir a impactar o resultado dessas – e de outras – empresas. A expectativa da Janus Henderson é que a remuneração de dividendos cresça menos neste ano do que no anterior.

Ainda assim, a gestora prevê um valor total de US$ 1,60 trilhão em dividendos globais em 2023. Um montante expressivo, com boas oportunidades para os investidores que tiverem foco na renda passiva.

Dentre as empresas estrangeiras que foram boas pagadoras em 2022, Richard Camargo, analista da Empiricus Research, dá atenção especial à Apple (AAPL). A empresa norte-americana de tecnologia esteve no top 10 como uma das maiores pagadoras de dividendos do mundo em todos os anos desde 2016, mostra o relatório da Janus Henderson.

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“Gosto bastante das ações da Apple, dá para pensar em um retorno consolidado de 5% ao ano em renda”, diz o analista. Mas os dividendos não são a única forma de fazer o patrimônio crescer investindo nessas grandes empresas. Boa parte das grandes companhias usam uma fatia do lucro em programas de recompra de ações – quando adquire seus próprios papéis em circulação no mercado para aumentar o valor dos ativos remanescentes ou elevar os lucros por ação.

“Quando olho para 2022, vejo que a Apple pagou US$ 14,8 bi em dividendos, porém recomprou US$ 95 bi em ações. O retorno via recompra de ações é quase sete vezes maior que o que via dividendos”, explica Camargo.

O que o investidor brasileiro precisa ficar de olho

Para além dos fatores macroeconômicos e dos fundamentos de cada empresa, o investidor brasileiro que quiser investir no exterior pensando em ganhar dividendos precisa estar atento a alguns fatores.

A alocação em ativos de empresas globais pode ser feita de duas formas: diretamente no mercado desejado, por meio de uma corretora de investimentos que possibilite a alocação internacional, ou via BDRs, os Brazilian Depositary Receipts.

Nas duas maneiras o investidor tem direito ao recebimento dos proventos. A diferença, no entanto, é que quem comprar as ações diretamente recebe os dividendos em dólar ou outra moeda estrangeira, podendo manter os valores na conta da corretora e fazer a conversão para reais apenas quando e se quiser. Já na alocação via BDRs o pagamento chega em reais. Nesse caso, a instituição emissora do papel entrega o valor já com a conversão cambial.

Para Celso Pereira, da Nomad, a forma mais vantajosa de investir e receber os proventos do exterior é fazendo a alocação diretamente via ações. “Os BDRs cobram do investidor brasileiro uma tarifa na forma de um porcentual dos dividendos pagos lá fora. Esse porcentual geralmente chega a 5% do total de dividendos, investindo diretamente no exterior, o cliente evita pagar”, explica.

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Outro ponto que merece atenção é a tributação. No Brasil, os dividendos são isentos de impostos, mas no exterior, não. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa cobrada chega a 30% sobre os rendimentos. Isso significa que se uma empresa anunciar um dividendo de US$ 1 por ação, o investidor vai receber US$ 0,70 por papel.

“Isso não tem nenhuma grande implicação para o investidor brasileiro, contando que ele entenda que vai receber 30% a menos”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.

O Fisco dos EUA recolhe o imposto diretamente na fonte, assim os investidores não precisam se preocupar. Basta ter ciência do pagamento dos tributos para não se assustar ao receber montantes abaixo dos anunciados pelas companhias. “Também não é preciso fazer nenhuma declaração especial para o governo americano, o investidor é um residente fiscal no Brasil e paga os seus impostos ao governo brasileiro”, acrescenta Alves.

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