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Alta no combustível eleva custos da aviação. Como ficam as ações?

Assim como aconteceu com a gasolina e diesel, o querosene de aviação subiu nas últimas semanas

Alta no combustível eleva custos da aviação. Como ficam as ações?
O setor aéreo foi um dos mais atingidos pela pandemia da covid-19 (Foto: Envato Elements)
  • Por meio de comunicado à imprensa, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas alertou que a alta no preço do combustível pode frear a retomada dos voos e encarecer o serviço
  • De acordo com os analistas, o aumento do custo pode reduzir a margem de lucro das companhias, o que pode impactar na performance dos papéis nas próximas semanas
  • Apesar de o cenário não ser positivo para as empresas, os papéis da Azul e da Gol performaram melhor no acumulado deste ano em comparação ao acumulado do primeiro trimestre de 2021

A guerra no leste europeu trouxe mais uma barreira para a perspectiva de retomada do setor aéreo no Brasil. Após dois anos difíceis devido aos impactos causados pela pandemia da covid-19, as sanções econômicas contra a Rússia por causa da invasão na Ucrânia elevaram o preço do combustível da aviação e aumentaram o custo do serviço no Brasil.

Segundo a avaliação de analistas, as companhias aéreas terão dificuldades de repassar essa alta para as tarifas, o que pode refletir de forma negativa no preço das ações nos próximos meses.

A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) demonstrou preocupação com o atual cenário. Por meio de comunicado à imprensa publicado no último dia 18, a entidade informou que a alta na cotação do petróleo pressiona ainda mais o preço do querosene de aviação (QAV), que já apresenta uma inflação de 76,2% no acumulado de 2021. O aumento nos preços pode encarecer ainda mais o serviço. “O consequente encarecimento do QAV nos curto e médio prazos poderá frear a retomada da operação aérea, o atendimento logístico a serviços essenciais e inviabilizar rotas com custos mais altos”, alertou a associação.

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Na avaliação de João Gabriel Abdouni, analista da Inv, a situação pode prejudicar o desempenho dos resultados das companhias durante o primeiro trimestre deste ano. O principal motivo apontado pelo especialista é a dificuldade das empresas em repassar o aumento do custo para os preços das passagens. “O cliente das companhias aéreas é sensível ao preço. Se o valor da passagem estiver muito caro, o passageiro olha outras formas de viajar”, afirma.

Por isso, Abdouni acredita que o preço dos papéis pode cair nos próximos meses. “À medida que o resultado da companhia mostrar o aumento dos custos e os analistas mostrarem margens (de lucro) menores o preço das ações deve cair”, projeta.

Ariane Benedito, economista da CM Capital, também concorda com a dificuldade das empresas em repassar os custos aos passageiros. De acordo com ela, a tarifa média dos preços das passagens das companhias aéreas brasileiras cresceu cerca de 10% (9,9%) de 2020 para 2021. No mesmo período, o custo de combustível para as empresas aumentou 43,34%. No entanto, ela avalia que há uma demanda reprimida pelos serviços que pode refletir positivamente nos preços das ações. “Eu acho que há uma visão positiva para as empresas desse setor porque o mercado está olhando para o dólar e para uma demanda reprimida que a gente ainda tem”, ressalta.

A redução da variação da moeda norte-americana é importante para as companhias porque parte das suas receitas são dolarizadas. Isso quer dizer que, se há uma redução no preço do dólar, os custos tendem a cair para as empresas. O preço do dólar caiu nas últimas semanas. Na quarta-feira (23), fechou cotado a R$ 4,84.

De acordo com Pedro Bruno, analista da XP, 55% dos custos das companhias são em dólar. Desse total, cerca de 30% a 35% são representados pelo combustível. No entanto, ele afirma que o alívio na variação de câmbio não será suficiente para amenizar o impacto da alta do combustível. “O aumento do combustível foi tão relevante que foi mais importante do que aconteceu com o câmbio”, ressalta Bruno.

Recomendação

Os primeiros meses do ano foram positivos para as companhias aéreas em comparação ao primeiro trimestre do ano passado. De acordo com os dados da Economática, os papéis da Azul (AZUL4) têm uma leve alta de 8,09% no acumulado deste ano, enquanto no ano passado apresentavam uma queda de 12% de janeiro a março de 2021.

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A melhora no desempenho das ações também foi vista nos papéis da Gol (GOLL4). No primeiro trimestre de 2021, as ações acumulavam uma queda de 21,3%. Já no acumulado de janeiro até o dia 23 de março deste ano, o recuo era de 4,69%.

Apesar dos ganhos em um período de um ano, Abdouni tem recomendação neutra para o setor. “Se você comparar com o Ibovespa, os resultados das empresas estão abaixo tanto nos primeiros meses de 2022 quanto no primeiro trimestre de 2021”, ressalta. Bruno também tem recomendação neutra para os dois papéis em virtude dos riscos próprios do setor e do atual cenário macroeconômico. “O desafio ficou maior para elas”, destaca.

A Órama Investimentos também tem recomendação neutra para os papéis da Azul mesmo avaliando que a companhia aérea possui um crescimento consistente. “A Azul se estruturou para explorar aeroportos com baixa demanda, utilizando aeronaves de porte menor (a maioria da Embraer) tendo em vista a redução do custo”, destaca Phil Soares, analista chefe da analista da Órama Investimentos.

Já a Guide Investimentos vai na contra mão das outras corretoras ao ter recomendação de compra para os papéis da Azul e da Gol. “A alta volatilidade do petróleo por conta do choque de oferta, mas foi anunciado pelas empresas um repasse do custo para as passagens aéreas, o que deve aliviar um pouco mais a margem”, explica Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos. O preço-alvo para Azul é de R$ 37, enquanto para a Gol é de R$ 20.

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