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Entenda o que está em jogo nos próximos passos da Americanas (AMER3)

Companhia precisar decidir se passará pela recuperação judicial, enquanto controladores negociam um aporte

Entenda o que está em jogo nos próximos passos da Americanas (AMER3)
Unidade Americanas Express. Crédito: Felipe Rau/Estadão.
  • O banco BTG iniciou uma guerra judicial com a Americanas (AMER3) após a varejista ganhar na Justiça um prazo de 30 dias para decidir se opta pela recuperação judicial
  • O imbróglio foi suficiente para jogar ainda mais lenha na fogueira no mercado brasileiro: nesta segunda (16), as ações da Americanas continuaram em queda
  • Até que novos detalhes da situação real da companhia sejam divulgados, muitos investidores têm preferido desmontar suas posições nas ações da varejista

A história do rombo de R$ 40 bi na Americanas (AMER3) está ganhando novos – e turbulentos – capítulos. O mais recente é a briga judicial com o banco BTG Pactual, iniciada depois que a varejista ganhou na Justiça um prazo de 30 dias para decidir se opta ou não pela recuperação judicial.

A companhia entrou com uma “medida de tutela de urgência cautelar”, que suspende a possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa, assim como adia a obrigação de pagamento de dívidas até que um pedido de recuperação judicial seja feito.

Quem não gostou da medida foi o BTG Pactual, um dos bancos mais impactados pelo rombo bilionário na Americanas. A instituição financeira tentou recorrer à iniciativa, dizendo que tratava-se do “fraudador pedindo às barras da Justiça proteção ‘contra’ a sua própria fraude”. O recurso foi negado pela Justiça;  veja detalhes aqui.

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O imbróglio foi suficiente para jogar ainda mais lenha na fogueira no mercado brasileiro: nesta segunda-feira (16), as ações da Americanas cederam mais 38,41%, cotadas a R$ 1,94.

A AMER3 derreteu 77,33% na quinta-feira (12), primeiro pregão após o fato relevante “mensageiro do caos”, mas subiu 58,8% na sexta-feira (13), enquanto ainda não se tinha notícias sobre a medida tutelar conquistada na Justiça. A variação negativa acumulada nos primeiros 16 dias de janeiro chega a 79,9%.

Recuperação judicial

A Americanas ganhou 30 dias para decidir se vai optar pela recuperação judicial. Trata-se de um processo garantido por lei, em que uma empresa em crise precisa apresentar um plano de recuperação e renegociação de dívidas para não ir à falência, enquanto ganha tempo para pagar o que deve a todos os seus credores.

“A recuperação judicial é o que a Americanas mais quer hoje em dia. E é certamente contra isso que o BTG está lutando contra, porque ele quer garantir o pagamento dele”, diz Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos. “Mas o fato é que se todos os credores executassem suas dívidas, a Americanas definitivamente iria falir. E é pra isso que serve essa lei”, explica.

Outras empresas brasileiras já passaram por um processo semelhante. Um dos caso mais recentes é da empresa de telefonia Oi, que conseguiu encerrar as negociações com credores depois de 6 anos. A recuperação judicial da companhia chegou ao fim em dezembro de 2022; a dívida da operadora caiu de R$ 65 bi para R$ 22 bi nesse período.

Na visão da XP Investimentos, esse é o caminho mais provável para a Americanas. Contamos nesta outra reportagem como será a batalha judicial que a companhia enfrentará a partir de agora.

Aporte de capital

Um outro caminho possível, que vem ganhando força no mercado, é o aporte de capital por parte dos sócios controladores da companhia, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. O trio é dono da 3G Capital, uma fundo de private equity controladora de companhias no Brasil, como Americanas e Ambev (ABEV3), e no mundo.

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Os acionistas de referência indicaram, na sexta-feira (13), que poderiam injetar R$ 6 bilhões na Americanas. No entanto, o montante foi considerado insuficiente pelos bancos, que avaliam que o trio precisaria aportar entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões para viabilizar uma capitalização que a varejista vai precisar fazer de forma urgente para se salvar.

O aporte é visto como uma operação fundamental para a sobrevivência da companhia. O próprio Sérgio Rial, executivo que passou menos de 10 dias como CEO da Americanas antes de renunciar, fez essa avaliação em teleconferência realizada logo após a divulgação do rombo contábil.

Na prática, para receber o aporte, a AMER3 precisará passar por uma operação de follow on, a oferta subsequente de ações a serem adquiridas pelos bilionários da 3G. Algo que não é tão positivo para os investidores minoritários na Bolsa, explica Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos.

“Isso trará uma perda grande para os atuais acionistas, porque haverá uma diluição patrimonial para os investidores, que serão donos de uma parcela menor da ‘nova’ e capitalizada Americanas”, diz Conde. “O preço de emissão das ações tende a ser bem menor do que o preço de Bolsa hoje para atrair mais investidores além do 3G”.

Na visão de Ricardo Brasil, da Gava Investimentos, o follow on poderia “destruir” o preço das ações, que já estão valendo menos do que R$ 2. “De regra, todo aumento de capital acontece a um preço muito abaixo do que as ações valem no mercado. Vide o que aconteceu com o IRB”, explica.

O investidor deve esperar ou pular fora?

Enquanto a Americanas ainda tem prazo para decidir se opta ou não pela recuperação judicial, e os bilionários da 3G negociam com os bancos um valor para fazer o aporte de capital na empresa, a tendência é que a sangria vista em AMER3 na Bolsa de valores continue.

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Até que novos detalhes da situação real da companhia sejam divulgados, muitos investidores têm preferido desmontar suas posições nas ações da varejista. O melhor caminho, na visão de Brasil. “O pequeno investidor, na minha opinião, realmente deveria considerar isso prejuízo e vender suas ações”, diz.

Esta também é a visão de Flávio Conde, da Levante. O analista destaca que as perspectivas para os acionistas ainda são “muito ruins” e, segundo ele, parece mais interessante vender com prejuízo e optar por ações de setores menos arriscados como energia elétrica e saneamento. “Não adianta o investidor pensar assim: ‘ah, estava R$ 12 foi para R$ 2,85, bateu R$ 3,41 e voltou para R$ 1,81 e agora não cairá mais, vou comprar’. Isso está errado e já vimos em Oi, por exemplo, que a ação pode ir abaixo de R$ 0,10 quando as dívidas crescem”, explica.

João Abdouni, analista da Inv, dá uma orientação mais cautelosa: como a ação já caiu demais, o melhor caminho para quem ainda tem AMER3 na carteira é esperar a reestruturação. No entanto, faz uma ressalva para o momento frágil do setor de varejo com os juros altos.

“Recomendo não ter uma posição muito grande nesse momento de alta. É melhor procurar empresas exportadoras, empresas de utilities, que são setores mais defensivos. O varejo é muito volátil e deu para perceber que o risco é alto”, afirma.

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