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Felipe Miranda: O investidor não deve manter as ações da Americanas (AMER3)

O CEO da Empirucus aponta os fatores que devem impactar o operacional da empresa e o reputacional da marca

Felipe Miranda é cofundador e CEO da Empiricus. (Foto: Divulgação)
  • O CEO da Empiricus faz uma ressalva sobre os riscos de quem decide navegar sozinho pelos mares turbulentos dos investimentos.
  • O economista é categórico ao explicar por que o investidor não deve ter Americanas na carteira
  • “Nesse momento, a incerteza sobre a Americanas é enorme. Muitos fornecedores já começaram a romper relações com a companhia e isso vai afetar o operacional da empresa, o reputacional da marca e do grupo controlador. Portanto, acho que o investidor não deve ter as ações da Americanas”

Felipe Miranda, cofundador e CEO da Empiricus, faz coro com o time de analistas que afirma que a Bolsa brasileira está muito barata e que esse começo de intensa volatilidade causada pelo combo posse do novo governo, ataques em Brasília e rombo no balanço contábil da Americanas (AMER3) pode significar oportunidade para os investidores. Para o economista formado pela USP e com mestrado em finanças na FGV, um típico ‘faria limer’, é possível sim garimpar boas opções em meio aos altos e baixos do Ibovespa.

“Recomendações básicas são buscar as empresas que dão lucro, bem estabelecidas há muito tempo, com balanço forte, baixa alavancagem e pagam dividendos razoáveis. Esse seria um primeiro caminho”, afirma.

No entanto, o CEO da Empiricus faz uma ressalva sobre os riscos de quem decide navegar sozinho pelos mares turbulentos dos investimentos. “Para o investidor pessoa física é muito difícil garimpar o que deve subir ou cair em um ambiente altamente competitivo, com equipes grandes e profissionais dedicadas a isso.”

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Felipe Miranda fala com conhecimento de causa. Começou a investir em ações antes de completar 18 anos por influência de seu pai, que operava bolsa já nos anos de 1990. Em 2009, fundou a casa de research independente Empiricus com os sócios Rodolfo Amstalden e Caio Mesquita. Na casa, hoje com 430 mil assinantes, mais de 40 analistas acompanham de perto as diferentes classes de ativos e produzem diariamente conteúdos para orientar os investidores.

O economista é categórico ao explicar por que o investidor não deve ter Americanas na carteira. “Nesse momento, a incerteza sobre a Americanas é enorme. Muitos fornecedores já começaram a romper relações com a companhia e isso vai afetar o operacional da empresa, o reputacional da marca e do grupo controlador. Portanto, acho que o investidor não deve ter as ações da Americanas”, diz.

Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, Felipe Miranda também fala sobre o que pode acontecer com as estatais como Petrobras (PETR4), Banco do Brasil (BBAS3), Caixa (CXSE3) e BNDES (BNDP-DEB53), e ainda, conta qual é a expectativa sobre o retorno dos IPOs na B3.

Confira os principais trechos da entrevista:

E-Investidor – Analistas afirmam que a Bolsa brasileira está muito barata e pode significar uma boa oportunidade de entrada. Como garimpar ações em meio ao caos?

Felipe Miranda – Para o investidor pessoa física é muito difícil garimpar o que deve subir ou cair em um ambiente altamente competitivo, com equipes grandes e profissionais dedicadas a isso. Recomendações básicas são buscar as empresas que dão lucro, bem estabelecidas há muito tempo, com balanço forte, baixa alavancagem e pagam dividendos razoáveis. Esse seria um primeiro caminho.

O que pode acontecer com as estatais no governo Lula 3?

Miranda – É difícil fazer uma previsão do que vai acontecer. Embora as pessoas achem que analistas e gestores fazem isso, o que é medido é a relação de risco e retorno. Nesse sentido, achamos o risco maior do que o retorno potencial dessas ações. É difícil até fazer contas de como vai ser a política de preços da Petrobras, Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES. Eles vão fornecer crédito subsidiado? Vão prejudicar o balanço em troca de uma política pública mais favorável ao pequeno produtor rural, se for o caso, por exemplo? Parece barato, mas aí fica caro, porque o lucro vai embora rapidamente. Diante desse tipo de risco, preferimos ficar fora.

Nesse momento, o investidor deve fugir da Americanas e quem tem a ação deve abraçar esse prejuízo?

Miranda – Nesse momento, a incerteza sobre a Americanas é enorme. Muitos fornecedores já começaram a romper relações com a companhia e isso vai afetar o operacional da empresa, o reputacional da marca e do grupo controlador. Portanto, acho que o investidor não deve ter as ações da Americanas. Comprar uma ação não é como um casamento. Você pode trocar por outra, ganhar dinheiro e seguir a sua vida a partir de uma nova oportunidade. Se você perdeu com a Americanas, você vai recuperar o investimento em outras.

Existe alguma outra ação do setor varejista que pode entrar nesse buraco deixado pela Americanas?

Miranda – A ação do varejo que gostamos hoje não é exatamente do mesmo setor. Os pares imediatos seriam Mercado Livre, Magalu e Via. Dessas, a nossa favorita seria Mercado Livre, quem mais se beneficia operacionalmente dessa história. Mas não é um setor o qual eu esteja tão animado, porque ele tem múltiplos altos. Ou seja, uma ação vale muito perante o lucro dela. Com as taxas de juros muito altas, que devemos ter por mais tempo, essas ações tendem a sofrer.

Eu gosto da ação da Arezzo, do varejo de vestuário. A empresa está entregando ótimos resultados e não é exatamente barata porque entrega muito lucro e o mercado sabe vai crescer muito. Se você quer jogar esse jogo de consumo, embora não seja um par exato para a Americanas, parece que Arezzo seria o melhor nome.

Qual a projeção da Empiricus para o Ibovespa até o fim de 2023?

Miranda – Nós não fazemos projeções como essa. Mapeamos vários cenários e damos o preço alvo com base nisso. Entendemos que a maior parte dos cenários embute um potencial de valorização significativo para a bolsa brasileira. O nível de preços hoje está em um patamar muito baixo, equiparado só ao ápice da Covid-19 em março de 2020, à quebra da Lemann no final de 2008 e à crise da Dilma de 2015, a maior recessão que já vivemos.

Todas as vezes que atingimos esse nível de preço, a performance subsequente da bolsa para dezoito meses foi muito boa. Me parece que estamos em uma região dessas. Não quer dizer que não tenha risco. Se o governo começar a ser muito intervencionista e heterodoxo, os juros vão para 15%, a economia entra em uma recessão, o desemprego explode, a inflação vem e o que parece caro fica barato e o que parece barato fica caro muito rápido. Existe esse risco. Tirando esse cenário, a bolsa parece muito barata.

As ofertas públicas de ações podem voltar neste ano?

Miranda – Elas devem voltar, principalmente quando os juros começarem a cair ou quando o mercado tiver maior convicção sobre o início da queda. Isso pode acontecer entre o segundo e terceiro trimestre, mas também não acho que haverá um grande interesse. Vamos ter algumas empresas que já estão com a oferta pública preparada. A janela já está fechada desde julho de 2021, então já tem um tempo na fila de espera.

Então está mais relacionado mesmo com a dinâmica dos juros?

Miranda – Sim. Além disso, se houver uma recessão brutal no exterior, a janela também continua fechada. Ainda assim, os últimos sinais do mundo são um pouco mais auspiciosos. A China está reabrindo e a inflação em queda, então parece que o cenário está mudando. Não é um céu de brigadeiro, mas o mundo melhorou um pouquinho. Com isso, e se o governo não fizer muita barbeiragem, teremos condição de retomar os IPOs esse ano.

E para quem está com apetite de olhar para o exterior, qual mercado está mais interessante agora?

Miranda – Nós ainda olhamos para a bolsa americana, apesar de estar cara para esse nível de taxa de juros, e a bolsa europeia, que teve uma performance estelar nos últimos 3 meses, contrariando todas as expectativas de que se achava que a Europa iria entrar em uma recessão iminente. Agora, não me parece que a bolsa americana ofereça uma super oportunidade, a não ser que a inflação e os juros caiam muito rápido, aí a coisa muda um pouco de figura. O crédito me parece mais atraente lá fora, com ativos como o High Yield Americano (fundo com exposição cambial de títulos privados), pagando entre 9 até 10% em dólar me parece um retorno bastante atraente.

Qual é a dica de ouro para um investidor?

Miranda – O grande clichê dessa história é a diversificação. Acho que o Ray Dalio resumiu isso em um vídeo dele de cinco minutos. Qual o Santo Graal dos investimentos? Mas ele diz que a pergunta correta não é qual ativo ter. A pergunta correta que o investidor deveria fazer, e é muito pouco atraente, é: “qual a diversificação certa”?. Acho que uma boa diversificação para atravessar este ano seria CDI, oportunidades de crédito em dólar, ouro e bolsa brasileira.